As barricadas de Gotemburgo

 

Wilson Valentim Biasotto *

douradosnews 16/06/01

 

Gotemburgo não terá para os historiadores do futuro a importância que teve a batalha de Adrianopla, na Antiguidade; Crécy, na Idade Média; ou muito menos da Revolução Francesa, na Idade Moderna e da Revolução Russa de 1917, na Época Contemporânea, em comparação às transformações que essas batalhas operaram. Com certeza  Waterloo, Pear Harbor e tantos outros combates mais antigos serão melhor lembrados. No entanto as manifestações de Gotemburgo, tanto quanto as de Quebec e Seatle constituem-se em marcos importantes para  a demonstração do descontentamento que toma conta dos principais centros capitalistas do mundo em relação ao neoliberalismo.

Gotemburgo! Em toda a nossa vida jamais ouvimos falar de Gotemburgo. Agora quando vemos, estampada nos jornais, fotos de uma barricada feita com móveis, ardendo em chamas, descobrimos que essa pacata cidade fica na Suécia e que, durante o encontro de líderes da União Européia, houve uma verdadeira batalha, com 12 horas de duração, entre policiais e cidadãos anticapitalistas, deixando um saldo de 30 pessoas feridas e mais de 600 que foram presas.

Manifestações anticapitalistas nos principais centros capitalistas? Sim, porque além de Seatle, Quebec e Gotemburgo, são comuns manifestações dessa mesma natureza em Londres e Paris, por exemplo. Chegamos a pensar que o mundo esta girando de ponta-cabeça. Os que deveriam protestar veementemente contra a exploração neoliberal parecem anestesiados. Que fazem os africanos, os asiáticos e latino-americanos, que estão sendo arrastados violentamente para a linha da miséria? 

E nós, brasileiros em particular? Até quando suportaremos tantos saques? Primeiro os portugueses, mais tarde os ingleses, depois os norte-americanos e atualmente conseguimos a façanha de nos deixarmos explorar por todo o mundo, desde que nos ofereçam 30 moedas em dólar para comprarem nosso patrimônio. Foi-se o nosso ouro, grande parte de nossas reservas de matéria prima, foram-se as nossas estatais e agora vão-se embora, religiosamente, 60% daquilo que produzimos, em pagamento de juros de uma dívida extratosférica.

"É chocante a resignação do brasileiro", diz o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, ganhador do prêmio Jaboti, entregue na última Bienal, na categoria Ciências Humanas e Educação. Se é certo que o mundo todo passa por um processo de despolitização, é surpreendente como no Brasil isso chega as raias da resignação, completa o autor com suas palavras.

Boaventura, ao fazer essas declarações, e tendo como pano de fundo a ameaça de apagões, avaliou que somos levados à insegurança e por ela rendidos, sem que haja contestação social.

Sem discordar do ilustre sociólogo português vamos mais longe. Cremos que muito além da insegurança, o governo FHC está nos submetendo a uma propaganda neofascista extremamente condenável. Exemplificaremos nossa afirmação comentando sobre dois comerciais que podem ser vistos pela televisão.

Em um deles o ator, parafraseando antiga música carnavalesca, canta para que não chova. A propaganda, enquanto mostra o negativismo, é apresenta em cor vermelha, a cor dos partidos de esquerda, como se eles torcessem para o quanto pior melhor. No segundo comercial um vizinho surpreende outro com a luz acessa em pleno dia. A cara do ator reflete a sentença: a culpa é sua.

Percebe o leitor? Ou a culpa é nossa, ou é dos partidos de esquerda ou, na melhor das hipóteses, é de São Pedro, que não manda as chuvas necessárias para o funcionamento de nossas usinas.

Neoliberalismo, FMI, Banco Mundial, Consenso de Washington e o próprio governo estão fora.

Enquanto isso em Gotemburgo os suecos fazem as suas barricadas anticapitalistas e os intelectuais estrangeiros não se conformam com a nossa resignação.

 *O autor é doutor em História Social pela USP, professor da UFMS/ Dourados e  vereador pelo PT em Dourados.

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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