Vamos apagar

 

Wilson Valentim Biasotto *

Douradosnews

 

Apaguemos nossas lâmpadas, desliguemos o freezer, acendamos uma pequena fogueira no centro de nossa sala e vamos conversar, cantar, contar causos. Aposentemos a televisão e o toca discos e voltemos ao teatro para ver ao vivo óperas, espetáculos teatrais, nossos artistas prediletos, como nos tempos de D. Pedro. Voltemos aos estádios de futebol, superlotemos o nosso tão pouco frequentado Douradão, façamos tremer as suas arquibancadas nas tardes de sábado ou domingo.

Não sejamos pois pessimistas! Lembremo-nos dos impecáveis ternos de linho que nossos pais e tios usavam, passados com o ferro a brasa. Arrumar a brasa hoje talvez seja um problema nas grandes metrópoles, em compensação poder-se-ia abrir em cada esquina uma lavanderia e tinturaria, como nos velhos tempos, que dariam conta de conseguir brasa suficiente para abastecer os ferros de passar, manuseados por um exército de felizes (re)empregados. E, de lambujem, teremos a oportunidade de plantar mais e mais árvores para fazer o carvão, o que implicará em oportuno reflorestamento.

E as velhas lamparinas? Basta que não nos importemos com a fumaça escura e mal cheirosa que exala do querosene queimado, mas que tenhamos em conta o lado humano e romântico das coisas. Humano porque é evidente que serão vendidos muito mais óculos, gerando empregos. Romântico porque sou capaz de imaginar o retorno das cartas de amor e as pessoas iniciando suas missivas como já o fizera uma amiga minha nos anos 60: "estou mergulhada sob a luz tosca de uma lamparina..." Quanta criatividade poderá ser resgatada!

Se o leitor mais novo não conheceu esse maravilhoso mundo antigo do gramofone, e os mais velhos não tiverem saudades dele, que não se esqueçam: nós, usuários, seremos os únicos responsáveis pelos eventuais apagões que ocorrerem em julho. Da parte do governo FHC não há falhas, ele já está tomando todas as providências necessárias. Só não me lembro de ter visto ou lido em algum lugar que ele deixará de pagar alguns centavos da dívida externa para estudar se nesse imenso país tropical não existiria alguma maneira de se produzir energia. Coisas do tipo de energia das marés, energia solar, termoelétrica, hidroelétrica, de aproveitamento de resíduos, enfim, sei lá...

E que ninguém pense na incompetência do governo FHC, muito menos na maquiavélica hipótese de que a falta de energia tenha algo a ver com alguma política antinacionalista e de sucateamento da indústria nacional.

Nesses aspectos os únicos que tem que se penitenciar são os que escreveram contra os programas de privatizações e que erramos em cheio. Nós, particularmente, sempre assegurávamos em nossos artigos, que a privatização dos setores estratégicos, como o energético, trariam consequências altamente negativas ao Brasil, somente dez anos após concretizadas. Erramos, foram necessários apenas cinco anos para que as nefastas consequências se manifestassem.

Apaguemos nossas lâmpadas. Mas deixemos marcados indelevelmente em nossa memória e em nossa história esses acontecimentos. E sejamos atenciosos porque a direita tem o mau hábito de fazer com que a história se silencie sobre determinados feitos ou, quando isso não é possível, procura apagar a história usando como arma a desqualificação de seus adversários, ou jogando a culpa nos outros, mesmo que seja em São Pedro.

Desculpem-nos os leitores pelas ironias, mas são tão absurdas as medidas tomadas contra o consumidor que foi a melhor maneira que encontramos para demonstrar a nossa indignação.

                       

*O autor é doutor em História Social pela USP, professor da UFMS/ Dourados e vereador pelo PT em Dourados.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br