Meia-volta, volver... sobre soldados israelenses

A vinda de soldados israelenses ao Brasil está envolta em muita nebulosidade, o que não é de se estranhar diante do período de obscuridade em que vivemos.

136 soldados [30 mulheres, 106 homens], cães farejadores e 16 toneladas de equipamentos, incluindo sonares capazes de localizar pessoas em grandes profundidades, foram trazidos para o Brasil.

Só não sei a pedido de quem vieram. Não pode ter sido pedido pela Vale, senão, ela já poderia ser considerada um Estado independente dentro do Brasil [mais ou menos como a “Matte Larangeira” em Mato Grosso]. O governo de Minas também não teria autonomia para tanto. O governo brasileiro, que eu saiba, também não fez nenhum pedido oficial. Provavelmente tenha sido um oferecimento de Benjamin Netanyahu, o primeiro ministro israelense, o mais prestigiado amigo de Bolsonaro até o momento.

Não acredito que a vinda dos israelenses tenha significado algum tipo de ajuda humanitária. Outros estados brasileiros e as nossas forças armadas dariam conta de ajudar Minas Gerais nessa árdua tarefa de resgatar as vítimas. Ademais, haveria muitos outros países prontos a prestar o mesmo tipo de apoio. Por que então Israel?

            Da mesma forma que não acredito que a vinda desses soldados significasse ajuda humanitária, também não acredito que os equipamentos trazidos tenham sido usados para explorar a existência de nióbio ou qualquer outro tipo de minério.

Mas a verdade é que a vinda dos israelenses não resultou em algo proveitoso, seus aparelhos e vestimentas, ao que tudo indica, eram realmente inapropriados. Não consta que tenham salvo alguém, ao contrário, um deles foi socorrido por um bombeiro brasileiro.

Cinco dias transcorridos [ 27 a 31/01/2019], os soldados de Israel voltaram para a sua terra. E o porquê também não se sabe exatamente. Com certeza, não houve antissemitismo, mas, talvez, desentendimento com os bombeiros brasileiros ou, ainda, e com mais precisão, a sinceridade de terem reconhecido que não era a seara deles.   Vá lá! Se não pudermos avaliar precisamente as razões da vinda e da partida, por serem decisões superiores, ao menos não podemos deixar de reconhecer e agradecer ao fato de terem entrado na lama e dado o que tinham de melhor para oferecer, ou seja, a intenção de salvar vidas.

Mas [ai! essas conjunções adversativas] pode haver caroço nesse angu, santinhos podem ser de pau oco. Existe uma história que, como dizem os italianos, se não é verdade é bem concebida [si non é vero é benne trovato]. Vejamos:

O decreto 9637, editado pelo governo Temer no dia 26 de dezembro de 2018, portanto, no apagar das luzes de seu mandato, e com grande possibilidade de ter sido sugerido pela equipe de transição, amplia sobremaneira a relação de equipamentos e sistemas de inteligência e segurança cibernética que podem ser comprados com dispensa de licitação e sigilosamente. Por seu lado, a Medida Provisória 870, de 1º de janeiro de 2019, abriu para a Secretaria da Presidência a possibilidade de “supervisionar, coordenar, monitorar e acompanhar as atividades e as ações dos organismos internacionais e das organizações não governamentais no
território nacional”.

Ora, como é sabido, e muito bem explicado pelo doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal do ABC, Sérgio Amadeu, “Israel tem um grande número de startups nessa área e algumas dessas empresas, segundo denúncias veiculadas nos dois últimos anos, têm usado software de intrusão para espionar pessoas”.

Ora, ora, então o interesse do governo Bolsonaro em relação à Israel não é a dessalinização para irrigar o Nordeste? Podemos até pensar que o presidente não seja um cidadão esclarecido e que cometa gafes sobre gafes, mas convenhamos, a sua equipe, composta de muitos generais, parece ser bem mais esperta do que aparenta. Os seus ministros deveriam saber que a dessalinização já era praticada em vários estados do Nordestes, mas enquanto a nossa atenção ficava voltada em zoar com essa pseudo ignorância, eles estavam vendo como poderiam implantar um estado de vigilância permanente, especialmente sobre ações das Organizações não Governamentais e Movimentos Sociais.

Netanyahu não é bobo, veio para agradar a Bolsonaro, talvez por ele ser um joguete nas mãos de quem deseja implantar novamente um regime de exceção no Brasil.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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