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Antes de escravidão, ainda o perfume: amigo que tenho em grande estima escreveu-me a respeito da crônica da semana passada - na qual falo do perfume que fica em algumas ações - dizendo-me que também fica muito fedor em certas coisas que aconteceram em Dourados nos últimos tempos. Meu amigo tem razão, e foi justamente por isso que procurei buscar algumas coisas boas para dizer, pois penso que é a partir do realce que se dá às boas obras que mostraremos caminhos.
Ensinamento: Pablo Neruda nos ensinou que Se cada dia cai, dentro de cada noite / há um poço / onde a claridade está presa. // Há que sentar-se na beira / do poço da sombra / e pescar luz caída / com paciência. Agora sobre a escravidão: quando estudamos a história do Império Romano deparamo-nos com um sistema de produção baseado na escravidão, o escravagismo. As legiões romanas, ampliavam o território do Império, dominavam novos povos, faziam milhares de escravos para ocuparem-se da produção dos bens materiais necessários, desde o trigo até as construções. Mas eis a contradição: quanto mais ampliava as suas fronteiras mais precisava de escravos, então chega o tempo em que as legiões não dão mais conta de expandir o império e portanto não escravizam mais os povos. Assim o sistema desaba. Servidão: Desabando o Império Romano surge o feudalismo e com ele a servidão. Embora nos dicionários escravidão e servidão apareçam como sinônimos, no conceito histórico escravidão é a posse do homem pelo homem e servidão é a posse do homem pela terra, ou seja, no regime escravocrata o escravo pode ser vendido pelo seu dono a qualquer hora e para qualquer lugar, no caso do servo medieval não poderia ser vendido, pois estava preso à terra onde morava, daí ser servo da gleba. O trabalhador livre: com o advento da era industrial o trabalhador deixou de ser servo da gleba para ser livre. Livre no sentido de que podia vender a sua força de trabalho a quem desejasse comprá-la. Mas os industriais eram tão fortes e os trabalhadores tão fracos que lhes eram impostas as mais cruéis condições de trabalho em troca de um salário indigno. Crianças, mulheres e homens de todas as idades trabalhavam mais de doze horas diárias para poderem comer e morar em casebres insalubres. E atualmente, o que somos? Escravos, servos ou trabalhadores livres? Ora, claro que somos trabalhadores livres, diremos O colarinho branco: tomemos o exemplo dos colarinhos brancos nos tempos contemporâneos. Mesmo com roupas bem passadas, com sindicatos organizados, os trabalhadores assalariadas ainda se constituem no elo mais fraco da grande corrente do mundo capitalista. Veja o exemplo dos bancários: os banqueiros com lucros extratosféricos e os funcionários precisando fazer greve para conquista minguados reajustes. Os professores, esses formadores de gerações e gerações seguidas, mesmo reconhecendo-lhes a importância, pouco se retribui em seus salários. E os industriários, os comerciários, os escriturarários? Todos com o mesmo problema, vendem sempre a preço muito mais baixo do que valeria a sua força de trabalho, gerando assim a mais valia, que é o lucro do patrão. E o patrão? Veja o logista, arrisca o capital, mas depende do preço que lhe impõe o atacadista e dos impostos que paga ao governo. E o agricultor? Esse, meu santo pai, é o próprio servo da gleba. Não conhece pessoalmente o seu senhor, mas sabe que ele existe, e está representado por um gerente de banco ou um vendedor de multinacional. Juizes: mesmo os juízes, aparentemente acima do bem e do mal, não passam de escravos da Lei. Vamos aprofundar essa questão. Escravos da Lei? Que Lei? Ora, da Lei feita ao longo dos tempos pelos legisladores, ou seja, pelo Poder Legislativo. Isso é claro, mas quem representa o Legislativo? Os deputados e senadores eleitos pelo povo. E quem são esses deputados e senadores? Ora, ora, ora, são nada mais nada menos que industriais, financistas ou seus prepostos. Logo, a Lei é feita pela classe dominante, que impõe seu poder não mais pelas armas, mas pelas Leis. Promotores: Não fogem a essa regra os promotores, tão escravos da Lei quanto os juízes. E, a bem da verdade, é bom que se diga, a grande maioria dos juizes e promotores são formados em escolas particulares onde tanto o curriculo quanto os professores são escolhidos de modo a perpetuarem a ordem vigente. Professores: o professorado em sua esmagadora maioria é oriundo da classe trabalhadora, no entanto, sem consciência de classe, acaba escravizando-se na reprodução de conceitos e preconceitos concebidos pela classe dominante ao invés de promoverem a educação para a liberdade, como nos ensinou Paulo Freire. Os médicos: Minha geração, se não faltasse dinheiro, ia ao cinema no mínimo uma vez por semana e a coisa mais comum era ouvir-se o alto-falante do cinema, anunciar: por favor, doutor fulano de tal, o senhor está sendo chamado com urgência. Imediatamente via-se alguém levantar-se e sair no meio do filme, por mais interessante que tivesse. Escravos de ideais: Advogados, pedreiros, carpinteiros, padres e pastores, políticos e lavradores, padadeiros, leiteiros, todos e de todas as profissões que não fazem parte do elenco acima, somos enfim, escravos de nossos ideais, de nossos princípios. Escravos de um mandato: Em Dourados o ex-prefeito Ari Artuzi, o ex-vice prefeito, Carlinhos Cantor e o ex-presidente da Câmara, Sidlei Alves estavam escravizados pelos seus respectivos mandatos. Ao renuciarem aos seus cargos foram imediatamente postos em liberdade, já que estavam presos há 93 dias, coisa nunca vista na rotina judicial brasileira. Escravos das negociações: se todos somos escravos de certa forma, até escravos do amor ou do ódio, como não consigo saber quem foram os escravos das negociações que fizeram com que Ari, Cantor e Sidlei tivessem a mesma idéia, no mesmo dia, de renunciar aos seus cargos? Vivas à democracia e à liberdade. Cidades escravizadas: da mesma forma que as pessoas, parece-me que também existem cidades escravizadas, são cidades onde as forças vivas ao invés de organizarem-se em torno de objetivos coletivos e depois exigirem medidas políticas, organizam-se mal e porcamente em torno de um ou outro político e ficam a esperar suas dádivas. |
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VoltarSer convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria
A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.
Abrir arquivoNossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.
Abrir arquivoO livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.
Abrir arquivoEsta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política
Abrir arquivoEsse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.
Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.
Abrir arquivoMomentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.