A Ordem é privatizar

 

Wilson Valentim Biasotto*

                                                                                           24-maio-96

 

A Assembléia Legislativa do Estado aprovou (na semana entre 13 e 18 de maio), Projeto de Lei que autoriza o governador Wilson Barbosa Martins a privatizar empresas públicas. Gostaríamos, nesse espaço, de discutir alguns aspectos dessa onda de privatizações que se alastra por todo o país nesses tempos de globalização. Mesmo porque não conseguimos enxergar um único motivo plausível que justifique a venda pelo Estado de empresas financeiramente saudáveis e que estão cumprido satisfatoriamente o seu papel social, como a Enersul, Sanesul, Telems e por aí afora.

Alegar, portanto, que tais empresas não são boas é inaceitável; afirmar que não são lucrativas é inadmissível e, finalmente, dizer que o Estado precisa tornar-se mais enxuto para poder cuidar melhor da educação e saúde, é deslavada mentira. As privatizações, se de fato ocorrerem, deverão ser justificadas por uma única alegação: o Estado está endividado. Isso é certo e, para poder rolar as suas contas, o governo federal exige a política de privatizações que, por sua vez, lhe é imposta pelo chamado Consenso de Washington.

Resta saber se dispor do patrimônio é o caminho para sair da crise?

Não cremos. Lembremo-nos de que Mato Grosso do Sul é um Estado novo. Tem pouco mais de 15 anos. Quando foi desmembrado de Mato Grosso não ficou devendo um único centavo e herdou um patrimônio enorme, inclusive Enersul, Sanesul e Telems. Nasceu para ser modelo e, em pouco tempo está endividado. Endividado por más gestões administrativas, por malversação do dinheiro público. Portanto, vender tudo para pagar dívida não é a saída.

Em primeiro lugar porque bastaria que se repetissem mais algumas gestões ruins, mais 15 ou 20 anos de administrações equivocadas, como tivemos até agora, para que a dívida voltasse a ser enorme e, pior, sem que tivéssemos mais o nosso patrimônio, construído por gerações e gerações. Em segundo lugar porque o nó da questão está na política de juros exorbitantes imposta pelo governo neoliberal de FHC e não no desempenho propriamente dito das estatais.

Enquanto o processo de privatização da Enersul e de outras estatais matogrossulenses estão em fase inicial de encaminhamento seria bom que refletíssemos num exemplo recente de privatização: o caso da Light. Essa empresa foi comprada pela companhia Francesa de Eletricidade, ou seja, a estatal brasileira foi adquirida pela estatal francesa. Se as estatais são ruins, como explicar que um país, sabidamente muito mais desenvolvido que o nosso, possa mantê-las e até expandi-las internacionalmente?

Lamentavelmente a sociedade não dispõe atualmente de nenhum mecanismo para impedir, por bem ou por mal, essa dilapidação do patrimônio público. Resta-nos apenas a vaga esperança de que o governador Wilson Barbosa Martins reveja sua postura e não deixe aberta a possibilidade de uma estatal paraguaia, boliviana, japonesa ou francesa vir a comprar o que temos de melhor.

 

*O autor é doutor em História Social pela

USP e professor no CEUD/UFMS

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br