“Parem de colar senão eu choro”

Era a primeira avaliação do ano. A professora mal distribuirá as provas e já se iniciara o tumulto. Acintosamente os alunos abriam seus cadernos, passavam entre si papéis com anotações, espichavam os pescoços para a frente, para trás, para os lados, mais parecendo uma aula de Educação Física, na hora do alongamento. Isso tudo sem contar a vozeria que se propagava pelos corredores prejudicando o andamento de outras aulas.

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Pela cabeça da jovem professora, recém-formada e incapaz de qualquer atitude eficaz, como num turbilhão passavam infindos pensamentos. Devia ter sido advogada, como pretendera o pai, mas desviou logo esse pensamento admitindo que faculdade particular é para classe média, para gente que tem uma renda compatível com o preço das altas mensalidades, mesmo que isso signifique sacrifícios para a alimentação habitação e lazer.

Em curso que exige dedicação integral nem pensar, sua formação de primeiro e segundo graus não lhe permitiria sequer a audácia de tentar um vestibular. Bem fizera. Não vira o primo, um menino muito bem-dotado de inteligência que ingressara na UNICAMP, num desses cursos, mas que desistira pouco antes de completar o primeiro semestre? Os pais não podiam arcar com nenhuma despesa, é verdade, mas não que lhe tivesse faltado outro tipo de solidariedade: uns colegas, com certeza mais privilegiados, permitiam que pulasse a janela da garagem que alugavam e dormisse com eles. O inconveniente era esperar até a hora que a senhoria se recolhesse, normalmente tarde. Além do sono não lhe satisfazer as necessidades acabava incomodando os colegas. Depois, nem só de sono e lições vive o estudante, o almoço do restaurante universitário não era suficiente ... Compreendia bem porque o rapaz não aguentara seis meses e dera para beber, um frustrado, isso é o que era.

Ela ao menos tinha conseguido um diploma, e em ciências exatas. É certo que pouco tempo passara por laboratórios, mas tinha visto alguns protozoários em microscópio, coisa bem diferente de seus colegas pedagogos, geógrafos e historiadores que, quanto muito leram alguns alfarrábios para se formarem.

O reboliço dos alunos trouxe-a de volta do mundo das divagações para o da realidade. Na verdade, o que a fez acordar daquela espécie de transe hipnótico foi uma frase mais incisiva de um aluno afirmando categoricamente que aquela classe já fora responsável pelo internamento de uma professora em manicômio.

Não que acreditasse que alunos fossem capazes de enlouquecer professores, mas porque lhe fizera lembrar de um compromisso: haveria de passar pelo hospital no intervalo do almoço para visitar uma colega mais velha, já na casa dos cinquenta, que quebrara alguns ossos em consequência de uma queda.

Coisa lamentável, pensava a jovem professora, a enferma ficara oito dias em sua própria casa aguardando a prótese que lhe reabilitaria, sofrendo sabe-se lá quanta dor, e agora, já internada, sequer sabia que deveria arcar com as despensas, pois seu instituto de previdência estava inadimplente há meses, portanto sem crédito junto aos médicos e hospitais.

Tantos anos de contribuição mensal e no momento da necessidade... Onde teria sido enfiado o dinheiro da Previdência, pensou, mas logo concluiu que esse tipo de reflexão não era da sua alçada. Pôs, pois a pensar de onde a colega tiraria tão vultuosa importância, se ao longo dos anos dedicados ao magistério não havia conseguido sequer amealhar recursos para comprar-se um carro, mesmo que usado? Usado, porque o tal carro popular é coisa para o povo, categoria social ainda não atingida pelos seus colegas de profissão.

A classe em prova, onde se presume a existência de um ambiente próprio à reflexão era um alarido.

E a professora, que até então entre um pensamento e outro, pedia silencio, respeito e coisas do gênero, de repente, soltou a voz da garganta para sintetizar numa frase, a sua impotência e angustia diante de um quadro cuja autoria não lhe pode ser atribuída com exclusividade: “Parem de colar senão eu choro’

  publicado em O Progresso em 2/071996

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