A UFGD e os limites da tolerância

     Wilson Valentim Biasotto *

17.08.03

 

O desmembramento do Câmpus de Dourados da UFMS é um projeto que já completou o seu jubileu de prata. Há vinte e cinco anos essa discussão já se realiza, primeiro num âmbito restrito a meia dúzia de professores do CEUD, depois as discussões ganharam corpo, especialmente no início da década de 80, ao mesmo tempo em que se debatia a criação da UEMS; em seguida, das discussões teóricas passou-se à prática e, ao longo dos anos 80 e início dos 90, pelo menos três grandes tentativas de concretizar esse projeto foram feitas.

A primeira foi a por iniciativa do Dep. Sérgio Cruz, que a nosso pedido e com o apoio de Sultan Russlan, deu entrada ao Projeto de Lei nº 1320, que autorizava o Poder Executivo a instituir da "Fundação Universidade Federal da Grande Dourados".

Frustrada essa tentativa, porque a criação de Universidades costuma ser uma iniciativa do Executivo, em 1987 houve uma grande movimentação encabeçada pela Associação dos Docentes da UFMS - regional de Dourados - que colheu mais de 2000 assinaturas e dezenas de manifestos de entidades de classe, sindicatos e clubes de serviços da região em apoio ao Projeto. Esse movimento conquistou o apoio do reitor da UFMS, Jair Madureira que colocou o Projeto na Pauta de Conselho Universitário (órgão máximo da Universidade), sendo ele aprovado e encaminhado ao MEC (Resolução 8 de 20 de abril de 88.

Em 91, novo encaminhamento do Projeto pelos docentes do CEUD, era reitor Fauze Gataz que chegou a fazer um pronunciamento público favorável ao projeto. Esse pronunciamento foi publicado no "Jornal da Universidade, nº 54, em outubro de 1991.

Esses dois últimos encaminhamentos também não obtiveram sucesso porque permaneceram restritos ao âmbito interno da Universidade, não obtiveram o respaldo político tão necessário ao encaminhamento de Projetos de grande envergadura.

Veio a UEMS. Precedendo a sua implantação em 94 houve um acordo, intermediado pelo reitor Celso Pierezan, entre os que defendiam a transformação do CEUD em UFGD e os que defendiam a criação da UEMS: a Universidade Estadual seria construída em terreno pertencente à Universidade Federal com a expectativa de que assim, num futuro próximo, com a unificação CEUD/UEMS vingasse, finalmente, a idéia da UFGD.

No entanto essas definições não foram combinadas com os quadros da UEMS, que nem formados estavam àquela época,  e muito menos com as administrações futuras do Mato Grosso do Sul. Nessas condições, tanto o CEUD como a Universidade Estadual foram construindo, cada qual a sua história, não se pensando necessariamente numa fusão. Mas, de qualquer forma, independentemente da fusão das duas instituições, nasceu um dos maiores projetos já elaborados para a região de Dourados, o Projeto da Cidade Universitária de Dourados, oficializado em 2 de julho de 1998, quando, no anfiteatro da UEMS, a reitora Leocádia Aglae Petri Leme e o autor desse resumo histórico, o apresentaram às 72 entidades presentes.

É indiscutível o avanço do Ensino Público Superior em Dourados com o Projeto da Cidade Universitária, mesmo porque ele conseguiu unanimidade entre as forças vivas e as diversas facções políticas. Esse avanço, esse crescimento, levaram tanto ao fortalecimento da UEMS como do CEUD, o que significa dizer que a fusão das duas instituições torna-se impraticável, cada qual pode seguir o seu caminho, sem no entanto perder de vista o Projeto da Cidade Universitária de Dourados.

Nessa conjuntura é que focamos novamente os nossos esforços para o projeto inicial da criação da UFGD, com o desmembramento do CEUD da UFMS. Com esse objetivo o prefeito Tetila e eu falamos com o Deputado João Grandão, com o Senador Delcídio e com o governador Zeca e obtivemos apoio irrestrito para essa nova caminhada.

Sabedores de que nem um Projeto partindo da Câmara, como em 83, e nem o encaminhamento por vias internas, como os feitos em 88 e 91 dariam certo, mas, por outro lado,  conhecedores de que o clima era favorável para nova campanha, formalizamos uma nova estratégia: desta vez deveríamos contar com a unidade interna do CEUD, com o apoio das forças vivas de Dourados e dos nossos políticos.

Firmes na realização desse objetivo, tivemos uma primeira reunião com o Conselho de Campus do CEUD, no início do mês de abril/03, na qual discutimos a estratégia a ser seguida. A seguir, também em abril, o Senador Delcídio teve um encontro com a Comunidade Acadêmica do CEUD, ouviu a nossa proposta e comprometeu-se com o projeto. Finalizando essa primeira etapa, o prefeito Tetila e eu, estivemos em outra reunião do Conselho de Câmpus, quando nos foi entregue a primeira versão do Projeto para a criação da UFGD, a ser entregue ao Ministro da Educação.

Eis que o prefeito Tetila agendou uma audiência com o ministro José Dirceu e avaliamos que seria significativo entregar-lhe o Projeto para que ele tramitasse a partir da Casa Civil. A audiência se deu na manhã do dia.............. contando  com a presença dos Deputados João Grandão e Antonio Carlos Biffi, do Senador Delcído, do prefeito Tetila e eu, além de vários assessores. Na tarde deste mesmo dia o Ministro da Educação já estava de posse do Projeto e comprometido a executa-lo.

A partir de então tanto os nossos deputados como o nosso prefeito e o senador Delcídio, têm mantido frequentes encontros com o Ministro da Educação, Cristovão Buarque e com o Secretário da Secretária de Ensino Superior do MEC, Carlos Antunes, no sentido de viabilizar o Projeto. Concomitante a esses encaminhamentos, no âmbito interno os Departamentos realizam as últimas discussões sobre o Projeto que está sendo ordenado sistematicamente por uma Comissão designada especialmente para esse fim. Dia 22 próximo o Conselho de Campus do CEUD aprova o Projeto definitivo e fica aguardando até o dia 30 a visita do Secretário Carlos Antunes para receber das mãos do Diretor Omar Daniel, a cópia que será encaminhada à Câmara dos Deputados para votação.

 

*O autor é doutor em História Social pela

USP, professor aposentado da UFMS/Dourados

 e vereador (PT), licenciado para exercer o cargo de Secretário de Governo da Adm. Municipal.

 

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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