Se não for x nem y e for z: ensaio sobre política.

 

 

Crônica escrita recentemente sob o título “Um cenário para as eleições de 2010” teve repercussão muito maior do que as que escrevo sobre outros temas. Não me surpreendi, a política é uma arte que desperta paixão, portanto nada mais natural. No entanto, dada a extraordinária reação dos amigos leitores, sou devedor de algumas explicações. Começo por resumir aquilo que disse na citada crônica: sugeri o nome de Tetila para concorrer ao governo do estado, hipotequei o meu apoio à (re)eleição do senador Delcídio e, da mais profunda e equilibrada análise que pude fazer, argumentei que Zeca do PT deveria ser candidato a uma vaga na Câmara dos Deputados. 

Das reações dos leitores em torno do assunto ficou claro para mim que o senador Delcídio é unanimidade. Disputa a cadeira para o senado agora em 2010 e o governo do estado em 2014. Ponto final. Quanto à candidatura de Tetila ao governo do estado muitos a acham viável e uma boa parcela, por outro lado, entende que Dourados não teria condições de elegê-lo. Alegam que Tetila não quis ou não pôde exercer ao longo de seus oito anos de mandato como prefeito uma liderança regional forte que ultrapassasse fronteiras e o transformasse em candidato competitivo..

Quanto à idéia de lançar Zeca à Câmara Federal a zoeira foi maior. Uns entendem que a minha opinião de Zeca ser candidato a deputado é correta e que o nosso ex-governador estaria eleito entre os mais votados, fortalecendo dessa maneira a bancada petista que poderia passar de dois para quatro deputados. Uns poucos pensam que Zeca deveria concorrer ao senado ao lado de Delcídio, e ainda há os que gostariam de ver uma nova disputa entre Zeca e André, desta feita para o governo do estado.

Dentro da lógica de eleger um senador e quatro deputados federais, não haveria dúvidas de que em 2014 o PT retomaria o governo do estado. Mas, como nem sempre o interesse coletivo é o que prevalece, imaginemos que o candidato concorrente de André seja Zeca do PT. Como deveriam agir os petistas, como eu, que não acham essa a melhor indicação?

Vamos por partes, como diria Jack, o estripador.

Os partidos políticos organizados devem ter diretórios em âmbito local, regional e nacional, competindo aos locais (municipais) a escolha de candidatos à prefeitura e câmara de vereadores, aos regionais (em cada estado da federação) a definição dos candidatos à Assembléia Legislativa, Câmara dos Deputados e Governador do Estado e, por fim, compete ao Diretório Nacional a indicação do candidato à presidência da República.

A escolha dos membros desses diretórios, ao menos no meu partido, o PT, é feita de forma democrática, portanto os diretórios constituem-se em legítimos representantes dos filiados ao partido. Por via de conseqüência, os filiados têm o dever de acatar as decisões desses colegiados.

 Ninguém é obrigado a filiar-se a qualquer partido político, mas, uma vez filiado tem direitos e deveres. Dentre os direitos, pode opinar, votar, ser votado; como deveres, entre outros, tem que acatar as decisões do Partido. Logo, se o Diretório, seja ele de que âmbito for, aprovar uma determinada candidatura, o compromisso ético do filiado é apoiar essa candidatura mesmo que não seja a sua preferida. Sim, mesmo que não seja a sua preferida, porque pode acontecer de haver dentro do partido uma disputa interna que leve a uma prévia, como houve, por exemplo, em Dourados, na disputa para a prefeitura em que a pré-candidata Margarida Gaigher, após perder a prévia para a disputa, imediatamente hipotecou irrestrito apoio ao candidato vencedor.

Destarte, se o meu candidato a governador, o ex-prefeito Tetila, não for o escolhido, o meu dever é sair a campo e defender a candidatura posta pelo Diretório Regional. Se o escolhido for o ex-governador Zeca, sairei às ruas como fiz em 1998 e 2002. E olha que em 1998 poucos apostavam no Zeca.

Em conclusão, o que desejo expressar nessa crônica é que temos que ter ética na política. Um filiado a partido político, quando não tem o seu candidato escolhido pelo Diretório, não deve cruzar os braços e nem apoiar outro partido. Isso é imoral. Antes disso, deve ir à Justiça Eleitoral, desfiliar-se e aí sim ficar livre para votar em quem desejar sem que lhe caiba a pecha de traidor.

Quem, como eu, viveu sob a égide de regimes ditatoriais, deve reconhecer que o nosso país avançou muito em termos de democratização, no entanto, há ainda um longo caminho a ser percorrido. Nesse sentido, a Justiça Eleitoral brasileira perdeu a oportunidade histórica de dar exemplo cassando políticos que fazem dos Partidos “balcão de negócios” e trocam de sigla como se troca de camisa.

Suas críticas são bem vindas: biasotto@biasotto.com.br

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br