Fugimorização à brasileira

 

Wilson Valentim Biasotto *

22/01/97 21:55

 

 

Quando vejo pela televisão, a propaganda para a reeleição do presidente FHC, especialmente aquela em que aparece uma mão em verde e amarelo, fazendo um v da vitória, lembro-me da trajetória de Collor de Mello.

Impressionam-me, aliás, as muitas semelhanças existentes entre ambos. Collor tinha um ar tão autoritário que eu jamais entendi porque a grande maioria do povo brasileiro estava decidida a elegê-lo, como de fato o fez. FHC também não deixa de ter um jeito autoritário embora sua expressão fisionômica não o demonstre de forma tão acentuada quanto Collor. Mas que não lhe desviem o rumo de seus interesses que ele logo mostra as mangas, como fez com diversos deputados que ousaram colocar-se contra o seu sonho de reeleição.

No que diz respeito a moralidade e a ética no trato da coisa pública a diferença que os separa não passa de detalhes. É verdade que o grupo de FHC por possuir uma visão mais ampla e não ser composto de gente tão vulgar, cerca-se de uma aura de respeitabilidade, todavia os meios utilizados para aprovar os seus intentos são tão condenáveis quanto quaisquer outras práticas ilícitas. Haja vista o balcão de negócios aberto escancarada e desavergonhadamente para a aprovação de várias emendas constitucionais, inclusive para a sua própria reeleição.

Collor era mais provinciano e o seu grupo de apoio não percebeu que quem os pôs no poder tinha um projeto de longo prazo para ele. Talvez, se tivesse pensado em permanecer vinte anos no poder, como pretende o PSDB, não teria sido tão ávido de metal sonante, não teria ido com tanta sede ao pote e, em conseqüência, poderia ter evitado a cassação.

Ambos são vaidosos ao extremo. Locupletam-se com o poder. Collor, entretanto, contentava-se com uma cascata na casa da Dinda, FHC quer mais, muito mais, quer tornar-se presidente vitalício.

Mas não pensem os leitores que me engano pelas aparências: além, muito além da vaidade pessoal de FHC, existe o Consenso de Washington, que quer implantar aquilo que eles chamam de globalização e nós chamamos de neoliberalismo.

Fiquemos atentos. Tentar-se-á impor a prorrogação do mandato presidencial a qualquer custo. Mesmo se o PMDB conseguir reencarnar o espírito do velho MDB e fazer com que os seus quadros votem contra a reeleição, eles tentarão o plebiscito, tendo por arma o real. Se o plebiscito não passar farão o que for possível. Assim foi no Chile, na Argentina, no Peru e assim será no Brasil, se nosso povo não abrir os olhos em tempo.

 

O autor é doutor em História Social pela

USP   e    professor   do   CEUD/UFMS

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br