Eleições 2008: o financiamento das campanhas

 

Continuando a nossa avaliação sobre o resultado das eleições 2008 em Dourados, vamos falar hoje a respeito de mais uma das causas do nosso insucesso atacando problema deveras sério, complexo e mal resolvido até hoje, que é o financiamento das campanhas.

Na avaliação interna que o Partido dos Trabalhadores realizou sobre as eleições 2008 em Dourados, um companheiro disse que não obstante o nosso esforço, o partido não deveria ter escolhido para candidato a prefeito quem houvera sido derrotado na eleição de 2004 para vereador.

Besteira! Tivemos uma expressiva votação em 2002 quando fomos candidato a deputado estadual e muito bem votados em 2004 quando concorremos para vereador. Não nos elegemos porque a nossa legenda nessas épocas era muito poderosa. Nossas derrotas em tais oportunidades foram apenas eleitorais, não políticas, e a nossa contribuição foi significativa. Fizemos respectivamente 4 deputados estaduais e 4 vereadores.

Modéstia às favas. Não nos faltou uma boa ficha de prestação de serviços à comunidade, não nos faltou trabalho, não nos faltou honestidade, coragem, disposição. Faltou, sim, e muito, dinheiro, como também agora nessa recente eleição para prefeito.

Passadas as eleições, nosso pai, do alto de seus oitenta e oito anos, talvez para nos confortar da derrota, fez uma analogia entre o que os seus velhos ensinavam a respeito da arte da guerra e de como ganhar uma eleição: o rei chamou o general, disse-nos ele, e perguntou o que era necessário para vencer a guerra, ao que o general teria respondido, três coisas são necessárias, dinheiro, dinheiro, dinheiro. Da mesma forma na eleição, disse-nos meu pai.

Confortamo-nos, de fato, não obstante o esforço de alguns companheiros e a generosa contribuição de outros, faltou-nos recurso financeiro para enfrentarmos a campanha.

Mas não é o caso de chorarmos o leite derramado, é apenas uma constatação. O que talvez seja oportuno perguntar é se faltou dinheiro para todos os demais candidatos?

Existe uma fábula já antiga que fala da existência de um córrego com nascentes em Campo Grande e foz em Dourados. Esse córrego teria duas nascentes importantes, ambas no Parque dos Poderes, uma nas cercanias do Palácio do Governo, a outra nas proximidades da Assembléia Legislativa. Embora situado no Centro-Oeste do Brasil, esse córrego é típico do Nordeste brasileiro. Às vezes chega a secar, mas em certas épocas avoluma-se, corre célere, inunda Dourados, não com a água generosa das fontes, mas com muito dinheiro para o financiamento das campanhas.

A procedência dessa fábula é que as disputas eleitorais em Dourados são definidas em Campo Grande. Mesmo sendo um importante centro econômico e educacional, a verdade é que ainda não forjamos lideranças capazes de contraporem-se aos interesses dos políticos da capital. Até agora conformamo-nos em oferecer (ou sacrificar?) as nossas lideranças para serem vices, vices que, com o devido respeito, muito pouco contribuíram para com o nosso desenvolvimento. Há vinte anos somos uma cidade de vices governadores.

Mas, voltemos à velha fábula para dizer que, nunca tínhamos ouvido falar em tanta compra de votos como nessas últimas eleições em Dourados. È bem provável que o dinheiro que algumas coligações gastariam com showmícios e brindes tenham sido desviados para o aliciamento de eleitores. Ouvimos falar em pagamento de passagens, brindes que incluíram tanquinhos de lavar roupa e até computadores; sem falar em dinheiro vivo, variando de cem a mil reais.

Mas quem teria a coragem de tentar provar essas coisas. Eu não, e se faço essas considerações acima é porque elas são públicas e notórias e, como consagra o direito, o que é público e notório não precisa ser provado.

De qualquer forma não custa aqui relembrar o discurso de inauguração da sede do PR em Dourados, quando o deputado Londres Machado afirmou, e virou manchete no Diário MS (7/04/2008), que “Eleição só se ganha no dia”.

Também o padre Crispim, em artigo publicado no dia 22 de outubro deste ano, intitulado “perdi meu voto” fala sobre esse assunto. Diz ele: “Claro, que ouvir falar que houve compra de votos é um prejuízo, já que tanto trabalhamos para que não houvesse” e mais adiante:  “aqueles que primam pela honestidade, que acreditaram em eleições limpas se surpreenderam com os votos recebidos e dados a alguns candidatos” .

Por essas consideraçõs acima, vamos deixar bem claro: se houve eleições limpas em Dourados nesse ano de 2008 a limpeza foi em termos de ausência de outdoors, santinhos espalhados pelas ruas, cartazes dependurados nos postes, porque em termos éticos, valha-nos Deus.

Assim sendo, o que precisamos é de uma profunda reforma política nesse país, que preveja o financiamento público das campanhas. Ah! Não nos esqueçamos: se existe alguém que compra o voto é porque existe outro alguém que o vende. 

Na segunda-feira postarei outra crônica: “Eleições 2008: a grande invasão indígena”

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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