Dimensionando palavras: diversionistas ou premeditadas?

As palavras são fonte de comunicação, com pesos diferentes conforme os seus autores e os lugares onde são proferidas. Têm o poder de criar: Em Gênesis está posto que Deus, disse: “faça-se a luz e a luz foi feita”. Têm o poder de condenar ou absolver, os reis, antes de formuladas as Constituições eram a expressão da Lei, porque, como afirmou o cronista Fernão Lopes, o rei é a lei viva, e as leis escritas são leis mortas.

Com o passar do tempo os reis foram perdendo o poder de fazer das palavras leis inquestionáveis e, quando foram substituídos por presidentes ou primeiros-ministros, estes já encontraram princípios legais limitando-os, fazendo com que usassem as palavras com a parcimônia que o cargo lhes impõe. Uma palavra mal posta por um governante eleva o preço do dólar, derruba a bolsa de valores, provoca reações de diversas naturezas, inclusive motivando reações populares capazes de subverter a ordem vigente, para o bem ou para o mal. 

Especialistas em marketing político estudam meticulosamente as palavras adequadas que devem ser proferidas pelos presidentes, mas também existem os fanfarrões políticos que, com as suas palavras, mentirosas ou com meias-verdades, formam opinião deturpada entre o povo.

Dia desses, por exemplo, um amigo, dono de uma empresa comercial, classe média alta, afirmou que a USP é um antro de maconheiros. Contestei, mas não adiantou, pois ele afirmou que se não forem todos os alunos maconheiros, ao menos prevalece a maioria deles. Santo Deus! A USP tem mais de 195 mil alunos, é a mais respeitada instituição de ensino superior do país e a imagem que passaram a esse amigo é de que é uma instituição de viciados em drogas.

Não sei quem espalhou mentiras sobre a USP, mas dias atrás, o próprio ministro da educação, afirmou que as universidades são campos de plantio de maconha. Coisa grave, tão grave que a Câmara Federal o chamou para dar explicações. E que foi que disse? Que próximo à Universidade de Brasília [UNB], foram encontrados dez pés de maconha. 

Dito pelo não dito. Acabou-se? Diz uma lenda árabe que uma senhora que espalhava mentiras foi condenada pelo juiz [cádi] a subir em um monte e espalhar um saco de papel picotado e depois recolher os pedaços. Claro que não conseguiu. Então veio a lição de moral: assim também são as mentiras, depois de espalhadas jamais se consegue reverte-las.

Quer dizer que as palavras podem não ter mais a força de lei, mas o seu poder ainda é enorme, tanto para construir tanto quanto para destruir. Ainda nessa semana que finda a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) afirmou em vídeo que “A Havan é da filha da Dilma”. Semana próxima desmentirá, mas da mesma forma que ainda se acredita que a Friboi é do filho do Lula, com certeza não se conseguirá recolher todos os pedacinhos de papel espalhado.

Minha grande dúvida, embora momentânea: ministros e deputados do atual governo estão produzindo essas palavras com orientação de marketing, por formação ideológica ou diversionismo? Pretendem formar opinião popular que os possibilitem destruir as universidades públicas, os adversários políticos, o meio-ambiente e a cultura do país, ou não sabem o valor das palavras?

De qualquer forma o perigo ronda, ameaças surgem, o medo toma conta de muitos intelectuais que já não querem se posicionar publicamente. Artistas brasileiros sentem na pele a desconstrução do cinema e do teatro nacional.

Recentemente artigo de Ricardo Kostscho aponta que “quando Einstein pergunta a Freud como seria possível deter o processo que leva à guerra, Freud responde que tudo o que favorece a cultura combate a guerra”. Ora, amparado no ombro desses gigantes eu não tenho medo em afirmar que tudo o que leva à destruição da cultura leva à guerra, senão ao ódio, à destruição da cidadania.

Tempos difíceis. “Da peste, da guerra e da fome, livrai-nos senhor” e que não nos esquecemos dos cavaleiros do apocalipse onde se inclui também a morte. Eliana Brum [El País] profetizou recentemente que a situação para nós “não vai ficar mais fácil. Não estamos mais lutando pela democracia. Estamos lutando pela civilização”.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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