Horário livre para o Comércio

 

Wilson Valentim Biasotto *

08/05/2001   (douradosnews)

 

Não desconheço que existe uma tendência mundial de flexibilização do horário comercial e pelo jeito que as coisas caminham as lojas não precisarão mais de portas. Permanecerão abertas as vinte e quatro horas do dia.

Ótimo!, dirão muitos. Todo consumidor terá à disposição, na hora em que desejar, tudo aquilo que lhe aprouver. Maravilha!, dirão outros. Os comerciantes venderão ininterruptamente, as fábricas trabalharão ainda mais na geração de riquezas e as cidades se desenvolverão. Salvação!, poderão dizer os governantes. A arrecadação aumentará e haverá dinheiro para as obras públicas (estamos falando de governantes honestos).

Talvez poucos se lembrem que na nossa vizinha, Pero Juan Caballero, menos de vinte e cinco anos atrás, os comerciantes fechavam as portas do comércio para a sesta. E não era diferente da Itália, que também parava para o almoço. Lembram-se daquele filme em que uma quadrilha aproveita a paradeira geral de uma grande cidade italiana para assaltar um banco? ("O Homem de 7 milhões de Dólares", se não me falha a memória).

É impressionante! Estamos vivendo em uma Era onde as transformações se operaram vertiginosamente. E, pior, uma época em que somos levados a nos transformar em macaquinhos que têm que copiar tudo.

Lembro-me, por exemplo, que o Plano Diretor de Dourados, elaborado por Jayme Lerner, na gestão Zé Elias Moreira, proibia terminantemente a construção de edificações com mais de quatro andares em Dourados. Coisa bem pensada. Dourados tem um perímetro urbano que comporta mais de 600 mil habitantes, portanto os terrenos baldios são numerosos. Não precisaríamos crescer verticalmente.

Mas vieram os grandes investidores. A Câmara Municipal mudou a Lei e foram permitidos edifícios de qualquer altura. Interessante que nessa mesma época a população de uma cidade inglesa de porte médio (cujo nome não me lembro), discutia uma fórmula para implodir os grandes edifícios. Nem sei o que virou dessa discussão, provavelmente os prédios estejam lá, firmes, mas o povo daquela cidade bem que tentou ficar com os pés no chão, convivendo melhor com a natureza, desfrutando as energias da mãe Terra.

E Dourados perdeu a grande oportunidade de ser ímpar, ser modelo de cidade voltada para a busca da felicidade e não voltada apenas para o lucro.

Bem, voltando ao horário livre para o comércio, desejo informar que na última Sessão da Câmara Municipal de Dourados, foi votada uma Lei que não permite a abertura de supermercados aos domingos. Nesse sentido é de bom tom que nos lembremos dos comerciários. São eles, evidentemente que geram a mais valia para os patrões, logo, merecem ser ouvidos.

Em que ponto os trabalhadores serão beneficiados com a abertura do comércio aos domingos. Quantos empregos geraria essa abertura? Já não está de bom tamanho que o horário seja livre em alguns dias úteis? Não seria bom reservarmos o domingo para nossas reuniões familiares, para o cultivo de nossas amizades, de nossos entretenimentos?

E quanto a população? Haverá mesmo necessidade de se fazer compras aos domingos? Será que estamos tão sobrecarregados durante a semana? Se estivermos, isso é certo? E, por fim, as compras aos domingos não estariam apenas suprindo a falta de lazer existente em nossas cidades? 

São muitas as perguntas e poucas as respostas imparciais. O certo é que a Câmara proibiu a abertura dos mercados aos domingos. Talvez por pouco tempo. Levada pela onda neoliberal que nos invade, a Câmara poderá revogar a proibição de se trabalhar aos domingos e aprove uma Lei estabelecendo liberdade total no horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais. Talvez...

Particularmente gostaria que os prédios em Dourados tivessem no máximo quatro pisos e que o comércio não abrisse aos domingos. E, se fosse o caso de funcionar livremente, penso que deveria haver a obrigatoriedade de se contratar novos empregados. Ou seja, não me importo que o horário do comércio seja livre, mas isso tem que obedecer a uma lógica. Se o comércio se mantém aberto é porque vende mais, se vende mais fatura mais, portanto, nada mais justo que haja redução na jornada de trabalho para empregar essa massa excluída e gerar uma sociedade mais solidária, mais justa e mais igualitária.

E isso tudo sem dizer que domingo vem de Dominos Dei (Dia consagrado ao Senhor).

                                                      

O autor é doutor em História Social

pela USP, professor da UFMS/ Dourados

e  vereador pelo PT em Dourados.

                                                                                             

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br