Em torno da criação da UFGD

 

 

        Na sexta-feira próxima passada, dia 27 de março, participei dos atos de inauguração da UFGD onde recebi calorosos cumprimentos de meus ex-colegas professores e funcionários pela minha participação no processo que culminou com a criação dessa promissora universidade brasileira. Acompanhei atentamente os discursos proferidos pelas autoridades chamadas a fazer o uso da palavra na solenidade e fiquei muito satisfeito com a lembrança de meu nome nas falas do reitor Damião, deputado Biffi e senador Delcídio. Digo dessa minha satisfação porque a criação da UFGD foi a mais prolongada articulação política que realizei ao longo de minha vida e acompanhei detalhadamente todos os passos que foram dados para esse importante empreendimento.

Embora a luta pela UFGD remonte ao final dos anos de 1970, somente consegui documentos a partir de 1982, um tímido artigo que escrevi para o jornal Enfoque. Esse dossiê foi engrossando com o passar do tempo até se tornar um calhamaço enorme que brevemente doarei ao Centro de Documentação Regional, órgão que criei em 1983 no CEUD e que cumpre até hoje na UFGD, importantíssima missão de guardar documentos regionais. 

A última fase da luta pela implantação da UFGD teve início em 2003. Nesse ano deixei de exercer o cargo de vereador a chamado do prefeito Tetila para ocupar a Secretaria de Governo na Prefeitura Municipal de Dourados. A única exigência que fiz foi que o prefeito me permitisse aprofundar a articulação pela criação da UFGD e que ele próprio - que tanto já havia lutado para esse fim, inclusive quando a sua esposa, Zonir Freitas Tetila, fora diretora do CEUD – voltasse a se empenhar nessa luta.

Tetila atendeu-me. Articulei-me então com dezenas de colegas e preparei terreno para no dia 03 de março participarmos da reunião do Conselho do CEUD apresentando a seguinte proposta: nós trabalharíamos a questão política e o CEUD organizaria uma comissão para fazer um novo projeto técnico pois os dois primeiros entregues no MEC em anos anteriores haviam desaparecido e, afinal, estavam mesmo superados. 

Com a proposta aprovada, contatei com o senador Delcídio que, agradecido pelo meu apoio firme ao seu ingresso nas fileiras do PT, atendeu rapidamente ao meu pedido e já no dia 12 de março, portanto apenas 9 dias após a nossa estada no Conselho do CEUD, fez-se presente na Unidade II, onde, no anfiteatro da Agronomia assumiu o compromisso de entrar na luta pela implantação de nossa Universidade. 

Nós já tínhamos um bom time. A sociedade organizada de Dourados e da região já atendera várias vezes ao nosso chamamento para transformarmos o CEUD em UFGD e manifestara-se favoravelmente em cartas abertas, o prefeito Tetila, apoiador do Projeto desde o seu início, estava firme, o então deputado João Grandão também, pois conhecia o projeto desde que fora nosso aluno na Universidade nos meados dos anos de 1980. O Deputado Biffi, atendeu de olhos fechados ao nosso chamamento porque ele também participara conosco efetivamente da luta pela UFGD no início dos anos de 1980, quando era presidente do atual SIMTED. Na qualidade de coordenador da bancada de Mato Grosso do Sul no Congresso Biffi teve um papel importante, convocando toda a bancada para reuniões importantes, especialmente no Ministério da Educação.

Deve ressaltar-se também o papel fundamental do governador Zeca do PT que estava conosco desde 27 de janeiro de 1999, quando a professora Leocádia e eu reunimos o Comitê pro Cidade Universitária, ocasião em que as forças vivas de Dourados fizeram saber ao governador que aquele era o nosso mais importante Projeto.

Relembrando essa reunião de 27 de janeiro de 1999, faço um parêntese, para trazer para essa história a figura mágica do professor Jorge João Chacha, reitor da UFMS àquela época. Chacha era meu aliado de primeira hora para que o Ceud fosse transformado em UFGD, ele tinha consciência de que a UFMS estava sofrendo de uma hipertrofia e que, portanto, era melhor dividir para melhorar. Foi nesse memorável 27 de janeiro de 1999 que o professor Chacha firmou publicamente o compromisso que tinha assumido comigo de criarmos o curso de Medicina em Dourados.

E o que a Medicina tem com a UFGD?

Nós sabíamos perfeitamente bem que a UFMS não daria conta de tocar dois cursos de Medicina. A UFGD seria uma necessidade a partir dele. Tanto é verdade que o reitor Peró, que sucedeu Chacha na UFMS, juntamente com algumas outras figuras nefastas tentaram acabar com o curso.

Estivemos em Brasília muitas vezes para tratarmos com a Bancada e com Ministros sobre a criação da UFGD, mas o passo decisivo foi quando Zeca, Delcídio, João Grandão, Tetila, Biffi, Damião e eu estivemos no gabinete do presidente Lula e ele definitivamente autorizou o Ministro da Educação a mandar o projeto para o Congresso.

Mas, o espaço para uma crônica é pequeno.Volto então ao dossiê. Em 2003 o dossiê sumiu-me por alguns meses caindo em mãos de pessoas que apropriaram-se da rica história ali contida e passaram a desvirtuar dados e fatos.

O fato mais concreto do uso desses dados materializa-se na afirmação de que a iniciativa pela criação da UFGD cabe ao deputado Sérgio Cruz que em 1983 apresentou projeto Legislativo para a criação da referida Universidade. A verdade é que eu convidei o Sérgio, por intermédio do deputado constituinte Sultan Rasslan, para vir a Dourados fazer um debate sobre a UFGD e um grupo de professores do CEUD, incluindo o Tetila, Kiyoshi, Geraldini, Zonir, dentre outros, lhe pediu para tomar a iniciativa de um projeto Legislativo. O próprio deputado Sérgio Cruz já esclareceu que a iniciativa não foi dele. Mas nada adianta: utiliza-se da velha técnica nazista de Goebells em contar mil vezes uma mentira até que ela se torne verdade

 

Críticas e perguntas para esclarecimentos serão bem vindas: biasotto@biasotto.com.br

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br