A Câmara e a Guerra Civil

 

Wilson Valentim Biasotto *

17/05/01

 

Ao selecionar para minha leitura, o  ensaio de Roberto Pompeu de Toledo, "Razões para amar o Congresso", publicado na Revista Veja de 9 de maio de 2001, minha assessoria trouxe-me, em momento oportuno, algumas respostas para questões que me angustiavam desde que assumi uma cadeira no Legislativo Douradense.

No ensaio supra referido o autor discute alguns paradoxos, por exemplo, um senador dizer "O nobre vereador está mentindo". Como um senador pode ser ao mesmo tempo nobre e mentiroso?

O autor conclui que o Parlamento é "em última análise, a alternativa civilizacional à guerra civil" ou, em outras palavras, "a sublimação da guerra civil".

Tais afirmações, que podem soar pesadas numa primeira análise, parecem-me prenhes de razão. Nos idos de 78 eu mesmo testemunhei uma desavença mais acirrada entre dois vereadores locais quando um deles não pestanejou em dizer ao colega: "Vossa excelência é um idiota".

A atual legislatura não chegou a esse nível, no entanto vários temas já provocaram discussões tão acirradas que, não fora o estágio civilizatório da edilidade e as normas regimentais, poderiam ter acontecido algumas escaramuças entre as várias facções do Legislativo Douradense.

E se não houvesse a Câmara? Provavelmente os confrontos se dariam nas ruas.

Tomemos apenas três exemplos, creio os mais significativos, a título de exemplificação: a discussão sobre a abertura dos mercados aos domingos; a proibição da Prefeitura Municipal patrocinar eventos similares, quando da realização da Expo-Agro e a defesa da antiga e da atual administração de Dourados pelas bancadas antagônicas.

Sobre a abertura dos mercados aos domingos as discussões foram acirradas e acabou prevalecendo a idéia de horário livre, mas com a limitação de que os mercados devem cerrar suas portas aos domingos. No entanto não podemos negar o elevado grau de polêmica que cerca o tema. Não fora a ação da Câmara como se enfrentariam comerciários e comerciantes?

No caso da Expo-Agro parece haver unanimidade quanto a importância de tal acontecimento. A "guerra" foi travada no que diz respeito a propositura de que o Executivo não deve patrocinar nenhum evento similar dez dias antes e durante o evento. Um grupo de vereadores aprovou a idéia, outra julga tal proposta provinciana. Eu, particularmente ofereci ao propositor da matéria a pecha de corporativista retrógrado.

Na defesa e/ou ataques à antiga e atual gestões administrativas a "guerra" se acentua. Já ouvi e li coisas a respeito de meu grupo político e acusações à minha própria pessoa que não concordo e muito menos gosto. No entanto, penso que, da mesma forma, muita gente não goste do que falo. É a "guerra civilizada". Não fosse ela, os grupos que representamos na Câmara, na Assembléia, no Senado, provavelmente estariam se digladiando nas ruas.

Não nos esqueçamos de que a guerra não é constante, existem também os momentos de trégua, como quando se discute, por exemplo, o Projeto da Cidade Universitária de Dourados, para mim, o maior projeto da região e que deve mesmo continuar merecendo a união de todos.

No entanto, que fique muito claro, defender o Parlamento não significa defender a todos os parlamentares que lá tomaram acento, portanto, as considerações feitas estão longe de esgotar tema.

 

O autor é doutor em História Social

pela USP, professor da UFMS/ Dourados

e  vereador pelo PT em Dourados.

                                                                         

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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