Um entusiasmado jovem tucano.

 

Encontrei-o em um estabelecimento comercial. Jovem trabalhador saíra recentemente de seu antigo emprego, mas não mudara de ramo, continuava vendedor de produtos de uma multinacional, agora mais satisfeito com o salário.

Conversa vai, conversa vem, o assunto virou para a política, afinal somente futebol e novela não mantém discussão acesa por muito tempo. Mas, enfim, como também na política há paixão, foi se formando uma roda que ao final deveria ter 5 ou 6 jovens e dois idosos, eu e mais um.

O jovem vendedor, bom de bico, senão não seria vendedor, e de bico grande, senão não seria tucano, foi logo declarando o seu voto a José Serra. Claro que me conhecendo, não faltou uma boa dose de provocação, afinal Serra teve em Dourados 48.75% dos votos. E eu, que normalmente não ligo para esse tipo de provocação e de lambuja, estava alegre por ter sido lembrado ao menos por dois ex-alunos, já que essa nossa conversa dera-se no dia do professor, fui dando corda.

O rapaz votou e vai continuar votando no Serra porque ele entende que não pode ficar parado em um emprego, quando as possibilidades de ascensão se esgotam no local onde trabalha, procura outro que lhe traga melhores salários.

Perguntei-lhe se, justamente por pensar assim, já que tinha tantas ambições, não achava que devia votar em Dilma, afinal o trabalho que ele arrumava com tanta facilidade era fruto da política econômica levada a efeito pelo governo Lula.

- Imagina, disse-me o jovem, a Dilma vai continuar dando bolsa família e se eu tenho emprego é por causa disso, da bolsa família, que alimenta uma multidão de vagabundos. Ao invés de trabalhar ficam à custa do governo.

- E você acha que basta ser trabalhador e ter vontade que se consegue emprego? Por que será então que no tempo de Fernando Henrique o nível de desemprego no Brasil era exageradamente elevado e agora atinge índices nunca vistos?

O rapaz muito convicto respondeu-me que no Brasil só não trabalha quem não quer. Que o governo não tem nada com isso.

Aí o meu sangue ferveu e perguntei-lhe se não achava que Dourados deveria votar em Dilma, não só por ela ser mais capaz que Serra, mas ao menos em gratidão a tudo o que o governo Lula nos fez, inclusive pela UFGD, verdadeiro marco para nova retomada de nosso desenvolvimento?

O moço desconversou e queria fazer uma prévia para ver quem receberia mais votos naquela rodinha que se formou.

Nesse momento quem desconversou fui eu. Pressenti uma desilusão. Compreendi que se a ideologia da classe dominante atingiu em cheio a mentalidade ingênua daquele jovem, poderia ter anestesiado também os demais. Nada de prévia, enfiei a minha viola no saco e fui-me embora para casa. Lamento não poder ter ido para Passárgada como Manoel Bandeira, que lá  era amigo do rei. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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