Faltava o fosso

 

Wilson Valentim Biasotto *

7 Ago. 98

 

A escolha dos reitores das universidades públicas federais se dá através do encaminhamento, ao ministério da educação, de lista tríplice, constituída através de eleições dentro da instituição. Legalmente o presidente da república tem o direito de escolher, para reitor, qualquer um dos nomes indicados na lista tríplice, todavia, desde o fim da ditadura militar, é costume indicar-se o primeiro colocado.

Recentemente, entretanto, o presidente quebrou essa tradição deixando de nomear para reitor da UFRJ o prof. Aloisio Teixeira  que obteve esmagadora maioria dos votos, optando pelo terceiro colocado, José Henrique Vilhena.

Duvido muito que os telejornais estejam noticiando, mas estudantes, professores e funcionários da UFRJ, indignados com esse ato, ocupam a reitoria daquela universidade, impedindo a entrada do reitor nomeado. Um jornal, a Folha de São Paulo, qualificou de “estudantada grosseira” aos que tentam impedir a posse do novo reitor. Este conceituado jornal esqueceu no entanto de esclarecer que a atitude do governo é, no mínimo, provocativa. Não bastasse ter levado os docentes do ensino superior a uma greve nacional, procura agora minar a democracia que se vinha conquistando no meio acadêmico.

Atitudes dessa natureza são autoritárias e retrógradas e só se tornaram possíveis graças a perigosa união do centro e da direita em torno da figura de Fernando Henrique. Sem contarmos o perigo nazi-fascista que ronda nessas circunstâncias, essa união transforma o presidente em verdadeiro déspota que poderá inclusive reeleger-se. Recursos não faltarão e nem uma imprensa seduzida, capaz de agigantar pequenas boas obras e encobertar as grandes más ações.

Por outro lado a recente declaração do ministro do TSE, Ilmar Galvão, de que a eleição de FHC em primeiro turno facilitaria o trabalho da justiça eleitoral, longe de ser uma frase fortuita ou um destempero verbal, mostra de que lado esta a justiça eleitoral. Essa posição, aliada aos sonhos de políticos governistas, de implantarem o parlamentarismo, gera a expectativa de FHC vir a ser primeiro ministro.

Pobres Braganças que acalentam o sonho de restaurar a monarquia no Brasil para recolocarem a coroa na cabeça de um herdeiro de D. Pedro II. Se esses sonhos de reeleição e de parlamentarismo se realizarem, o monarca haverá de se chamar Fernando, já conhecido como príncipe dos sociólogos. Princesa também já a temos há alguns dias: é Sasha de Xuva.

Vivemos um outro samba do crioulo doido. A princesa, que poderia ter sido filha de rei (do futebol) e de rainha (dos baixinhos), nasce bastarda, sem poder pleitear, por via de conseqüência, a sucessão do rei Fernando. Mas isso pode mudar, estamos no Brasil, o país onde tudo é possível, até mesmo a execução do projeto de um conde gordo, conhecido por Toninho Malvadeza, que prevê  a abertura de um fosso para proteger a distinta nobreza palaciana.

Protejam-se nobres desse medieval país! A plebe vagabunda e neo-boba poderá adentrar em seus palácios com seus fedores característicos, seus jeitos rudes e suas vontades primitivas de alimentarem-se.

 

O autor é doutor em  História Social

 pela USP e diretor do CEUD/UFMS

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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