O silêncio dos intelectuais

 

 

Entre agosto e outubro deeste ano de 2005 vem acontecendo um importante debate sobre o papel do intelectual em tempos de incertezas. São ao todo 16 conferências que ficam disponibilizadas no site: www.cultura.gov.br/culturaepensamento/ , à medida em que vão sendo proferidas.

“Tempos de incertezas” tem uma abrangência muito grande, como o leitor poderá verificar no site acima mencionado, não tendo sido idealizado, portanto, para abordar a atual crise política brasileira. Não obstante, já está motivando questões atinentes ao assunto, atingindo principalmente os intelectuais de esquerda e, de modo especial, os intelectuais petistas.

Marilena Chauí, renomada filósofa brasileira, fez a conferência de abertura e provocou polêmica na intelectualidade brasileira justamente por abordar o silêncio dos intelectuais diante da crise política, atraindo sobre suas teses as críticas, já esperadas, dos intelectuais tucanos, inclusive do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que recomendou a Marilena Chauí que tivesse a “humildade de dizer que não entende de política”.

Dessa polêmica (para não dizer dessa arrogância), temos ao menos uma porta aberta para a discussão: se os intelectuais partidarizarem as suas visões de mundo, correm o risco de entrar na seara dos políticos, por via de conseqüência, deixariam de ser intelectuais para tornarem-se ideólogos. Por outro lado, se silenciarem correm o risco de perder a condição de intelectuais, uma vez que não estariam contribuindo para a compreensão da crise. Engajando-se são suspeitos, silenciando-se são omissos,; eis o dilema!

Dos políticos exige-se o raciocínio rápido, a resposta imediata, o arroubo no momento da defesa ou do ataque a um projeto. Daí a imunidade parlamentar.

Dos intelectuais exige-se a reflexão, ou seja, o pensamento amadurecido, o pensar sobre o pensado. Daí que a fala do intelectual não precisa necessariamente ser imediata, a rapidez de raciocínio não conta, vale a profundidade do conhecimento.

Existe uma diferença simbólica entre a cátedra e a tribuna. Na cátedra o intelectual é respeitado como pensador, e mesmo que não concordemos com a sua visão de mundo, somos levados a respeitar as suas idéias porque são desenvolvidas com método. Na tribuna o intelectual recebe um outro olhar, é visto como quem, de forma pragmática, procura convencer aos demais acerca de determinado projeto político. Aos olhos do povo o intelectual é respeitado, o político, banalizado, mesmo que fale a verdade em favor da justiça.

Talvez por essas razões os intelectuais silenciem. Mas, diante das mudanças vertiginosas que ocorrem no mundo contemporâneo, diante da avalanche de informações que são produzidas simultaneamente com os acontecimentos, talvez seja o caso de se passar a exigir dos intelectuais respostas mais rápidas, sem prejuízo no rigor metodológico de suas conclusões.

Mas, nesse momento, apenas aos intelectuais deveriam ser endereçadas as críticas? Se exigirmos dos intelectuais mais rapidez sem perda de rigor, não seria o caso de cobrarmos dos políticos mais rigor, sem perda da rapidez?

E por que só intelectuais e políticos devem ser criticados? E os jornalistas, os sindicados, o eleitor, como ficam?

A cada qual segundo as suas responsabilidades, aos jornalistas, por exemplo, intelectuais ou não, teríamos que exigir, além da rapidez e do rigor, a imparcialidade. E não me digam que o rigor já indica imparcialidade, porque posso ser rigoroso em um caso, e não em outro.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br