Esquerda, Direita e divisões partidárias

Nessa crônica procuro responder a questões propostas por leitores que comentaram uma outra: “O PT está perdendo um companheiro histórico”.Eis as questões:  O que é mesmo esquerda e direita? Existe realmente direita e esquerda no Brasil? O PT está dividido? Outros partidos também têm divisões? Por que os divisionistas não formam outros partidos? “Estou perdendo pouco a pouco a esperança, ou a questão é que não tenho uma boa visão panorâmica sobre política? Por fim, se esse cronista não se sente culpado pela saída do professor Enio do partido?

Esquerda e direita: a diferenciação surgiu na França, após a Revolução de 1989, quando os defensores de mudanças mais radicais ocupavam as cadeiras à esquerda do presidente e os conservadores ocupavam as cadeiras à direita. Depois, com Napoleão, a esquerda foi abolida do parlamento e dedicou-se a trabalhar na defesa dos trabalhadores franceses. Atualmente a esquerda passou a ser identificada por aqueles que defendem uma sociedade mais igual e a direita aquela que defende o modo de pensar capitalista que é excludente por natureza.

Se no Brasil existe direita e esquerda? Sim, tanto existe no Brasil quanto no mundo inteiro, pois há os que se comportam segundo ideais esquerdistas e direitistas. O que ocorre é que muitas vezes a direita se organiza melhor e consegue democraticamente o poder, como na Itália atual, ou às vezes se organiza autoritariamente como nos tempos da ditadura militar no Brasil. Algumas vezes nem a direita e nem a esquerda conseguem a hegemonia, então há coligações como a que ocorre atualmente no Brasil tendo Dilma do PT como representante da Esquerda e Michel Temer, vice, da Direita. Outro, exemplo ainda mais contundente; A aliança PT e DEM em Dourados, na tentativa de se recuperar a cidade.

O PT está dividido? Sim, e não é de hoje. Quando ocorreram as primeiras divisões o partido encontrou uma maneira de conviver com elas, permitindo a organização de Tendências. O PT abriga várias tendências em seu seio, destacando-se, no caso de Dourados, a DS – Democracia Socialista – e a AE – Articulação de Esquerda. Se cito essas duas é porque ambas tem ideais socialistas, e mesmo assim com concepções diferentes. Mas não somente o PT tem divisões, todos os outros partidos políticos brasileiros tem as suas facções, só que ao invés de se organizarem em Tendências, os  grupos organizam-se em torno de líderes partidários.

Por que os divisionistas não formam outro partido? Não formam porque todos se enfraqueceriam. No PT de Dourados existem pelo menos 4 tendências com representação no Diretório. No PMDB outras quatro, também com representação e assim por diante. Já pensou o leitor quantos partidos teríamos? Então, enquanto é possível a convivência dentro do partido, mesmo com disputas internas as forças vão se acomodando. Quando não dá, então surgem as divisões como aquelas que deixaram o PT e fundaram o PSOL e PSTU. Ou, para citar outro partido: o PTB de Vargas, dividiu-se após a redemocratização brasileira entre PTB (Partido Trabalhista Brasileiro)  e PDT (Partido Democrata Trabalhista) e, mais recentemente o PTB teve mais um cisma, com a criação do PTdoB (Partido Trabalhista do Brasil).

Perder a esperança? Sou radicalmente contrário à perda da esperança. Muitas vezes, é verdade, bate um desânimo, uma angustia. Lutamos, lutamos e no final não enxergamos resultados. Mas sabem por que? Por que não nos aprofundamos em analisar bem as coisas.

Se houver um dentista carrancudo, por exemplo, é porque ele jamais pensou que em cada sorriso de seus clientes há um pouco de seu labor. O professor muitas vezes se desilude, mas porque não percebe que em todos os seus ex-alunos, tem um pouquinho de si. O político honesto se frustra porque é posto num mesmo balaio que os larápios, mas não se lembra que é graças a ele que as instituições democráticas continuam funcionando. O agricultor se desespera muitas vezes com as dívidas que carrega, mas deveria saber que é graças a ele que milhões de pessoas são alimentadas diariamente. E assim, cada qual, segundo seus talentos, contribui de tal forma que não haveria motivo para se sentir desesperançado.

Por fim, se me sinto responsável pela saída do professor Enio do PT? Se ele saiu somente devido a coligação com o DEM então sou responsável porque votei a favor da realização dessa coalizão apesar de chamá-la de maluca. Mas não creio que Enio tenha saído somente por isso, deve ter havido uma somatória de fatores. É aquela história, ao dar a centesima marreta o operário viu a pedra partir-se. A quem devemos a partição da pedra, à centésima marretada, às 99 anteriores, ou a soma das 99 anteriores com a centésima?

As coisas muitas vezes não são resumidas em 8 ou 80. Não deixo de gostar do verde porque gosto do vermelho. Se por um lado lamento a saída de Enio, por outro não posso deixar de considerar valorosos também outros companheiros como Tetila, Dinaci, Delcídio e tantos outros que apoiaram a coligação. Em política, assim como tudo o que fazemos na vida, estamos sujeitos a acertos e erros por mais prudência que tenhamos. Estou ansioso para ver o resultado de tudo isso.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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