Quem gosta de greve?

 

Wilson Valentim Biasotto*

 

Primeira greve: 58 ou 59, nem sei ao certo. Tinha onze ou doze anos e participei sem ter plena consciência daquele movimento, sei que alunos mais velhos e politizados conseguiram colocar a pequena cidade de Itápolis de pernas para o ar, objetivando tirar três professoras de sala de aula. Desde então temos testemunhado muitas greves e até mesmo participado de várias delas.

A primeira greve é algo como um primeiro amor: a gente nunca esquece. E, de fato, lembro-me muito bem da minha experiência nesse campo. Era um garoto ingênuo que cursava a primeira série ginasial (hoje quinta série), em Itápolis,  quando, no Instituto de Educação Valentim Gentil, os alunos resolveram dar um bota-fora em três professoras. O Valentim Gentil era enorme, uma espécie de Escola Presidente Vargas aqui em Dourados. Meu pai acompanhou-me, queria que eu assistisse às aulas normalmente.

Duas quadras antes de chegarmos fomos abordados por uma comissão de alunos veteranos. Eram moços feitos, cursavam o que corresponde hoje ao segundo grau (Científico, Clássico e Normal naquela época). Não me recordo dos argumentos usados, sei entretanto que voltamos para casa e eu só retornei à escola quando as professoras foram definitivamente afastadas. Minha participação nessa greve foi a de um estudante completamente alienado. Nem sequer sei com certeza os motivos do repúdio às professoras. Parece-me entretanto que um dos motivos era a defesa que faziam da Teoria Evolucionista, de Darwin. Sei que a Igreja esteve ao lado dos alunos, o que sem dúvida, contribuiu para a vitória dos grevistas.

A partir de então participamos de muitas greves, inclusive da primeira realizada pelo magistério de Mato Grosso do Sul em 1981. Quem nos viu percorrendo todo o sul desse Estado, ao lado do Moretti, Biffi, Sultan, Tetila, Euzébio Barrios, e tantos outros companheiros, podem testemunhar o nosso entusiasmo na defesa do direito de greve. Isso entretanto não significa dizer que gostássemos de fazer greve. Nós tínhamos, na época, esgotado todos os nossos argumentos em defesa da valorização do magistério. Desde 1978 tentávamos obter algum avanço junto aos governantes sem que tivéssemos êxito. A greve foi, portanto, um recurso extremo.

Muitas outras greves se sucederam no magistério público estadual. E no Ceud as coisas não foram diferentes. Chegamos a fazer uma greve inclusive para que o reitor contratasse professores. Isto também porque embora houvéssemos demonstrado a necessidade das contratações não fomos atendidos.

 

*O autor é doutor em História Social pela

USP e professor do CEUD/UFMS

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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