Somos responsáveis por quem cativamos

Faz já algum tempo que não (re)leio “O Pequeno Príncipe” do aviador francês Antoine de Saint Exupéry, mas pretendo fazê-lo novamente nesse final de semana. A leitura desse livro profundo, embora aparentemente leve, me faz bem. Aprendi algumas coisas com essa leitura, inclusive num diálogo entre o Príncipe e a Raposa, por exemplo, há uma frase de uma sabedoria grandiosa: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Significa dizer que se conquistamos alguém devemos assumir para com esse alguém a responsabilidade de o termos conquistado. Vale para o enlace conjugal, para as amizades, mas vale também em relação aos eleitores que acreditam em nós quando nos candidatamos para alguma coisa.

Veja o caro leitor porque o pequeno príncipe me veio à cabeça em relação à inédita e até certo ponto incrível crise política pela qual passa a nossa cidade: que somos ou ao menos deveríamos ser responsáveis por quem cativamos. Ao “cativarmos” as pessoas devemos ser-lhes fiéis, sermos coerentes com aquilo que prometemos para cativá-las. À título de exemplificação, permitam-me extrair de um e-mail que recebi, alguns trechos que me tocaram e levaram-me a lembrar do pequeno príncipe.

“Querido Professor...

 A única pessoa com quem vou me manifestar sobre o que tenho lido nos jornais é o senhor, porque eu acreditei de coração em tudo o que vi em apenas 3 meses de convivência.

 Quando fizemos a campanha, a minha vontade era tentar abrir os olhos das pessoas à força, sobre a diferença gritante entre a sua competência e o populismo, o assistencialismo dele. Eu tinha vontade de gritar nos bairros que aquilo era absurdo, que estariam dando uma cidade estruturada, administrada tão bem pelo Tetila, nas mãos de uma pessoa absolutamente despreparada, pra não usar termos pejorativos.

Fiz o que pude. Mas me impressionava o quanto era difícil tirar das pessoas aquela idéia de que ele era 'bonzinho', que era 'do povão' e que seria uma coisa nova e boa pra Dourados.

Me apaixonei por Dourados já no primeiro dia.  Me apaixonei pelo trabalho que fiz aí, me alegrava em colocar minha cara na mídia pra defender a campanha de alguém em quem eu acreditava tanto, que eu queria do fundo do meu coração que ganhasse aquela eleição não simplesmente pela vitória, mas porque eu sabia que era o mais preparado para administrar a cidade.

Todos que trabalharam na Campanha, gente que nem se conhecia, se tornaram amigos pra lutarem juntos por isso.

E lutamos todos, até o último dia.

 No dia da apuração, todos nós sentimos a mesma tristeza...”

            Ao tornar público esse e-mail, que, imagino, deve representar o pensamento de muitos douradenses, ofereço também a resposta dada, mesmo porque penso que é meu dever de cidadão manifestar-me em torno do ocorrido. Eis a resposta:

“Querida amiga...

Agradeço-lhe pela mensagem. De fato fizemos uma campanha muito bonita, especialmente no sentido de que acreditávamos naquilo que fazíamos. Assumimos uma grande responsabilidade diante do povo de Dourados, especialmente diante daqueles que nos prestigiaram com o voto. Mas não há o que lamentar. Lembra-se que falávamos que estávamos orgulhosos de morarmos em uma “Cidade Educadora”? Pois bem, o que nos aconteceu foi um grande aprendizado. Um aprendizado raro. Poucas são as cidades que passam por esse tipo de purgação. Se o Murilo ou eu tivéssemos sido os escolhidos provavelmente a nossa querida Dourados não passaria por essa experiência purificadora. Dourados está aprendendo, Mato Grosso do Sul está aprendendo, todo o Brasil está passando por um grande aprendizado em termos de democracia. Com certeza a nossa campanha não foi em vão, a nossa derrota não foi política, mas eleitoral, há uma grande diferença nisso. As pessoas passam mas ficam os ideais. Um abraço”.

            Foi isso, e confesso aos leitores que, como descendente de italianos, costumo verter lágrimas com certa facilidade, mas nesse caso, nem a crise, nem a leitura e a resposta provocaram-me uma lágrima sequer. Não há motivo para nos envergonharmos de nada e mesmo aqueles que votaram no prefeito agora preso, não têm por que se envergonhar.  Se votaram nele é porque foram conquistados, logo deveriam ser amados.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
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Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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