O destino da Santa Casa de Dourados ( I )

   Wilson Valentim Biasotto*

19/03/02

 

Como o curso de medicina da UFMS em Dourados foi criado durante a minha gestão, quando fui diretor do Campus, julgo-me no dever de estabelecer um diálogo com a sociedade douradense no sentido de esclarecer os pontos que eventualmente estejam deixando dúvidas sobre o bom funcionamento do referido curso.

Comecemos essa série de artigos pelo que considero a questão mais urgente, ou seja, o Hospital onde os alunos deverão começar os seus estágios, já nesse ano.

Antes, porém, talvez seja oportuno esclarecer que não cometemos nenhum ato irresponsável ao criarmos o Curso de Medicina em Dourados, da mesma forma que não foi atitude tresloucada termos criado uma série de outros cursos tanto na Federal como na UEMS e que estão funcionando muito bem, a exemplo do Mestrado em História, do Mestrado em Entomologia e Recursos da Biodiversidade, dos cursos de Direito, Administração e dentro do curso de Letras as habilitações em Secretário Bilíngüe e Tradudor (na Federal) e Turismo, Física, Letras (na UEMS)

Na verdade todos esses cursos novos acima mencionados, e inclusive o de Medicina, estão inseridos num projeto muito maior, que é o Projeto da Cidade Universitária de Dourados, encampado por toda a sociedade, mas que teve à frente uma Comissão Executiva (da qual falarei em outro artigo), dirigida pela Reitora da Universidade Estadual, professora Leocádia Aglaé Petry Leme e por mim.

Pois bem. Ao criarmos o curso de Medicina tivemos o cuidado de estabelecer um compromisso com a Universidade Estadual no sentido de que os laboratórios do curso de Enfermagem fossem utilizados até que o prédio para as Ciências da Saúde ficasse pronto. Para a construção desse prédio estabelecemos um convênio em que o governo do Estado entrou com 70% do valor da obra e a UFMS deveria entrar com 30%. À Prefeitura de Dourados caberia as obras de aterro e urbanização ao redor do prédio. Pouco falta para se concluir esse prédio.

Com relação ao Hospital Universitário conversamos com o governador Zeca do PT que nos garantiu que em 2002, ano em que os acadêmicos de Medicina estariam precisando estagiar, as obras do Hospital estariam concluídas.

O único problema naquela época residia em que a Sociedade Douradense de Beneficência (SODOBEN) era a proprietária do terreno onde estava sendo edificado o Hospital e, portanto, precisávamos do consentimento daquela entidade para que a Santa Casa pudesse ser utilizada como Hospital Universitário. Não foram poucas as reuniões que tivemos com a Comissão pró-implantação da Cidade Universitária e a SODOBEN. E o resumo da ópera é que a SODOBEN concordou de bom grado que a Santa Casa viesse a ser Hospital Universitário.

Destarte podemos afirmar que não somente os nossos compromissos, como diretor de Campus foram devidamente cumpridos, como também os compromissos do então reitor, Jorge João Chacha e de todas as outras instituições envolvidas, assim como o compromisso do governo do Estado. Tanto é que o Hospital será inaugurado no princípio do próximo mês.

A questão que se coloca agora é a seguinte: quem administrará o Hospital Universitário?

Na minha maneira de entender a UFMS deveria assumir esta responsabilidade. Nesse sentido a bancada federal de Mato Grosso do Sul no Congresso Nacional deveria acionar todas as suas forças para concretizar esse objetivo.

Eis as razões pelas quais entendo que a UFMS deveria assumir a administração direta da Santa Casa: 1) Administrado por uma Universidade, o hospital passaria automaticamente a ser um Hospital Universitário; 2) A contratação de funcionários e médicos ficaria por conta do governo federal, o que significa dizer, entrada de recursos orcamentários novos para o município; 3) Mesmo que os hospitais universitários estejam passando por uma fase ruim, é preferível apostar que vão melhorar; a crise dos hospitais universitários é conjuntural e não estrutural, portanto pode ser revertida com a mudança de governo; 4) O curso de Medicina de Dourados foi criado levando-se em conta a existência desse Hospital Federal que, segundo compromisso do nosso Governador seria utilizada com fins educacionais; 5) O fato de valorizar o ensino não significa que o Hospital Universitário não possa atender pelo SUS, o que tornaria a Saúde de Dourados muito menos dispendiosa para o Município que não precisaria pagar funcionários; 6) O ensino de Medicina e Enfermagem seriam valorizados porque sendo um Hospital Universitário a entrada de recursos são maiores, há necessidade de equipamentos atualizados, enfim, teríamos recursos de última geração para Dourados e toda a nossa região.

Se a Universidade Federal tomasse em suas mãos esse empreendimento, seria a melhor coisa que poderia acontecer para Dourados, pois além das explicações supra-expostas, ficaria aberta a possibilidade imediata da abertura de novos cursos na área de saúde.

Com a palavra os nossos deputados federais e nossos senadores.

Amanhã falo da possibilidade da UEMS assumir a Santa Casa e, em seguida, apresento a idéia da Constituição de uma Fundação, que poderia surgir como solução paliativa para a administração do Hospital Universitário de Dourados.

 

 

O autor é doutor em História Social pela

USP,   professor   da   UFMS/Dourados

                                        e   vereador  em   Dourados    pelo  PT.

 

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br