Curso de Medicina: dez anos redondos

       

 

O tempo passa inexorável, mas confesso que às vezes penso que o tempo não passa coisa nenhuma, o tempo permanece como sempre esteve e nós é que passamos rapidamente por ele. Ainda tenho fresco em minha memória todo o processo que levou à implantação do curso de Medicina em Dourados, mas já se passaram dez anos desde que a primeira turma entrou em sala de aula no frutuoso ano de 2000 para o ensino público federal em Dourados. Frutuoso porque além da Medicina, iniciaram as suas atividades, nesse ano, vários outros cursos que conseguimos criar e que merecerão crônicas à parte.

Sobre o curso de Medicina, não obstante tudo o que já foi dito, há muito a dizer, a começar pela elaboração do projeto, a busca de apoios, a aprovação pelos Conselhos Superiores da UFMS. Depois veio a implantação, as dificuldades passadas pela primeira turma, a abnegação dos professores, ressaltando-se que muitos contribuíram com o início do curso sem ganhar tostão pelo seu trabalho. Enfim, existe uma belíssima história a ser escrita sobre esse curso que, além de sua importância intrínseca, contribuiu, conforme planejamos, para a aceleração do processo de implantação da UFGD..

Desejo que esses e outros temas sobre o curso sejam abordados por aqueles que viveram essa história, de minha parte, hoje, vou abordar um aspecto de somenos que talvez seja desconhecido até mesmo pelos pioneiros desse empreendimento. Trata-se da estrutura do curso.

A Comissão encarregada de elaborar o projeto do curso era composta pelo então presidente da Associação Médica da Grande Dourados, o médico Leidinz Guimarães, pelo seu sucessor, o médico Takeshi Matsubara, a médica Denise Nemirovsky e professora Doutora em Educação pela USP, Dirce Nei Teixeira de Freiras e por mim, que presidi a Comissão. A mim competia coordenar os trabalhos, aos médicos a parte técnica e à professora, o projeto pedagógico. A professora Dirce Nei aprofundou-se no estudo de currículos de dezenas de cursos de Medicina espalhados por esse Brasil afora, e descortinou-nos horizontes novos. Mostrou-nos possibilidades que desconhecíamos, mas que se encaixavam perfeitamente nos nossos ideais. Em outras palavras, a professora Dirce Nei encontrou o formato de curso que tanto os médicos Denise, Leidniz, e Takeshi quanto eu almejávamos, mas que tínhamos dificuldades em projetar.

Encontrado o caminho, a contribuição desses três médicos citados – subsidiados também por outros colegas da Associação Médica - foi importantíssima para dar consistência técnica ao projeto. E tal foi a consistência que, de fato, o projeto foi aprovado por todos os Conselhos da UFMS. Ele consistia em formar o médico generalista, ou se quiserem o clínico geral. Os médicos formados segundo essa estrutura teriam, com certeza, uma forte inclinação para trabalhar em equipes que conhecemos por Médicos de Família. Nesse sentido, Dourados seria uma referência nacional.

No final de 1999, o Pró-Reitor de Ensino da UFMS, professor Edson Cáceres, chamou-me para uma reunião e decretou que o Curso de Medicina em Dourados, embora aprovado em todas as instâncias, somente seria implantado em 2000 se seguisse a mesma estrutura curricular do Curso de Medicina da UFMS de Campo Grande. O professor Edson Cáceres, seguindo a orientação do reitor Jorge João Chacha, foi muito importante na criação do Curso de Medicina em Dourados, mas embora sendo meu amigo, jamais me mostrou os reais motivos, a exata razão pela qual a moderna estrutura que tínhamos proposto e aprovado foi rejeitada.

Vendo-me sem opção, concordei. O Curso de Medicina de Dourados começou a funcionar com a mesma estrutura curricular do de Campo Grande em março de 2000, com um importantíssimo apoio da UEMS (cuja reitora àquela época, a professora Leocádia Aglaé Petri Lemos, havia participado comigo do Projeto Cidade Universitária) e do governo do Estado (com o então governador Zeca do PT).

Perdermos, no entanto, a oportunidade ímpar de implantar uma estrutura moderna e inovadora na formação de médicos. Com a criação da UFGD houve significativas mudanças na estrutura do curso, mas não seria má idéia se os atuais dirigentes procurassem recuperar esse projeto original, mesmo que fosse apenas para verificarem se aquelas ideias inovadoras eram realmente válidas e se fizeram alguma falta ao curso.

De qualquer forma, o importante é ressaltar que o curso de Medicina da UFGD está consolidado após esses dez anos de existência e contribui sobremaneira para o desenvolvimento de Dourados enquanto centro médico-hospitalar.

Seus comentários serão bem vindos: biasotto@biasotto.com.br

 

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