Se foram trinta anos desde o do primeiro debate presidencial na TV

Domingo passado a BandNews reprisou o primeiro debate televisionado entre presidenciáveis brasileiros. Dos 22 candidatos a Band convidou onze deles, sendo que apenas nove compareceram: Afife Domingues, Afonso Camargo, Aureliano Chaves, Brizola, Caiado, Covas, Lula Maluf e Roberto Freire. Faltaram Ulisses Guimarães e Fernando Collor.

No debate percebia-se claramente três posições distintas. Afife, Camargo, Aureliano, Caiado e Paulo Maluf defendiam a ideologia de direita; Mário Covas, tinha postura de centro-direita; Brizola, Lula, e Roberto Freire posicionavam à esquerda.

No que diz respeito à economia, eis um resumo das propostas feitas pelos candidatos. Os representantes da direita, inclusive, nesse caso, os mais à extrema, defendiam o controle rigoroso dos gastos governamentais, incluindo cortes em investimentos nas estatais, privatizações, cortes no pagamento aos aposentados, de modo que o Estado não recorresse a empréstimos, evitando o aumento da dívida pública. Mário Covas, embora com menos ênfase, especialmente em relação às privatizações, defendia os mesmos argumentos. A esquerda defendia investimentos estatais para a promoção do desenvolvimento, aumento da massa salarial, redução dos juros tanto no pagamento da dívida interna quanto externa e preservação do patrimônio público.

Comparando-se os debates de 1989, com os ocorridos em 2018, portanto decorridos trinta anos, o que podemos observar é que no discurso da direita houve uma radicalização maior. Durante o governo Temer, o Congresso aprovou uma Emenda Constitucional, logo batizada de “Lei do fim do Mundo”, que congela os gastos governamentais durante os próximos vinte anos. Significa dizer que essa PEC do teto dos gastos acabou justificando a reforma trabalhista; reforma da previdência, com o fim das aposentadorias e a privatização do patrimônio público, inclusive das Universidades e Petrobrás. Enfim, vinte anos de absoluta estagnação na saúde pública e na educação.

Para quem defende o neoliberalismo, ou seja, o estabelecimento de um estado mínimo, foi um avanço gigantesco, um passo de sete léguas para a acumulação do capital em detrimento da valorização do trabalho, com o aumento da massa salarial e consequente aquecimento da economia.

O posicionamento das esquerdas, nos dias atuais, permanece sem grandes alterações, trata-se da defesa e implantação de um estado de bem-estar-social, mais ou menos como previsto por Keynes. A esquerda parece marcar passo, apenas defende-se. Enquanto isso, mesmo no mundo capitalista, a exemplo da França, Alemanha, Japão e Estados Unidos, o Estado agiganta-se, não tem nada de mínimo, haja vista, por exemplo os investimentos na NASA e nos trens de alta velocidade [trem-bala], nos demais países mencionados.

Mas, voltando à comparação entre os debates atuais com os de 1989. O vencedor do pleito atual, Bolsonaro, não compareceu a nenhum deles e venceu a eleição com 55,13% dos votos, contra 44,87% de Haddad [diferença de 10,26%]. Em 1989 Collor, que compareceu apenas nos debates realizados no segundo turno, obteve 55,13% e Lula 46,97% dos votos [diferença de 8,06%].

Significa dizer que ao longo dos últimos trinta anos a oscilação foi apenas de 2 pontos percentuais. Em 1989 as pesquisas realizadas próximas ao pleito apontavam empate técnico entre Collor e Lula, em 2008 apontavam 56% para Bolsonaro e 44% para Haddad.

Na disputa de 1989 houve dois debates no segundo turno, um no dia 3 e outro no dia 14 de dezembro. No primeiro Lula foi melhor, no segundo Collor sobressaiu-se e a Globo, no dia seguinte, editou o debate mostrando os melhores momentos de Collor e os piores de Lula. Foi um massacre midiático.  Na eleição de 2018, novamente a Globo entrou em cena, dessa feita muito antes da véspera da eleição. Já em 2014 esteve em campanha para a derrubada da presidente Dilma e, a partir de então, acompanhada pela mídia provinciana espalhada pelo Brasil afora, trabalhou a desconstrução do PT e, em conluio com a operação Lava a Jato, contribuiu para a prisão de Lula e seu consequente afastamento da disputa presidencial.

A aposta da Globo e da elite brasileira em Collor resultou em retumbante fracasso, nessa nova aposta em Bolsonaro, em 2018, a história se repete, dessa feita em forma de farsa.

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