Wilson Valentim Biasotto *
8-jul-97
1971, indignei-me quando o gerente do banco disse-me que o financiamento não mais sairia. Eu já havia fechado o negócio, comprara um fusca 61 e deveria entregar o dinheiro no dia seguinte. Pior ainda, havia assumido uma escola rural e sem o carro não poderia iniciar minha nova profissão. Os argumentos de que os empréstimos para financiamentos tinham sido fechados minutos depois da promessa não me convenceram. Exerci com todas as forças o meu direito de espernear até que, por fim, não sei como, talvez por ter explicado a situação para o superintendente, o gerente manteve a sua palavra e concedeu-me o financiamento.
Ah! que belo, o meu fusquinha 61! A cor não poderia ser outra: verde, verde que é a cor da esperança. Idade? Ora, os seus dez anos não se mostravam na lataria, nem no motor; enfrentava poeira e barro, passava por poças d’água enormes e seguia adiante. Só entregou os pontos ao final do ano, ficou três dias no estaleiro para “fazer” o motor. Mas, nessas alturas, o ano escolar já estava no fim e a prova inequívoca de que o meu fusquinha levava-me e trazia-me com regularidade é que fui merecedor de uma recompensa da diretora que nem me descontou essas faltas.
Aos sábados, quase sempre com a ajuda de meu irmão, eu cuidava de sua aparência; lavava, polia, tirava a poeira dos bancos, areava com bom-bril a antena e os pára-choques. Mas não pensem que eu fosse um escravo do carro, ele é quem se sujeitava: sofreu com a distância que tinha que amargar todos os dias - duzentos e quarenta e quatro quilômetros de ida e volta - sofreu com as estradas de terra, sofreu com a imperícia de um motorista principiante.
Menos de trinta anos se passaram! As fábricas de automóveis no Brasil aumentam anualmente. A produção de carros bate recordes. Praticamente todas as marcas existentes no mundo ou já se instalaram ou têm projetos de instalarem-se em nosso país. Governos oferecem incentivos para atrair essas fábricas para os seus respectivos Estados, em nome da geração de empregos.
Enquanto isso, na Inglaterra, o governo contrata milhares de trabalhadores para ampliar ainda mais os quatrocentos e vinte quilômetros de metrô que serve Londres. E isso não é obra do governo trabalhista que ora se iniciou, mesmo durante os dezoito anos de neoliberalismo de Tatcher e Major a Inglaterra jamais deixou de oferecer transporte coletivo de boa qualidade aos seus cidadãos.
Saudade de meu primeiro fusca? Tudo tem a sua época, foi bom, mas que o carro ainda vai se tornar o inimigo número um do homem, isso vai, a menos que mudemos radicalmente a política de transportes nesse país.
*O autor é doutor em História Social pela
USP e diretor do CEUD/UFMS
A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.
VoltarSer convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria
A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.
Abrir arquivoNossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.
Abrir arquivoO livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.
Abrir arquivoEsta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política
Abrir arquivoEsse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.
Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.
Abrir arquivoMomentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.