Três sucessivos e grandiosos complôs

            Escrevo essa crônica antes do término da greve dos caminhoneiros, portanto não tenho conclusões, embora já possa antecipar o meu receio de que ela possa ser também um locaute, ou seja uma paralisação promovida, ou apoiada, pela classe empresarial que deseja socializar os seus prejuízos advindos da tresloucada política de preços da Petrobrás. Sim, locaute, porque o diesel sustenta a frota, sustenta a indústria, sustenta o agronegócio e prejudica a elite que não quer assumir custos.

            Mas, mesmo sendo um locaute, os caminhoneiros têm ganhado o apoio das Centrais Sindicais, indicando que os trabalhadores, em geral, também estão descontentes com a política da Petrobrás, feita para os rentistas. Tanto é verdade que a política de reajustes era para garantir renda de investidores que, com a greve, o preço das ações de nossa petroleira [será ainda nossa? ] caiu 14% na bolsa de Nova York.

Outra preocupação é que alguns caminhoneiros pedem intervenção militar. Isso tem implicações profundas. Na manifestação de 2013 clamavam por “fora Dilma”, agora não gritam “fora Temer”, ou “Luva Livre”, mas desejam os militares. Significa dizer: eles não sabem o que é uma ditadura militar, ou muitos deles são usados pelos patrões, ou, ainda, estão envergonhados de terem tirado Dilma do comando do país e não dão o braço a torcer.

De qualquer forma, essa greve [ou locaute, ou ambas as coisas], consagra o sepultamento ou embalsamamento do governo Temer e, queira Deus, da política neoliberal.

Já disse, não sei o final da história, mas o começo e o meio foram prenúncio de muitas tormentas. Para impedir voos mais elevados de nosso país existe um farol imenso vigiando-nos desde o final do governo Vargas e que aumentou o faixo a partir dos anos de 1960. São os Estado Unidos vigiando-nos constantemente, interferindo em nossa soberania.

Em 1964 tivemos o início da Ditadura Militar. E essa ideia, é claro, veio dos Estados Unidos, com a teoria da “Segurança Nacional”. Essa doutrina positivista autoritária foi orientada pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria e tinha como objetivo combater o “perigo comunista”. Com essa esfarrapada desculpa nossa política econômica ficou à mercê do capital estrangeiro e a nossa juventude foi castrada em suas aspirações democráticas.

Sepultada a doutrina da segurança nacional, com a queda do muro de Berlim, já não se podia culpar o “perigo comunista”, então veio o Consenso de Washington em 1989, levando ao mundo o neoliberalismo, ou seja, a exacerbação do liberalismo econômico. O objetivo anunciado pelo programa era o de combater a miséria nos países subdesenvolvidos, especialmente na América Latina, mas o que se pretendia verdadeiramente era a diminuição do poder de interferência do Estado na economia [pretendia-se o “Estado Mínimo”]. No Brasil, com FHC o neoliberalismo provocou o sucateamento dos órgãos públicos, a privatização do patrimônio nacional e a miséria de milhões de brasileiros.

Mas, não há mal que nunca se acabe. Os países sul-americanos, revoltaram-se com o neoliberalismo e buscaram nos perseguidos pelas respectivas ditaduras militares os seus governantes, dentre os quais Uruguai [Mujica], Argentina [Cristina Kirchner], Brasil [Lula], Paraguai [Lugo], Bolívia [Evo], Chile [Bachelet].

Com esses governos populares a elite perdeu quase nada, uma migalha, mas assustou-se, não conseguiu enxergar além da curva, não imaginou que quanto maior fosse a renda do pobre maior seria a sua lucratividade, então encontrou na corrupção o bode expiatório.

Com a desculpa do combate à corrupção, os governantes de esquerda da América Latina, vão sendo depostos, por votação financiada, como na Argentina, com o golpe parlamentar testado inicialmente no Paraguai, com a derrubada de Lugo, e no Brasil com o golpe de 2016 que culminou com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula.

Esses três grandes complôs contra a América Latina foram todos bem planejados, mas na hora da execução nem sempre deram certo ou foram duráveis. O movimento dos caminhoneiros é prova disso. Não sei no que vai dar, mas pode ser que falte combustível para os helicópteros que levam e trazem a seleção brasileira mais estrangeira do mundo para a Granja Comary. Aí o bicho pega. Vai ter bloco com camisa amarela, batendo panela e gritando “salve a seleção”.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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