Cidades do carro, cidades do passado

Motoristas buscam um local para estacionar nas proximidades de onde precisam estar. Rodam em torno do quarteirão na busca de vaga, dificultando ainda mais o trafego que já é pesado. A indignação toma conta porque não se pode mais marcar um horário com precisão, os atrasos são constantes. Manila, por exemplo, nas Filipinas, tornou-se uma capital caótica. Luiza Duarte, na Folha de São Paulo, de segunda-feira passada, demonstrou essa situação e contrapô-la com localidades contemporâneas que investem nas pessoas, não nos carros: Singapura congelou o número de carros na rua, Hong Kong investiu em metrôs e trens-bala, Madri, Paris, Hamburgo, Atenas, Cidade do México são outras localidades que investem em ciclovias e outras modalidades de transporte.

Algumas cidades mundo afora ainda insistem em dar a preferência aos carros, mas quando trabalhamos no projeto Dourados Cidade Educadora, descobrimos que em algumas cidades japonesas os pais, usando carros, não deixavam os filhos nas portas das escolas, aproximam-se apenas no quadrilátero próximo. Dessa forma as crianças iam a pé, com os mais velhos cuidando dos mais novos, favorecendo o trânsito e não provocando filas duplas.

Na Itália, algo semelhante acontecia na “Cidade das Crianças”. Não se tratava de um parque instalado na cidade, mas de atenção especial a todas as crianças que seguiam a pé para a escola sob o olhar atento dos comerciantes.

Alguns prefeitos de Dourados preocuparam-se em dar à cidade algo diferenciado: José Elias Moreira, com projeto de Jayme Lerner, promoveu a ampliação das calçadas e estreitamento das avenidas, criou dois parques na cidade e proibiu a edificação de prédios com mais de 3 andares. Significa dizer que os imensos buracos vazios da cidade seriam ocupados e as pessoas ficariam com os pés mais próximos da terra. As tubulações de água e esgoto, as redes elétricas e mesmo o tráfego, não ficariam sobrecarregados com a invasão de arranha-céus. Luiz Antônio Alvares Gonçalves, por sua vez fez o calçadão defronte à Escola Presidente Vargas e, a seu pedido, o governo do Estado fez a ciclovia do prolongamento da Avenida Marcelino Pires.

Na administração Tetila, os parques Antenor Martins e Arnulfo Fioravanti foram reativados e criados os parques da Usina Velha e do Cachoeirinha. As ciclo faixas, utilizadas principalmente por trabalhadores, foram alvo de elogios no Ministério das Cidades que, inclusive, distribuiu folders ilustrativos para todo o Brasil. Jorge Torraca e Oslon Carlos Estigarribia Paes, respectivamente secretário e superintendente de Serviços Urbanos, esmeravam-se da manutenção dessa expressiva rede exclusiva para ciclistas então constituída.

Dourados tornava-se exemplo para todo o Brasil, não estando só, São Bernardo, Salvador, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro são alguns exemplos de um povo que está percebendo que a bicicleta se torna um meio de transporte mais rápido do que o próprio carro.

Motoristas apressados e donos de comércio provavelmente aplaudissem a ideia de transformar os canteiros centrais e os parques ambientais em zonas de estacionamento, no entanto Tetila, sendo geógrafo e ambientalista, não à toa, teve em sua administração dois urbanistas de elevada compreensão do futuro: Luís Carlos Ribeiro, arquiteto que já havia trabalhado na administração de Brás Melo, com projetos audaciosos, como o Monumento ao Colono e o Parque Laranja Doce e Mário César Tompes, geografo, com doutorado pela USP e com larga experiência internacional. Preservaram os canteiros centrais e projetaram calçadas, calçadões e pistas de caminhada para pedestres.  

 A citação desses protagonistas não desmerece a participação da equipe, destacando ainda, entre outros atuantes secretários, José Marques Luís, diretor da Instituo do Meio Ambiente e do Secretário de Fazenda Alaércio Abraão, com disposição leonina para a aquisição do terreno onde está localizado o primeiro aterro sanitário de Mato Grosso do Sul. 

Recordar iniciativas avançadas do passado não o trazem de volta, absolutamente, no entanto temos que reconhecer duas faces da mesma moeda: a história nos dá base para melhor compreensão do presente e permite-nos uma visão do futuro, mas a mesma história nos demonstra que existem também rupturas e, portanto, ainda defensores de cidades para os carros.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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