O fim de outra novela brasileira

 

Wilson Valentim Biasotto *

4-jul-96

 

 

Apesar de não ter o hábito de acompanhar novelas, confesso que não deixo de dar umas bisbilhotadas nos finais de algumas delas. “A próxima vítima”, que prendeu a atenção de quase todos os brasileiros que possuem um aparelho de TV, acabou de forma inédita: ninguém sabia, até o momento da gravação, quem era o assassino. Uma tática realmente magistral. Não pensem, entretanto, que essa novela não poderia ter um outro desfecho. Dizem em alto e bom som que ela foi negociada com uma televisão portuguesa e que, ao ser levada ao ar em Portugal, terá um outro final para não perder a graça.

Também com finais diferentes ocorre-me aquela novela da viúva Porcina: “Roque Santeiro”. Quem não se lembra? A globo gravou duas versões e acabou levando ao ar aquela que, segundo pesquisa, mais encantava ao público, ou seja, a viúva ficou com o sinhozinho Malta por companheiro. Somente no dia seguinte, e com elevadíssimo índice do IBOPE, mostrou a segunda versão. Foi também uma tirada genial.

Agora está acabando uma das mais sensacionais novelas já vistas neste país e cujo nome é simplesmente: “Quem matou PC?” O episódio, que envolveu política, suborno, corrupção ativa e passiva, belas mulheres e toda a espetacular encenação da derrubada de um presidente, acabou de forma trágica: dois corpos sem vida sobre a cama de uma alcova. 

Acabou. Mas ao invés de duas, acabaram ficando pairando no ar três interpretações distintas sobre o desfecho do caso: crime passional, assassinato em família e queima de arquivo. Todo brasileiro já escolheu uma das duas últimas versões e a polícia alagoana a primeira. Afinal, seria uma grande chatice não se ter opções múltiplas, coisas de gente sem criatividade.

Alguns incrédulos, ou ingênuos, ainda podem pensar que existam esquemas de corrupção idênticos no Brasil. Imaginem! O presidente chefe da quadrilha foi cassado, o tesoureiro-mor assassinado. Brindemos a essa neobrasilianidade com uma boa dose de sicuta e embriaguemo-nos com as perspectivas que se abrem de termos doravante um país sem corruptos e sem corruptores. Polícia eficiente já temos, mas o Estado da Federação que se sentir inseguro que importe das Alagoas.

 

*O autor é Doutor em História Social

pela USP e professor no CEUD/UFMS.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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