Voltamos de merecidas férias, ao menos sob o nosso ponto de vista, tendo a obrigação de colocarmo-nos em sintonia com os acontecimentos de nossa cidade, nosso estado e nosso país. E assim continuamos a vida, agindo, participando e, muitas vezes sendo meros espectadores das coisas alegres e tristes que se sucedem, às vezes tão vertiginosamente que falta-nos tempo para gozá-las ou sofrê-las.
Nesse corre-corre, nessa busca, deparamo-nos com artigo do professor Jorge Manhães publicado em 30 de dezembro no Douradosnews, no qual comenta uma crônica nossa - "A Lágrima de Helena" - estampada no Jornal "O Progresso", em 26 de dezembro do ano passado.
O artigo de Jorge Manhães, ainda disponível no Douradosnews, sensibilizou-nos profundamente e, mesmo descontados os elogios, frutos da bondade do amigo e colega de Universidade por tantos anos, confessamos que contribuiu sobremaneira para a renovação de nossas forças e de nossas esperanças, dando-nos fôlego para continuarmos nessa caminhada em busca de um mundo mais feliz.
Se a nossa crônica comoveu o amigo Manhães, a ponto de honrar-nos com um artigo - "A lágrima de Biasotto", entendemos que o leitor do Douradosnews mereça conheça-la para tirar a sua própria conclusão. Segue, portanto, "A lágrima de Helena", com as bençãos do amigo Cérgio:
A lágrima de Helena
Meu profundo respeito a todas as mulheres (e homens) que lutam, choram e sofrem
acalentando um sonho e não se vergam jamais quando se trata da defesa de princípios.
Vi muitas lágrimas em minha vida. Algumas ajudei a enxugar, outras acompanhei, outras ainda chorei sozinho. Lágrimas são gotas benditas, quase miraculosas. Aliviam a dor, acalentam a esperança e substituem até mesmo o riso, quando a alegria é incontida. A lágrima, além disso tudo, é a expressão mais forte dos sentimentos humanos.
Dizem alguns que lágrima é coisa de mulher, que homem não chora. Existem até músicas que contribuem para firmar essa crença. Martinho da Vila, por exemplo, já cantou que "o homem que é homem não chora... (mesmo) quando a mulher vai embora..."
Desde minha adolescência, no entanto, aprendi no poema "I-Juca Pirama", de Gonçalves Dias, que os homens, mesmo os mais fortes, choram. Lembro-me do verso recitado pelo velho Timbirá, pai de um prisioneiro, que ao cientificar-se de que seu filho não era um covarde, como julgavam erroneamente os Aymorés, chorou dizendo: "Corram livres as lágrimas que choro / Essas lágrimas sim que não desonram".
Nenhuma desonra também nas lágrimas presidenciais de Luís Inácio Lula da Silva, que emocionaram o Brasil, ao ser diplomado . Tão forte foi a emoção do velho sindicalista, tão puro o seu sentimento que, emocinados também, muitos homens e mulheres desse imenso Brasil acompanharam-no.
Nunca tinha visto algo semelhante na história do Brasil. Penso que o choro do presidente significa algo mais que a forte emoção que mencionei, suas lágrimas significam que um homem humilde chegou ao poder e tem a exata compreensão da dimensão da missão que o aguarda. O povo brasileiro deve ter compreendido bem isso.
Ao vivo vi outra lágrima que não desonra.
Estava em reunião com o falecido Odilon Martins Romeu, o todo poderoso Secretário de Recursos Humanos do governo Harry Amorim Costa, em 1979, fechando o Plano de Cargos e Salários do Magistério Público Estadual, no momento em que ele soube da destituição do governo, seis meses após a implantação do Mato Grosso do Sul. Uma lágrima rápida rolou-lhe dos olhos. Não comentou absolutamente nada. Não fez uma única crítica. Agradeceu-me pela sinceridade com que desempenhei o meu trabalho, e disse que as minhas críticas contundentes ajudaram-no a olhar para fora da janela do poder, pois lá dentro só existiam os áulicos, capazes apenas dos elogios fáceis.
Confesso que o elogio me fez bem naquela época, todavia a lágrima do Secretário deu-me a dimensão exata do seu sentimento. Sua lágrima, embora ligeira, foi para mim, um documento claramente compreensível: naquele momento Mato Grosso do Sul deixava de ser um estado modelo.
Vi muitas lágrimas, já disse. Nenhuma no entanto me tocou tanto quanto a lágrima saída dos olhos intensos da senadora Heloísa Helena.
Tive o privilégio de conhecê-la pessoalmente, de ouvi-la, de dialogar com ela. Heloísa Helena é firme, possui absoluta clareza ideológica, tem princípios bem definidos, mas, acima de tudo, é uma criatura meiga, cativante, doce.
A lágrima de Heloisa Helena, não foi uma lágrima comum, não representou um desabafo, uma frustração, uma forte emoção. A lágrima de Heloísa Helena embora bela como uma gota de orvalho a escorrer pela folha verde numa manhã ensolarada, não foi uma poesia. A lágrima de Heloísa Helena foi um hino. Um hino que somente pôde ser compreendido por aqueles que acreditavam, como ela, em mudanças mais consistentes quando o PT chegasse ao poder. Um hino ouvido por todos aqueles que jamais trocaram os seus princípios pela conveniência do momento. Um hino de coerência para com a vida e de louvor aos que acreditam num mundo mais justo, mais fraterno, mais igual.
Emociono-me ainda hoje com o choro do velho Timbira, com o choro de Lula e com o de Odilon Martins, mas a lágrima de Heloísa Helena eu gostaria, se pudesse, tê-la chorado junto.
O autor é doutor em História Social pela
USP, professor aposentado da UFMS/Dourados
e vereador em Dourados pelo PT.
A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.
VoltarSer convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria
A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.
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Abrir arquivoO livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.
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