A Globo e a sedução das imagens

                             

 

E feito um cruzamento na área, Edmundo sobe, e com a mão, enfia a bola para o fundo da rede adversária. O narrador grita o gol, o juiz valida o gol e o bandeira que acompanhava o jogo por aquele lado do campo corre para o centro do gramado, significando que também validara o gol. Edmundo e seus companheiros comemoram e a bola é colocada no centro do campo. Os adversários protestam, o goleiro reclama tanto que é advertido com cartão amarelo. É gol?

Não, não é gol. O bandeira do outro lado chama o juiz, diz-lhe alguma coisa, provavelmente que o gol foi com a mão e o árbitro, dois minutos depois de ter validado o gol, desconsidera o cartão amarelo para o goleiro que reclamara, puni Edmundo com o cartão e invalida o gol.

Como bom palmeirense que muito criticou a lambança do campeonato brasileiro de 2005, inclusive o comportamento coorporativo da mídia, achei que a anulação do gol foi ótima, afinal  todos vimos que Edmundo usou a mão indevidamente e se o Palmeiras viesse a ganhar por conta desse gol ficaria estigmatizado, como ficou o Corinthians no campeonato brasileiro do ano passado.

Terminado o jogo, Edmundo diz em entrevista que fez o gol com a mão instintivamente, portanto a anulação estava correta, só que se não fosse a imprensa ter avisado, disse ele sorrindo, o gol estaria validado. Na seqüência o técnico Leão, afirmou que não viu o lance, mas que se o gol tinha sido feito com a mão era certo que fosse invalidado. O que não seria certo, segundo o técnico, era se a decisão do juiz tivesse sido tomada em razão de aviso da imprensa.

Desabou o mundo. A Globo, via Sportv sentiu-se ofendida. Fez um estardalhaço grande. Longe de elogiar Edmundo pela sua sinceridade apegou-se no ponto em que ele mencionou que o gol foi anulado graças  a impressa. Vá lá que Edmundo não teria mesmo como negar, mas qualquer jogador de várzea sabe que os jogadores muitas vezes põe a mão na bola instintivamente, da mesma forma que algumas faltas, como impedir a passagem o adversário com as mãos ou com o corpo são também reações naturais em um jogo (embora seja falta)

Para a Globo a “mão de Deus”, que fez o gol para Maradona foi esperteza, a cotovelada de Pelé no rosto do alemão, que além de ser agredido foi expulso, foi esperteza, mas o instinto animal de Edmundo teria sido mal exemplo. Da mesma forma Leão foi criticado por dizer que se o gol foi anulado pela imprensa estaria incorreto e a parte da entrevista onde ele declara que se foi com a mão deveria ser mesmo anulado desaparece.

Aí, vem um show de imagens. A câmera que registrou o gol aparece dirigindo o seu foco para o centro do campo e capta imagens do bandeira que anulou o gol. Não se vê nenhum repórter, insistem os comentaristas enquanto a imagem é repetida. Aparece um monte de gente que eu, particularmente não sei quem e o que faz nas proximidades do bandeira, aparece o técnico conversando com o bandeira, mas eu não sei o que ele disse.

Enfim, a palavra do bandeira como prova irrefutável de que ninguém o avisara. Nenhuma crítica ao juiz que não viu o lance e validou o gol. Nenhuma crítica ao bandeira que corria daquele lado onde saiu o gol por não ter visto o lance e validado o gol.

Essas coisas me fazem pensar que possa haver algo de podre no reino da Dinamarca. Acrescente-se que os comentaristas pareciam bravos e até a linha de frente da Globo foi posta para opinar, mostrar o lance, esclarecer os fatos. Alguns comentaristas, menos graduados, talvez no afã de agradar à Direção da Emissora, exageraram e proferiram um festival tão grande de besteiras de doer os ouvidos.

Nenhuma câmera mostrou e nem simulou, como se faz com os impedimentos, se o bandeira tinha realmente ângulo para ter visto o lance. Aliás o leitor já observou que se houver uma fração insignificante de milímetros entre a bola e o pé do jogador que faz o lançamento a imagem poderá distorcer o fato?

Depois de dois dias ouvindo os comentaristas globais, nos programas esportivos do sportv, promovendo uma mal disfarçada auto-defesa, fui para a cama levando comigo um livro ganho por meu filho em seu aniversário de 23 de janeiro de 1995, chamado “3D: A sedução da imagem”, da Editora Martins Fontes. O livro possui 87 imagens, você as olha e vê apenas figuras disformes, aí você fixa os olhos, muda devagar a posição e com jeito e alguma prática, do disforme surgem imagens lindas, quase encantadas. É uma questão de ângulo.

Não só as opiniões podem ser distorcidas. As imagens também. De qualquer forma eu aprovaria de bom grado o uso de aparelhos eletrônicos para evitar erros no futebol.

Suas críticas são bem vindas pelo site: www.biasotto.com.br

 

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br