O Golpe de 1964 na Regi�o de Dourados: pequena mostra

Em 30 de maio de 2019 comecei a escrever um livro cujo título provisório é “Ressonâncias do Golpe Militar de 1964 na Região de Dourados”. Minhas fontes constituem-se em dezenas de entrevistas que se encontram à disposição no Centro de Documentação Regional na UFGD e que fazem parte de um projeto maior de recuperação de “memórias”. São fontes que dão sustentação à História Oral. 

Não causa deleite ao historiador relatar sofrimentos, mesmo que alheios, mas penso ser minha obrigação trabalhar esse livro pois temos visto na atualidade um processo de negação da história. Digo negação, não revisionismo. O revisionismo procura reinterpretações acadêmicas de acontecimentos do passado sujeitos a imprecisões, a negação consiste em negar fatos comprovados. Dizer, por exemplo, que não houve tortura durante a ditadura militar é negar o que jamais pode ser negado.

Por estarmos em 31 de março, assistiremos a muitas negações, a mentiras deslavadas sobre a ditadura inaugurada nesse dia, por isso exponho uma pequenina amostra de declarações de perseguidos em nossa região abstendo-me de referências nominais que serão devidamente mencionadas quando editar o livro:

“ hoje ali onde é o corpo de bombeiros, o quartel deles ali, a delegacia deles era lá e as salas eram pequenas, mas aquilo nessa época ficou (...) sabe, tinha tanta gente presa que as pessoas precisavam ficar com os braços pra cima porque eram um encostadinho no outro. Então, eram maltratados e taxados de subversivos. Mas era gente boa...”

“Nossos companheiros foram presos por fazendeiros que diziam ‘esse cara ia tomar minha fazenda’” e assim, experimentei a minha primeira prisão, foi onde é hoje o Corpo de Bombeiros (...) Nos meus cálculos, devem ter sido presos aproximadamente umas duzentas pessoas”.

“De vez em quando retiravam um preso de uma cela próxima, duas horas da manhã e davam uma rajada de metralhadora lá fora. Uma pessoa gritava. Isso você ouvindo uma noite, duas, três, foi um suplício, evidentemente que foi uma maldade extrema, quer dizer: que hora vai ser a minha vez? ”

“os presos vindos de Itaporã, Douradina, Bocajá, Panambi; esses foram presos e espancados, eles vieram de joelhos dentro das carrocerias de caminhão, o caminhão correndo e eles de joelhos”.

“parou um jipe, abriram a porta e disseram entra. Atrás tinha dois policiais armados de metralhadoras”.

“no auge da perseguição, o colocaram numa cela solitária, como chama cela de castigo para presos comuns (...) colocaram uma goteira na cabeça dele, um negócio gotejando na cabeça dele, e ele desviava um pouco, mas não adiantava, a noite inteira ele passou com uma goteira na cabeça dele”.

“Chegando lá [indo de Dourados para Nioaque] para depor ele convidou-me para ser seu hóspede e recolheu meu carro, que era uma Kombi velha que eu tinha, recolheu para o quartel e fiquei nove dias, sem saber se estava preso ou se era realmente hospede do senhor coronel”. 

“O exército chegou na fazenda e: “o senhor está preso” O senhor está preso e levou preso para Ponta Porã (...) ele tinha assim um dia marcado para comparecer lá em Ponta-Porã lá no quartel (...) Aí vinha um soldado e dizia: “O senhor pode entrar que o tenente está te esperando”. Chegando lá ele dizia: “ O senhor é o seu [fulano de tal?]

“sou eu.” E ele [o tenente] respondia: “Só queria saber se o senhor estava vivo ainda”.

Esses depoimentos, como diriam os franceses, são apenas o couvert, um aperitivo leve fazendo parte do conjunto da obra que estou a escrever.

Desejo que essa mostra sirva para que os idosos se lembrem e que os jovens conheçam o período cinzento, período de trevas ao qual os brasileiros fomos submetidos. Não se pense, portanto, que a ditadura militar atingiu apenas os grandes centros e pessoas realmente engajadas em lutas contrarias ao golpe de 1964. Alastrou-se pelas pequenas cidades, distritos e vilarejos em todos os cantos de Brasil. E houve mortes, muitas torturas, não apenas físicas, mas também psicológicas, afetando tanto o cidadão perseguido quanto toda a família e a comunidade amedrontada.

Ditadura nunca mais! Esse é o grito que deve ecoar pelo Brasil e pelo Mundo afora.Cheap Rolex Replica Rolex Replica Watches

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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