Emprestamos o título dessa crônica do livro de Moema Viezzer, Se me deixam falar, mas só o título, o conteúdo não tem nada a ver com liberdade de imprensa na América Latina, coisa superada, ao menos do ponto de vista político. O que gostaríamos é que nos deixassem falar ao telefone, coisa que aprendemos a fazer ainda menino, no final dos anos de 1950, na loja do seu Conrado, na cidade de Itápolis, terra do glorioso Oeste Futebol Clube. Girava uma manivelinha, tirava o fone do gancho, colocava no ouvido e escutava uma voz dizer apenas a palavrinha mágica: telefonista. Aí dizíamos o número, de apenas dois dígitos àquela época, e ela completava a ligação.
A telefonia foi se modernizando, passamos a fazer diretamente de nossos aparelhos as ligações para quaisquer partes do mundo, as telefonistas deixaram as cabines das empresas telefônicas e foram ocupar as salas de telemarteking. Falam, falam e não nos deixam sequer desligar o telefone. Vendem-nos cartões, viagens, carros, seguros, mas não nos deixam falar.
Um dia o telefone enguiça a aí nós, viciados com o seu uso, ao invés de nos livrarmos dele, agitamo-nos na busca de conserto. Para tanto temos que dar um jeito de arrumar um outro aparelho porque as reclamações não são aceitas por via de contato pessoal na empresa. Menos mal que não precisamos sequer incomodar os vizinhos, se o telefone tradicional (quase ia dizendo fixo) não funciona, apelamos para o celular e ligamos para a empresa na esperança de que agora sim, cheios de razão, poderemos falar, fazer a nossa reclamação em alto e bom som.
Ledo engano mais uma vez não nos deixam falar. Uma voz cavernosa pede que anotemos o número de protocolo de sua ligação. Que fazer, vamos lá... Anotamos doze algarismos seguidos e quando pensamos que poderemos enfim falar, a mesma voz nos adianta que sabe de qual número falamos, e faz questão de informar-nos que o número é tal e tal, da cidade tal.
Identificados, numerados e sabendo que tudo o que dissermos será gravado, puxamos o fôlego para fazermos a nossa queixa da maneira mais educada que pudermos... Mas vem a mesma voz instruir-nos sobre os procedimentos que devemos adotar: se for para determinado assunto devemos teclar 1, se for outro 2... e assim vai... Ficamos esperando a chance de essa voz nos dizer: se um caminhão passou em frente de sua residência e arrebentou o fio telefônico tecle x. Mas a voz esgotou as suas recomendações e essa alternativa não nos foi dada. Felizmente lembramo-nos de que a voz nos orientou que se o telefone estiver mudo tecle
Bingo! Teclamos 3 na esperança de que agora poderemos enfim falar que o bendito caminhão que ainda não foi desviado para a Perimetral Norte arrebentou o fio. Mas, que nada, lá vem a voz novamente a nos dizer que dentro de 24 horas eles dariam resposta. E ainda por cima, como se a voz não soubesse e já não nos tivesse dito, ainda pede-nos para digitarmos o número do telefone que estamos usando.
Crônica pode ser isso meu caro amigo leitor: o relato das coisas simples de nosso dia-a-dia que no futuro os historiadores usarão como auxiliares para escrever a história. E se você disser que já passou por tudo isso e não perdeu tempo em escrever crônicas não nos culpe, afinal nós também já havíamos passado por experiências idênticas e não tínhamos escrito nada. Ocorre que pela manhã dessa segunda-feira, bem cedo, lêramos a crônica sutil e bem humorada do jornalista e bloguista Valfrido Silva falando sobre a tecnologia que vicia.
Valfrido tem toda a razão do mundo, ao contar que para somar um e trinta mais um trinta a moça do caixa puxou a calculadora ele nos convence de que acabamos viciados
Não teria sido mais fácil se nos tivessem deixado falar que o caminhão arrebentou o fio? Até o caro leitor teria sido poupado. Mas, convenhamos, de que valem tantos avanços tecnológicos se eles não forem postos ao serviço do cidadão-consumidor? As boas invenções, aquelas concebidas para fazer bem à humanidade, não podem ser apropriadas pelas grandes empresas em detrimento do cidadão.
Viva o PROCON!
suas críticas são bem vindas: biasotto@biasotto.com.br
A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.
VoltarSer convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria
A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.
Abrir arquivoNossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.
Abrir arquivoO livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.
Abrir arquivoEsta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política
Abrir arquivoEsse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.
Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.
Abrir arquivoMomentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.