Histórias do Pedro Malasartes II

Wilson Valentim Biasotto*

                                     26/06/03

 

Estava terminando a primeira parte das histórias do Pedro Malasartes quando ouvi o chamamento de minha mulher que já se aborrecerá de mudar de canais na ânsia de encontrar algum bom programa da TV e queria saber o que eu fazia colado ao computador. Contei-lhe que planejara escrever algumas histórias que ouvira nos meus tempos de menino, para que não se perdessem da memória de nossa família. Contaria algumas histórias do Pedro Malasartes.

Eram belas histórias disse-me Dona Helena lembrando-se de que seu pai possuíra um livro bem grosso contando sobre o Pedro Malasartes. Imediatamente resolvi desistir do projeto e só não apaguei o que havia escrito porque desligara o computador.

Um dia após o ocorrido eis-me de novo a escrever outra história. Nunca vi o livro citado por minha mulher e, se do alto de meus cinqüenta e cinco anos não o vi é possível que muitos jovens nem sequer conheçam essas histórias. Volto, portanto, ao computador para registrar mais uma história.

O chapéu mágico: Pedro Malasartes pegou um punhado de moedas, daquelas que havia recebido do trapaceiro e levou-as ao armazém de seu compadre num momento em que nem uma mosca voava no local. Entregou-lhe as moedas e combinou que, aos poucos, iria retirando algumas mercadorias por conta daquele pagamento antecipado. Alegre com o negócio o compadre de Malasartes não hesitou em fechar o acordo.

Dia seguinte, no fim da tarde, quando bastante gente freqüentava o armazém, apareceu o Pedro Malasartes tendo na cabeça um belo chapéu de palha. Mal chegou e já foi falando bem alto: "cumpadre, me de cinco quilos de açucar" e ao receber a mercadoria, tirou o chapéu, fez uma reverência e perguntou de forma que todos ouvissem: " tá pago ou não tá?  Tá, respondeu o compadre com entusiasmo pois sabia que cinco quilos de açucar não eram nada diante do punhado de moeda deixado.

Passado certo tempo voltou o Malasartes e pediu mais uma série de mercadorias. Ato seguinte, tirou o chapéu, fez de novo uma reverência e perguntou: "tá pago ou não tá?". Tá respondeu alegremente o vendedor.

Foi e voltou Malasartes várias vezes sempre levando mercadorias sem que fosse preciso pagar qualquer. Bastava-lhe tirar o chapéu e perguntar se estava pago ou não estava.

Numa das vezes que ia saindo carregado de mercadorias um sujeito muito ganancioso perguntou-lhe como ele conseguia tudo aquilo. Malasarte confessou-lhe baixinho que o seu chapéu era mágico. E daí a pouco, percebendo o brilho de inveja nos olhos do ganancioso, repetiu a cena: pediu uma mercadoria, tirou o chapéu e perguntou se estava pago ou não estava. Ao ouvir novamente o alegre "tá" do dono do armazém o esganado não resistiu e quis porque quis comprar o chapéu de Pedro Malasartes. Pedro, muito matreiro, negou-se várias vezes a vender, mas depois de muito tempo, quando o ganancioso ofereceu-lhe uma sacola cheia de moedas de ouro ele fingiu não resistir. Pegou as moedas e o mais rápido possível sumiu daquele lugar montado em seu cavalo.

O ganancioso foi imediatamente testar o seu chapéu mágico mas o que ganhou foi uma esculhambação danada do dono do armazém. Aí, ao perceber que tinha sido enganado pelo Pedro Malasartes, endoideceu e vive até hoje pelos caminhos tirando o chapéu e perguntando a quem encontra: " tá pago ou não tá?

 

*O autor é doutor em História Social pela

USP, professor aposentado da UFMS/Dourados

e vereador (PT),  licenciado para exercer o cargo de

                                     Secretário de Governo da Adm. Municipal.

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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