Ramez e Renan

 

Wilson Valentim Biasotto *

 

Não me arrependo de ter saído, por esse mundo afora, fazendo palestras, na época do impedimento do presidente Collor. Confesso, entretanto, que foi muita ingenuidade a minha, para não dizer burrice, ter me limitado apenas em explicar o que vinha a ser o impeachment e contentar-me com a cabeça do presidente.

Collor caiu, é verdade, mas não caiu o seu programa de governo. PC foi perseguido, preso, morto, mas se o julgamento divino for por comparação, com aquilo que ficou em seu lugar na terra, ele estará com certeza no mais alto dos céus.

Ah! como é possível ter me esquecido de ensinamentos tão elementares, como aqueles que vinham embutidos nas histórias contadas no grupo escolar. Lembra-se o leitor daquela do cesto de maçãs, em que uma maçã podre acabou fazendo com que apodrecessem todas as demais? E daquele ditado antigo, “diz-me com quem andas e eu te direi quem és”, repetido tantas vezes por nossos pais e mestres quando saíamos de casa?  Pois é! Quer Collor e PC fossem as maçãs estragadas quer fossem as boas, estando no mesmo cesto seriam virtualmente igual a todas as outras: podres.

O apodrecimento não é instantâneo. Do cesto podem ser salvas muitas frutas sadias, mesmo que tenham ficado uns tempos com as podres. E nesse caso específico entendo que a rejeição ao senador Ramez Tebet para a pasta da justiça acabou sendo um bem para ele próprio. Explico-me: ser-lhe-ia difícil tirar as maçãs podres do cesto e assim, ao menos, o senador por Mato Grosso do Sul não se acomoda no mesmo ninho, cada vez mais collorido por interesses reeleitoreiros.

E que não estranhem os meus companheiros de partido se com essa crônica procuro preservar a imagem de honestidade de um homem público mesmo sendo-lhe contrário  ideologicamente. Nesses tempos bicudos é salutar cultivarmos as virtudes existentes mesmo daqueles que não lêem em nosso breviário.

 

Quando vim para o Mato Grosso, os amigos diziam para me precaver em relação a lei do 44. Pura lenda, respondia eu, a fama do Mato Grosso, como terra sem lei, era fruto de um imaginário longínquo, gerado durante a colonização, que insistia em permanecer vivo. Talvez estivesse certo, mesmo porque hoje, depois de vinte e quatro anos em Dourados, penso que se está construindo um novo imaginário de terra sem lei que também permanecerá vivo durante muito tempo.

Há vinte anos os mortos encontrados pelas estradas eram pessoas sem nome, gente que, se dizia, estava ligada ao tráfego. Num passado mais recente os cadáveres começaram a ser identificados, todavia não passavam de desconhecidos, talvez marginais ou dependentes. Agora

 

 Wilson Valentim Biasotto

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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