Em torno da gripe suína

 

 A fame, impidemia et bello libera nos, Domine!

(Da fome, da epidemia e da guerra, livra-nos Senhor!)

 

 Houve uma mudança no nome da gripe, não é mais suína por determinação da Organização Mundial da Saúde (OMS), é "influenza A(H1N1)". A indústria alimentícia temendo redução do consumo da carne de porco fez-se ouvir e a OMS aplicou a mudança, corretamente, diga-se de passagem. É sabido que a carne de porco frita ou assada não transmite o vírus, dessa forma criadores e a indústria continuam vendendo e milhares de porcos deixam de ser sacrificados inutilmente.

Além dessa questão de inviabilizar o consumo da carne, a verdade é que a gripe não é mesmo suína, seria gripe porcina, como a denominam os demais falantes de Línguas Neolatinas – italianos, espanhóis e latinoamericanos. Porcus, do Latim resulta em porco na Língua Portuguesa, Sus, também do Latim significa suíno. Suíno, é, portanto o gênero ao qual se incluem várias espécies de porcos que não têm absolutamente nada a ver com a gripe ( por exemplo: javali, cateto ou caititu, porcoespinho – agora sem hifen, creio).

Penso que foi tarde para mudarem o nome, agora todo mundo já assimilou o nome dessa pandemia como suína. Disse pandemia e me explico: as moléstias infecciosas quando estão restritas ao seu foco de origem são conhecidas por endemias, ou seja, constituem um foco endêmico. Ao se alastrarem regionalmente, ou, numa definição mais moderna, quando ultrapassam a cifra normalmente atingida pela doença ganham o nome de epidemia. Pandemia é, em última análise, a disseminação da epidemia, a moléstia alastra-se além de seu foco endêmico, além do âmbito regional e atinge proporções globais. Pan, do Latim, significa todo, logo pandemia é uma endemia que se alastrou por todo o orbi.

Existem estudos históricos interessantíssimos a respeito de itinerários, formas de contágio e maneiras de disseminação das moléstias infecciosas desde as grandes pestes que assolaram o Império Romano, passando pelas pestes medievais, dentre as quais a mais letal foi a Peste Negra de 1348-1349, chegando-se à Peste de 1650, à Gripe Espanhola de 1918 e, mesmo sendo pandemias contemporâneas, também já existem muitos trabalhos sobre a AIDS e H1N1.

Refiro-me a esses estudos sobre essas pandemias para demonstrar que, ao longo de toda a sua história, a humanidade nunca esteve imune. Imune mesmo somente “O menino bolha”, - infelizmente um caso perdido – mas como colocar toda a humanidade numa bolha completamente asséptica? Ou tornar asséptico todo o planeta?

Impossível. Jamais estaremos livres. No entanto não há motivos para nos alarmarmos tanto quanto como quando vimos a reportagem do Fantástico de 1983 sobre a AIDS. Aquilo foi assustador, no entanto vemos que a AIDS já está sob relativo controle.

O momento que vivemos é maravilhoso se comparado ao ambiente medieval que desconhecia vacinas, medicamentos específicos, laboratórios com capacidade para isolar vírus ou bacilos, como no caso do “pasteurela pestis”, responsável pela Peste Negra. Hoje, também ao contrário da Idade Média, as autoridades sanitárias têm perfeito conhecimento das formas de contágio e maneiras de propagação, o que faz com que as medidas preventivas sejam tomadas rapidamente. Levamos ainda a vantagem de possuirmos meios de comunicação instantâneos que nos permitem atitudes rápidas e eficientes para nos precavermos.

Se estivéssemos na Idade Média a Copa Libertadores da América estaria tendo seqüência normal, os estádios mexicanos estariam lotados e a propagação da gripe seria rápida e inevitável.

De qualquer forma todo o cuidado é pouco. Em termos de assepsia o mundo contemporâneo ainda deixa muito a desejar e quanto mais pobre o país e por via de conseqüência, com população menos esclarecida, maior é a possibilidade de propagação de moléstias infecciosas.

Como diziam meus avós, não vamos “montar num porco”.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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