Fábulas: onde vais marido meu? / a morte em forma de perua

 

Wilson Valentim Biasotto*

31/7/99

 

Continuando a série de fábulas italianas que lhes escrevo, graças a memória de minha mãe, contar-lhes-ei hoje duas, por abordarem a mesma temática. Ambas referem-se a mulheres que foram testadas por seus respectivos maridos no que diz respeito à sinceridade de seus atos.

Onde vais marido meu? é a história de uma mulher que jurava amar seu esposo além de todas as coisas. Nas trocas de juras dizia que desejava mil vezes que a morte a levasse primeiro, pois não resistiria ficar só no mundo.

Um dia o marido perguntou-lhe o que ela faria se a morte o escolhesse antes dela, mas a mulher negava-se a responder e dizia que não queria sequer imaginar tal situação. Depois de muita insistência, admitiu que se a desventura lhe fizesse tal mal ela o vestiria com o melhor terno, para ser enterrado, entretanto duvidava que resistisse a tanta dor.

Belo dia, para testar a mulher, o marido fingiu-se de morto. Na hora de vesti-lo, para colocá-lo no caixão, a mulher foi ao guarda-roupa e pegou o melhor terno, mas logo se arrependeu, pegou outro, mas achou-o muito novo e foi repassando todas as roupas do marido e mesmo as mais surradas lhe pareciam boas demais. Resolveu, finalmente, envolver o corpo do finado com uma rede de pesca, afinal, pensou ela, já que ele gostava tanto de pescar, a rede poderia ser-lhe boa mortalha.

Dito e feito. Terminado o velório, na hora das últimas despedidas, a mulher, em pranto copioso, entre soluços, lamuriava-se perguntando: onde vais marido meu? Onde vais marido meu?

Vou pescar vagabunda, respondeu o marido, pondo-se de pé para espanto de todos.

A outra fábula, a morte em forma de perua, tem os mesmos ingredientes: um casal que vivia trocando juras de amor eterno e cuja mulher afirmava querer ser a última a morrer porque não suportaria viver sem o marido.

O esposo, desejando comprovar se a mulher lhe era sincera, meteu-lhe na cabeça que a morte se assemelhava a uma grande ave, portanto que não se assustasse quando ela viesse busca-la.

Estando convencido de que a mulher acreditara nessa história, depenou uma perua e colocou-a no lado da cama em que a mulher dormia. Deitou-se no seu lado e aguardou.

Quando a mulher acordou e viu a “morte” ao seu lado, não teve dúvidas em repetir baixinho: “leve ele, leve ele”.

 *O autor é doutor em História Social

pela USP e diretor do Câmpus de Dourados da UFMS

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br