1º de abril: Até aqui o Laquicho vai bem

Consagrado como o dia da mentira o primeiro de abril nos traz à lembrança os causos de Liberato Leite de Farias, o Laquicho. Embora tenhamos que distinguir mentira de causos, as histórias de Laquicho às vezes foram confundidas com mentiras. A verdade é que em sua época [final dos anos de 1930, início dos anos de 1940], sem Internet, televisão e mesmo rádio, a distração do povo douradense eram os bailes, os churrascos e a contação de causos. Famosos nesse quesito eram o Major Capilé, Doutor Camilo, dentre outros, mas o Laquicho era o campeão, segundo depoimentos de contemporâneos seus.

O causo que consagrou a expressão “Até aqui o Laquicho vai bem” foi resumida em entrevista com Dona Ercília Pompeu de Toledo como sendo uma frase que faz parte da história de Dourados. A história segue resumida a seguir.

“Tarde de domingo. Peões, moças bonitas, a vizinhança toda ali na fazenda. Parecia um dia de festa. O cavalo estava preso no curral, mas ninguém conseguia laçá-lo. Então o Laquicho falou: “Olha, vou deixar a porteira semiaberta e ficar em cima, vocês soltem o bruto, quando ele passar eu saio em cima”. Assim foi feito. Quando os peões livraram um caminho no curral, o tordilho saiu desembestado. Ao passar pela porteira, o Laquicho caiu-lhe no lombo. Incrível! Tamanha era a rapidez do cavalo que ninguém soube explicar como Laquicho conseguiu essa proeza, ainda mais montado em pelo, sem rédea, sem nada. O certo é que a plateia pouco vira. O cavalo disparou deixando um rastro de poeira. A peonada presente, a maior parte com os cavalos encilhados, saiu atrás. “Já caiu” – diziam uns. “Vamos pegar logo” – repetiam outros. Foi indo, foi indo, a turma começou a se preocupar... Laquicho também estava preocupado. Não preocupado consigo, pois apesar dos corcoveios do cavalo, se aguentava bem. Sua preocupação era com Melica. O que estaria ela pensando lá no meio daquela gente, todos estranhos? Ele logo imaginou que, com toda a certeza, a peonada sairia atrás dele. Então, o que fez? Começou a deixar recado. Quando encontrava um lugar propício, em cada corcoveada, cada ladeada que o cavalo dava, ele, com o dedão do pé, escrevia na areia: “Até aqui o Laquicho vai bem”. Seguindo os recados, os peões perceberam que o cavalo estava cansando: o último recado estava em letras góticas, sinal que o Laquicho tivera tempo para caprichar na letra. Mais um pouco, a peonada encontrou o Laquicho com um lenço, enxugando o suor da cara do cavalo, que deitara exausto. Enquanto a plateia o cumprimentava pela ideia de escrever “Até aqui o Laquicho vai bem”, ele lembrou-se de que era analfabeto”.

Os causos do Laquicho ancoravam-se na paisagem e nas circunstâncias vividas em sua época. Eram histórias que poderiam ser contadas em qualquer ambiente, seja para uma plateia de homens, mulheres ou crianças. Talvez o caso mais malicioso que inventou foi uma das histórias de papagaio.

“Estava o Laquicho contornando uma mata quanto escuta “Ai João... ai João...” Que seria aquilo? Laquicho para, fica atento, olha... e aquilo continua... ai João... ai João. Então ele entre mata adentro foi ver o que era aquilo, quando viu era um joão-de-barro tirando um espinho de macaúba do pé do papagaio.”

O livro “Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias”, está disponível no site: www.biasotto.com.br

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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