Dourados altaneira, sofrida, mas amada e bela

Apenas trinta e nove anos tinha você Dourados, quando a conheci em 1974. Sua poeira vermelha, durante as ventanias que sopravam pelas ruas sem asfalto, alevanta-se ferindo os olhos e desesperando as donas de casa que tinham a roupa dependurada no varal. E que dizer desse bendito latossolo vermelho [onde tudo em se plantando dá, como diria Pero Vaz de Caminha], nos dias chuvosos, obrigando os transeuntes a parar vez ou outra para desvencilharem-se do barro grudado nas galochas sobrepostas aos sapatos. Quantos carros atolados, quanta solidariedade.

Dourados que abriga em sua praça principal uma estátua de um homem caindo, um soldado chamado Antonio João, herói da sangrenta guerra da Tríplice Aliança, tombado na fronteira com o Paraguai, mas homenageado em todo o país, inclusive aqui. Cidade dos tempos da Rádio Clube, emissora que não destilava o ódio, mas a informação. Rádio do saudoso Jorge Antonio Salomão e de radialistas que buscavam na France Presse as notícias nacionais e internacionais para acrescentá-las ao noticiário local e coloca-las no ar às sete horas da matina, nas vozes de Cloe Fazano, Albino Mendes, Gilberto Orlando, Velho Tatau. Rádio Clube, grande formadora de jornalistas e radialistas, a exemplo de Valfrido Silva, Marçal Filho e tantos outros.

Cidade que brilha, conforme revela o seu hino “ eis Dourados cintilante de louvor e anseios mil, no futuro confiante, lindo oásis do Brasil’ [Armando da Silva Carmelo] e que é revelada como excelência na produção agrícola, conforme nos diz a Canção a Dourados que “ali não existem montes, por isso posso avistar, céus e terras no horizonte, querendo se abraçar” [Laerte Tetila].

E lá se vão oitenta e quatro anos. Seu sistema de ensino haverá de suportar os ataques que têm sofrido e avançar na formação de cidadãos e não meros alfabetizados funcionais. As suas universidades, e não são poucas, que já são frequentadas por 25 mil acadêmicos, haverão de formar massa crítica tão influente que as Fake News e o ódio disseminado por neofascistas que possuem um microfone à mão, haverão de ser dissipadas pelo amor, pela solidariedade e pela volta de sua gloriosa fama de ser uma cidade acolhedora.

Dourados dos anos de 1970, tempos em que O Progresso, ainda sob o comando de Wlademiro do Amaral e a Folha de Dourados, com Theodorico Luís Viegas, usavam tipo móvel para imprimir as notícias. Quanto trabalho. Quanta revisão.

As velhas jardineiras às vezes desatoladas nas estradas pelos próprios passageiros, deixaram pouca saudade e mesmo as charretes que faziam ponto na esquina da Praça Antonio João, aos poucos foram substituídas pelos táxis.

Ah Dourados, quando a conheci não ultrapassava cinquenta mil habitantes, [hoje mais de 220 mil] mas os seus próceres já haviam posto para funcionar uma escola de ensino superior, o CPD [Centro Pedagógico de Dourados], depois CEUD [Centro Universitário de Dourados] e hoje UFGD. Suas amplas avenidas mostravam o espírito futurista de quem as traçou. A arborização ajudava a espantar o calor, suas igrejas confortavam as almas e os seus hospitais aliviavam a dor corporal.

Eu a conhecia a palmo, mas o meu vigor não conseguiu acompanhar o seu. Felizmente. Você cresceu, você se embelezou, você se tornou uma cidade média com os bens de uma cidade grande.

Parabéns Dourados aos pioneiros antigos pela sua visão futurista e para os pioneiros mais recentes por lhe abrem novos caminhos e perspectivas alvissareiras.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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