Soluções para a floresta tropical

 

Wilson Valentim Biasotto *

12-mai-97

 

Um dia escrevi sobre as eleições realizadas no Reino da Floresta Tropical, depois sobre as nomeações, hoje escrevo sobre as soluções encontradas pelo rei Leão para resolver uma das questões mais cruciais existentes em seus domínios: a falta de recursos.

Deitado na relva fresca, sob árvore frondosa, fazendo a sesta, pois ninguém é de ferro, rei leão, entre um cochilo e um arroto, pensava em como superar as dificuldades financeiras do reino.

Seu primeiro pensamento foi no sentido de arrochar um pouco mais a situação dos bichos de classe média, aumentando-lhes os impostos. Desistiu por saber que já não havia classe média em seu reino. Os pobres, por sua vez, já eram miseráveis. Que fazer?

Poderia acabar com a corrupção reinante, todavia isso significava torpedear toda a estrutura que, em última análise, o elevara e sustentava no poder. Rei Leão chegou mesmo a pensar em diminuir o número de ministros e cortar-lhes os privilégios, mas superou rapidamente esse seu estranho pensamento. Sem seus áulicos nem rei seria.

Já estava desistindo de procurar soluções quando seu ministro macaco trouxe-lhe à presença um bicho parecido com uma raposa. Diferia das raposas do reino porque estava bem gorda, tinha os pelos reluzentes e os olhos pequenos, ligeiramente oblíquos e que se dizia de um país muito distante.

Dona raposa, sem perda de tempo, foi logo ao assunto: desejava comprar uma árvore daquela floresta, inexistente em seu reino.

Rei Leão pediu um tempo. Mandou hospedar dona raposa com todas as honras e pôs-se a arquitetar um plano. Uma árvore? Que me adianta vender uma árvore? É certo, pensava o rei, que podia vender muito caro, afinal a árvore desejada era um mognum, uma árvore rara. Mas esse caro acabaria sendo pouco para resolver os seus problemas.

Pensando, pensando, rei Leão animou-se e convocou uma reunião extraordinária com seus ministros. Expôs-lhes sucintamente a situação: o reino acumulara enorme dívida interna e não menor dívida com outros reinos vizinhos; dos bichos subalternos já não tinha mais nada a tirar. Que fariam?

Com calma, usando palavras brandas foi argumentando e, ao mesmo tempo dando forma à seguinte proposta: venderiam a árvore desejada, mas para não terem trabalho em localizá-la venderiam também metade da floresta. Como a floresta era grande e eles não tinham tempo de verificar o que de fato havia, junto com a árvore e com a floresta, venderiam tudo o que se encontrasse em seu interior.

Mas não pense o leitor que Rei Leão e sua Corte eram bobos. Ao proporem a venda de todas as coisas que se encontrassem no interior da floresta tinham pensado em mandar para lá todos os bichos sem dentes, sem tocas, sem-cascos, sem comida, sem educação, enfim, todos os incapazes, frágeis, inoperantes, que eram, em última análise os verdadeiros responsáveis pelo precário estado do Reino.

Menos boba era a embaixatriz Raposa que viera disposta a pagar 2 tostões por um único mogno e acabou comprando meio reino por três.

 

*O autor é doutor em História Social pela

USP   e    diretor  do   CEUD/UFMS

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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