Crônica em retalhos: 2010, o ano que não acabou

 2010 brasileiro: Nosso 2010 não foi muito alvissareiro, ao menos no terreno esportivo, e mais especificamente em relação ao futebol. A seleção brasileira deu vexame na Copa da África, o Internacional de Porto Alegre perdeu o Mundial de Clubes, o Corinthians passou o seu Centenário sem ganhar absolutamente nada, o São Paulo nem foi para a Libertadores, como costumava ir; o meu Palmeiras nem se fala  e o Goiás, perdeu a Sulamericana.

2010 douradense : para nós douradenses, 2010 foi o ano que não acabou. Lasco essa frase por analogia ao livro que o jornalista Zuenir Ventura publicou em 1969: “1968: o ano que não terminou”, no qual o autor retrata a história conturbada de 68. Em Dourados, os acontecimentos desse ano também dariam um belo livro, que poderia intitular-se: “2010: o ano que não acabou para os douradenses”. Que ano? Eleições, com segurança reforçada; gravações de vídeos; Operações Owari e Uragano; prisões; renúncia de prefeito, vice, presidente da Câmara; três prefeitos em um só ano; buracos nas ruas e nas contas públicas; enfim, um ano que não acabou apesar de o Natal e o Reveillon estarem próximos. Santo Dio! Agora só faltava o PT se unir ao DEM e o PMDB ao PSOL.

Nosso patrimônio: Viver em uma cidade, ser alimentado por ela, ter nela a sua família e seus amigos e alimentar nela os seus sonhos é o maior patrimônio que podemos ter. Morar nessa terra maravilhosa de Dourados é privilégio de apenas 196 mil pessoas.

Queremos o melhor: Será que é esse privilégio de morar em Dourados que move as pessoas a sonharem em ser o prefeito da cidade? Pode ser, mas não creio. Em todas as cidades do mundo há os que sonham em ser prefeitos, uns pelo desejo de se locupletarem, outros para satisfazer vaidades, mas com certeza, a grande maioria dos que almejam esse posto é por amor. Amor à terra onde nasceram ou se instalaram.

Querer e poder: existe, entretanto, entre o desejo e a possibilidade de ser prefeito uma distância astronômica. Muitos não conseguem ser candidatos, outros nem se propõe a sê-lo por saberem das dificuldades. A esses somente é permitido sonhar: ah! se eu fosse o prefeito faria isso, aquilo, aquilo outro.

Sonhemos: Por que não sonhar em sermos prefeitos, governadores ou presidentes, para resolvermos os problemas de nossas cidades, nossos estados, de nosso país? Você, meu caro leitor(a), qual a primeira coisa que faria se fosse o prefeito(a) de nossa cidade? E depois, a segunda, a terceira...

De coração: gostaria de ter sido eleito prefeito de Dourados e embora tenha ficado em último lugar nas eleições de 2008, sou muito agradecido pela oportunidade de participar da campanha, ser votado e, portanto, considerado capaz por significativa parcela do eleitorado. Não teria nenhuma dúvida em candidatar-me novamente, assim como penso que muitos douradenses teriam essa disposição.

O que nos impede? A mim particularmente o que me impede é o meu Partido, o PT. Os nossos dirigentes entendem que não temos condições objetivas de concorrer à Prefeitura de Dourados. Embora o PT tenha concorrido desde 1982 ininterruptamente até a última eleição, agora entende que não temos condições. Nomes existem, com certeza, senão o meu, o de outros companheiros ou companheiras. Essas condições, em resumo, seriam porventura dinheiro?

O que mudou?  Mas quando será que houve dinheiro para as campanhas petistas em Dourados? Com a palavra os candidatos, José Joaquim, Tetila, Egon Krakhecke, Ribeiro Arce, Tetila novamente, e eu, que disputamos a prefeitura de Dourados pelo PT. Quais as tais condições que tivemos? Será que assiste razão aos que dizem que o que ganha eleição é dinheiro?

E o PMDB? O presidente Laudir Munaretto deverá estar branqueando os cabelos. Délia Razuk, Marçal Filho e Geraldo Rezende, as principais lideranças do Partido em Dourados, têm cada qual um projeto. Sem contar Nogueira, Marcondes, Valdenir e Idenor, e por aí afora.

O DEM:  Embora com candidato já definido, o DEM não é nenhuma ilha de tranquilidade. Nas brasas escondidas na fogueira de vaidades do DEM, lá estão os grupos de Murilo e Zé Teixeira, sem contar os vereadores Barros, Bambu e Sidlei, os três com certerza nada satisfeitos. E ainda tem aqueles menos xiitas, mas que, por isso mesmo, deverão ser levados em consideração, como é o caso de meu confrade de Academia, Waldir Guerra.

Aperfeiçoamento da democracia: O aperfeiçoamento da democracia deveria fazer-se não somente com a melhoria dos recursos tecnológicos, como é o caso das urnas eletrônicas, que facilitaram e aprimoraram o processo eleitoral, mas também com a aprovação de recursos públicos para as campanhas. A abertura de possibilidades para que cidadãos de boa fé pudessem disputar.

Forças vivas: o que costumo chamar de forças vivas da cidade são as entidades que têm voz, que têm poder de influenciar. Tempos atrás, perguntei nesse mesmo espaço, onde estavam a ACED, o Sindicato Rural, a Associação Médica etc. etc. e algumas entidades não entenderam bem o que eu quis dizer, ou então me expressei mal: na verdade, o que ocorre em Dourados é que a maior parte das entidades que se constituem em forças vivas somente aparecem na Prefeitura para solicitar algum tipo de benefício. Contribuição que é bom, neca de pitibiriba. 

Como fazer?: Haveríamos de ter em Dourados um fórum de discussões para nos organizarmos, mas quem puxaria esse fórum. A Câmara? A Prefeitura? As Universidades? Qual delas? O Comitê Local das Cidades Educadoras era um caminho, mas esse trem da história acho que já perdemos.

O jeito é rezar: O jeito é rezar, vou cantar ladainhas, vou fazer orações, pois definitivamente 2010 não acabou. Saltemos pois de 2009 para 2011 e, de consolo, um poema intitulado “Tempo”, de Carlos Drummond de Andrade: “Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. // Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.// Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente...”  Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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