Maktube: assim estava escrito, assim devia ser, fulminante.

 

"Fiz o que quis e fiz com paixão.
Se a paixão estava errada, paciência.
Não fiquei vendo a vida passar,
sempre acompanhei o desfile".
Mario Lago

 

 

Uma hora, pouco mais, havia se passado da leitura que fiz de uma página de Ítalo Calvino, “As cidades Invisíveis”, quando o telefone disparou seguidamente com o aviso de que Alaércio Abraão havia falecido. A página lida falava sobre Adelma, a Cidade dos Mortos. Pura coincidência talvez: “se Adelma é uma cidade que vejo no mundo dos sonhos, onde não há nada além de mortos, sinto medo do sonho”.

Mas toda a cidade é um pouco de Adelma, com os seus mortos. Dourados não seria diferente. Diferentes são as pessoas que vivem e morrem em Dourados.

Tive vontade de chorar, mas não fui forte o suficiente. Alaércio não choraria diante da morte, ele, não por não ser forte, mas pela sua maneira de encarar as coisas.

Maktube diria se tempo houvesse para dizer algo. Foi fulminante, disse-me um amigo. Talvez não tenha tido tempo de dizer nada. Nem precisava. O que ele tinha que dizer disse, o que tinha que fazer fez. O que tinha que amar amou. E amou a neta como se fora única. Precisaria viver ainda para ama-la mais ainda?  O que amou foi bem amado E o que amava era como se fosse único. Aos seus muitos amigos dedicava-se como se cada qual fosse único.

Foi fulminante! Como deveria ser então, senão fulminante? A morte veio-lhe com a mesma intensidade com que amou a vida. E a vida foi a sua jihad. Uma luta que valeu a pena, e se lhe faltou a espada, não lhe faltou coração, boca e mãos, as outras forças que a doutrina islâmica consagra para a jihad.

Altivo, sem ser arrogante, humilde sem ser subserviente. Esse era Alaércio.

Queria ser enterrado enrolado em um lençol de linho, mas esse sim, poderia ser enterrado em pé, por não se curvar diante de nada, exceto à sua fé.

Se eu viver para ver a foto de Alaércio Abraão na galeria de ex-presidentes da OAB ou passar por um busto que Dourados com certeza lhe esculpira, mesmo que nada esteja escrito sob ele eu lerei: “Alaércio Abraão, homem de fé, amou intensamente tudo o que fez, foi honesto, digno, austero, tinha um norte a seguir e não se desviava dele jamais”. Embora eu saiba que por trás de toda a sua austeridade, de sua firmeza, sua intransigência com o que lhe parecia errado, havia o espírito alegre de uma criança que poucos conseguiam enxergar.

Vou torcer muito para que no final dos tempos todos os deuses se reconciliem e permitam-nos que nos visitemos mutuamente nos seus respectivos céus. Se não, que a saudade seja uma doce lembrança.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br