Eleições 2008: pesquisas de opinião e voto útil

 

Longe se vai o tempo em que os partidos políticos lançavam os seus candidatos e ficavam na mais absoluta incerteza sobre a condução da campanha e o resultado das eleições. Atualmente, as pesquisas quantitativas e qualitativas dão aos candidatos uma noção clara dos passos que devem ser dados ao longo do processo eleitoral.

Nos Estados Unidos, desde os anos de 1940, já se faziam pesquisas com elevado grau de confiabilidade. O sociólogo Paul Lazarsfeld, austríaco judeu que migrou para os Estados Unidos em 1933, foi o líder das iniciativas em torno de pesquisas eleitorais (cf. Folha: 2/11/2008). No Brasil, os nossos ensaios sobre pesquisas remontam a 1942, quando foi criado o IBOPE, inspirado no Galup norte-americano. O Data-Folha, fundado em 1983 e o Vox-Populi em 1984, comemoram quase juntos o jubileu de prata e, ao contrário do IBOPE, que fez a sua primeira boca-de-urna em 1988, já nasceram com vocação para a pesquisa política.

O atraso temporal brasileiro em relação às pesquisas eleitorais deveu-se ao fato do Brasil ter vivido, entre 1937 a 1945 e 1964 e 1985, dois períodos ditatoriais.  Mas, não obstante a juventude de nossos institutos, eles se tornaram altamente confiáveis, especialmente no que concerne à boca de urna. Essa confiabilidade trouxe como conseqüência um volume enorme de trabalhos, de modo que todos os três acabaram recusando propostas como as que surgiram de um órgão de imprensa de Dourados, que desejava contratá-los para pesquisas relativas às nossas eleições municipais.

Epa! dirá o atento leitor: “o IBOPE se fez presente sim nas eleições de Dourados”.

Veremos, mesmo porque as pesquisas divulgadas por esse instituto, de renome internacional, diga-se de passagem, prejudicaram deveras a nossa candidatura. Antes, porém, é necessário apontar, após essa rápida digressão sobre institutos de pesquisas conhecidos em âmbito nacional, que também pelo interior do Brasil afora foram surgindo centenas de institutos, nem sempre tão famosos, mas muitos deles dignos de respeito. Não seria diferente em Mato Grosso do Sul e, de modo particular, em Dourados, onde temos também quatro ou cinco institutos. Em razão dessa expansão no setor, podemos afirmar que não faltaram pesquisas aos políticos douradenses, e mesmo as que eram feitas para consumo interno, acabavam vazando, de modo que todas as coligações ficavam mais ou menos bem informadas a respeito dos rumos da eleição.

Não havia como guardar segredo e, em virtude disso, todos sabiam que no final de 2007 a situação era mais ou menos a seguinte: Ari Artuzi atingia assombrosos 78% da preferência popular, Murilo Zauith ficava em torno de 18% e, no PT, dada  a indefinição do partido em torno de nomes, os eventuais candidatos não passavam dos 3%.

Nessa época, o nosso nome já estava sendo cogitado dentro do partido e nós dizíamos em alto e bom som que se pudéssemos escolher o nosso adversário escolheríamos o Ari Artuzi. A nossa visão era de que a elevada popularidade que Ari atingira era fruto de seu trabalho assistencialista e que na hora da escolha do novo prefeito o povo optaria por candidatos mais experientes. Foi o nosso primeiro grande erro.

Voltando às pesquisas: Em março de 2008 Ari tinha 60% de intenções de voto, Murilo 18% e Biasotto 4%. Em abril, Ari 58%, Murilo 15% e Biasotto 10%; em maio Ari 55%, Murilo 16% e Biasotto 11%; em junho, Ari 53%, Murilo 20% e Biasotto 16%; no início de agosto, Ari 38%, Murilo 26% e Biasotto 20%; final de agosto, Ari 33%, Murilo 28% e Biasotto 24%; setembro, Ari 32%, Murilo 28% e Biasotto 29%; em outubro, Ari 33,72%, Murilo 29,71% e Biasotto 26,95%.

Observamos pelos dados acima que até final de setembro houve uma forte tendência de queda para Ari Artuzi, um crescimento lento para Murilo e uma ascendência bastante vigorosa para Biasotto. O quadro era de empate técnico e nós, pelo movimento das ruas, formamos opinião de que havíamos realizado a maior virada da história das eleições em Dourados. No entanto, em 2 de outubro, data da divulgação da última pesquisa, verificou-se o início da arrancada vitoriosa do Ari, um arranque forte do Murilo e, pela primeira vez, a tendência de queda de Biasotto. 

Em nosso entendimento, perdemos a eleição na última semana e um dos motivos foi a divulgação de pesquisas que mostravam dados bem diversos do que apresentamos acima, com o nosso nome aparecendo com 13 e 16%, respectivamente em 16 e 24 de setembro, fazendo com que os eleitores que não queriam o Ari deixassem Biasotto e se somassem a Murilo e por sua vez os candidatos que não queriam o Murilo deixassem o Biasotto e votassem para o Ari.

Mais uma vez o leitor atento argumentará que nós pegamos as pesquisas erradas. Foi exatamente esse o argumento de um Instituto, na defesa que apresentou à Justiça Eleitoral em processo que a nossa coligação moveu.

Retiramos o processo. Agora Inês é morta, no entanto, pairam algumas dúvidas, inclusive ao conceituado IBOPE: 1) Por que a primeira série de pesquisas desse Instituto cobriu Ponta Porá, Três Lagoas e Campo Grande, e não Dourados? 2) Por que um instituto tão poderoso e experiente faria em Dourados, pesquisas abrangendo apenas em torno de 400 consultas, com margem de erro de 5%?

Por essas questões é que todas as pesquisas IBRAPE, IPEMS e IBOPE foram cassadas pela Justiça Eleitoral logo após a divulgação. Mas, após a divulgação o estrago já estava feito.

Fazer o que? A razão não tem dono, e o mundo está cheio de argumentos e de versões para os fatos.

Em nossa versão, as pesquisas que nos colocavam com 13 a 16% das intenções de votos induziram à reviravolta verificada na última semana e esse fato, somado ao financiamento vigoroso que os nossos adversários receberam, levaram ao resultado que todos conhecem.

 

 

suas críticas serão bem vindas: biasotto@biasotto.com.br

 

 

 

 

 

 

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