As fabulosas histórias de Bepi Bipolar ( I ) : senso e nons

 

Lá naqueles cafundós do mundo, a três cabos de machado para frente de onde o vento faz a curva, a molecada cansada de tanta correria, ia se acalmando aos poucos no finzinho da tarde e brincava mais serenamente fazendo pegadinhas ou inventado rimas. Ia indo por um caminho, encontrei um buraquinho, fui ver o que tinha dentro era cocô do Robinho. Do Robinho não, disse o santista indignado, era do Dentinho. Não, não, disse o corintiano era do... e perdendo a rima disparou que era de Adriano. O flamenguista atribuiu o conteúdo do buraquinho a Richarlison. E a brincadeira foi se transformando, as vozes se alterando, ficando cada vez mais altas... Mas eis que, antes de do pau começar a cair as folhas, aparece o personagem de nossa história. Ele que era bipolar, agindo ora com ora sem senso, nesse momento solucionou o problema de modo que a molecada se acalmou. Querem saber, disse ele, dentro do buraquinho era cocô do Ronaldinho.

Foi o suficiente. Talvez por Ronaldinho estar longe de seus times de coração ou por ignorá-lo da mesma forma como vem fazendo o técnico Dunga, não o convocando para a seleção, a molecada, como por encanto, mudou de brincadeira e o nosso personagem, que tinha coisas mais sérias para fazer, foi sentar-se em um banco onde estava o seu velho amigo Tino Sonso, iniciando com ele animadíssima prosa, que passo a contar agora para os leitores que, evidentemente, já sabendo da esperteza da molecada dos cafundós, não duvidará da astúcia de Bepi Bipolar.

Feitos os cumprimentos de praxe, Tino Sonso perguntou de supetão ao companheiro de banco:

- Você viu Bepi, o Lula e o André, só os dois, solitos, para inaugurar aquela  enorme fabrica de papel em Três Lagoas? Aquilo não é inauguração. É cochicho. Conchavo político. Não tinha deputado, não tinha senador, não tinha prefeitos, vereadores... nem os donos da fábrica estavam lá...

Bepi Bipolar, no pólo do senso, percebeu logo que Tino Sonso somente vira uma notícia sobre o evento e ainda assim com muito atraso, mas ele, que tinha acessado pela internet, ainda no dia da inauguração da fábrica, vários sítios de notícias, explicou ao amigo que conforme o interesse é a foto. Houve mesmo notícias ilustradas com fotos só do presidente com o governador, mas houve também fotos onde aparecem Lula e Zeca, algumas onde apareceu ao menos um senador, em outras um deputado. Enfim, proclamou Bepi Bipolar que hoje em dia montar foto é coisa fácil. O mundo não é mais como antigamente que até em fotos de família tinha-se o cuidado de colocar o namorado da filha na ponta da pose para que na eventualidade do casamento não dar certo, se cortar o moço sem perder a foto. Hoje, pode por o noivo onde quiser, e caso algo saia errado substitui-se a foto do antigo pela do atual e assim a foto de família continua perfeita.

E Bepi Bipolar, empolgado, ainda no pólo do senso, continuou a sua conversa explicando melhor o que queria dizer com “conforme o interesse é a foto”. Um deputado federal, segundo li, diz Bepi Bipolar, tem uma verba de 24 mil reais por mês para divulgar o seu mandato. Ora, se um deputado tem 24 mil, muito mais terá um prefeito ou governador, deduziu. Como 24 mil é muito dinheiro e os projetos dos deputados são poucos, eles utilizam-se dessa verba para construírem uma imagem altamente positiva de seus respectivos mandados o que torna esses políticos praticamente imbatíveis nas eleições. Hoje, diante da popularidade do presidente Lula, vale a pena sair acompanhado dele numa foto, mesmo que seja necessário usar nisso um pouco da verba de 24 mil. E, assim, de foto em foto, de notícia em notícia, produzidas por assessorias escolhidas à dedo, os mandatos políticos, embora eletivos, na realidade vão se tornando efetivos e muitas vezes até hereditários. A não ser que surja algum candidato com muito dinheiro, o que quer dizer que na verdade as eleições são ganhas com dinheiro e não com ideias ou compromissos com o povo.

Empolgando-se cada vez mais Bepi Bipolar levantou-se, pediu desculpas, mas disse que tivera uma boa idéia e iria correndo ver se encontrava a lotérica ainda aberta. O amigo Tino Sonso, mais interessado na idéia do que em apostar na mega-sena acompanhou-o e foi ouvindo a história de Bepi Bipolar, agora visivelmente no pólo do nonsense : “a mega está acumulada, portanto se eu ganhar, compro a Rede Globo, daí começo a fazer a nossa cafundó ser mais conhecida e aí vocês vão ver. Não vai ter esse negócio de que quem tem mais pode mais. Vai ser na base da capacidade, da honestidade, do trabalho. É isso, as coisas vão mudar, o mundo será dos justos, sendo assim vou ser senador ou presidente”.

As crianças haviam se recolhido, a lotérica estava fechada e Bepi Bipolar começou a falar de futebol.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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