Pequena história da História

 

 

Brinco com o título para dizer que história, ciência, escreve-se com h minúsculo e História, nome de um curso acadêmico, escreve-se com H maiúsculo. Coisas de nosso vernáculo. O que desejo com essa crônica, no entanto, é coisa séria: registrar a importância de termos em nossa cidade um curso que contribuiu sobremaneira para a formação de massa crítica, imprescindível para o nosso desenvolvimento sustentável.

Criado em 1973, o curso de História é o segundo mais antigo da região de Dourados; o primeiro, Letras, foi criado dois anos antes, em 1971. Em 2008, portanto, o curso de História completou 35 anos, sendo que as comemorações encerraram-se no dia 3 de abril de 2009, no anfiteatro da Unidade II da UFGD. Nesse dia houve também a comemoração dos 25 anos de existência do Centro de Documentação Regional, órgão que tive a felicidade de criar em 1983 e que já possui um extraordinário acervo que foi enriquecido com nada menos do que nove obras lançadas pela editora da UFGD por ocasião dessas comemorações.

Voltando à importância da história. Sim, meu caro amigo leitor, a história tem importância fundamental na vida das pessoas, embora muitos digam, parafraseando o que já se disse também a respeito da filosofia, que a história é uma ciência tal que com ou sem a qual o mundo resta tal e qual. Nesse sentido jamais me esqueço da expressão de minha mãe quando cheguei em casa ostentando orgulhosamente a minha matrícula para o vestibular de História em 1969. História, meu filho? Perguntou-me ela como quem gostaria de dizer: para que serve a história?

Entendo história como sendo todo o processo de transformação ocorrido com mediação humana, no entanto, não me esqueço dos ensinamentos do velho mestre Collingwood que nos afirmava que a história é o estudo do passado para se compreender melhor o presente e se ter uma visão do futuro. Uma definição ainda válida, se entendermos o passado separado do presente apenas por um átimo, um instante, um abrir e fechar de olhos e se tivermos também em conta que uma visão que se faça do futuro não pode ser considerada como coisa certa, afinal, a história não se presta às profecias.

Pois bem. Ao estudar história, os alunos passam a ter um conhecimento muito amplo, conseguem fazer uma leitura clara do mundo, do país e de sua própria cidade, pois passam a entender comportamentos, culturas, doutrinas religiosas, sistemas políticos, sociais e econômicos vigentes ou já desaparecidos. Conhecem mais, pois aprendem as teorias da própria história, o que lhes enseja o ato de reflexão. Refletir é pensar o que já foi pensado (mesmo que por nós próprios), ou seja, é um pensar profundo, um pensar maduro.

Nesses seus trinta e cinco anos de existência o curso de História formou milhares de professores que atuam em nossa cidade (e região) disseminando o aprendizado da história. Não a história oficial, do amontoado de nomes e datas a serem decoradas, mas a história que leva à compreensão de como e porque somos o que somos. Como um efeito dominó, os professores formados foram formando os seus alunos dentro desses princípios e, dessa maneira – sem nos esquecermos de dezenas de outros cursos superiores que também abrem a visão dos alunos - é que temos uma massa crítica capaz de elevar o Índice de Desenvolvimento Humano de nossa cidade (e região) a níveis invejáveis.

Ao participar das comemorações dos trinta e cinco anos do curso de História em Dourados tivemos juntamente com os professores Antonio Luís Lachi e Irene Nogueira Rasslan, a oportunidade de relatar aos acadêmicos e aos novos professores do curso, as dificuldades que superamos nos primórdios do curso. Alegrei-me nessas comemorações não somente pela distinta homenagem que recebi, mas em (re)encontrar Doralice Carneiro de Paula e pela sua imagem relembrar-me de todos os alunos da primeira turma. Comoveu-me ouvir a professora Ceres Moraes, hoje dirigente da UFGD, destacar a importância do curso na formação política de várias gerações e afirmar com convicção que “o aprendizado no curso não foi apenas através do estudo acadêmico ou de discursos, mas de uma prática constante de defesa da democracia e da liberdade de expressão bem como no engajamento dos professores e alunos nos diversos movimentos sociais e políticos que então lutavam contra a ditadura e por uma sociedade justa e igualitária”. 

 

Suas críticas serão bem vindas: biasotto@biasotto.com.br

 

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