Vamos a la playa

Righeira: Vamos a la playa // Todos con sombrero // El viento radiactivo // Despeina los cabelos // vamos a la playa oh oh oh oh oh.

Talvez fosse melhor a nós, brasileiros, irmos à luta, mas o silêncio de um povo por vezes fala alto, então, enquanto aguardamos o rompimento desse silêncio angustiante, vamos à praia.

Para a classe média a praia aberta ainda é uma opção, a praia e os clubes sociais das cidades. Para os mais afortunados a preferência atual são os resorts e condomínios fechados.

Ao descer para o litoral norte paulistano, em um trecho de cem quilômetros, quatro, cinco, até seis horas de viagem Ninguém pode arrepender-se. Impossível ir, impossível voltar. Se todos largassem os seus carros e descessem a pé seria mais rápido, no entanto essa atitude provocaria o caos e, além do mais, como subir de volta?

Quem previa chegar por volta de uma hora da tarde chega às seis. Se for do tipo azarado, com ele chega também uma pancada de chuva. Preso na estrada, preso no quarto, sem sequer ver o mar.

Mas o sol brilha para todos, ao menos um pouquinho aos sábados. “Não há sábado sem sol, domingo sem missa e segunda sem preguiça”, ensinava minha avó. Os menos avisados descem sobrecarregados com cadeiras e barracas, mas os espaços já estão ocupados. Os donos de quiosques já armaram os seus guarda-sol. Em algumas praias são gratuitos, basta a consumação, em outras já se cobra pelo seu uso, até 150 reais por dia. Débito ou crédito? Crédito. Uma latinha de cerveja, 7 reais. Crédito. Porção reduzida de camarões pequenos, sessenta: Crédito. Milho, crédito. Sorvete, crédito. O cartão chega a afinar. Permita Deus que não dê chabu, como nos fogos de artifício.

Vai para pegar sol, mas só pega o mormaço, os guarda-sol se encontram e transformam a praia em enorme sombreiro. E se vai pegar uma onda enche-se de protetor solar, medo do câncer de pele. 

Espremidos entre o mar e as barracas, homens e mulheres caminham. Saudades dos tempos em que Vinicius cantava “Garota de Ipanema: olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...”. Naqueles tempos as garotas desfilavam, hoje (parte delas) não mais desfilam, caminham, exercitam-se, mas sem consciência pesada, cada um de nós é dono de seu corpo, se as barrigas dos homens há anos já se apresentavam abundantes e se as mulheres mais velhas andavam com maiôs, agora está liberado. Homens e mulheres com igual direito de exibirem-se como são. A verdade é que estamos engordando, e desde crianças.

Cachorros passeiam com dificuldade entre o emaranhado de pernas humanas. Uns sem dono, outros conduzidos carinhosamente. Não há fiscalização, provavelmente nessa época as farmácias aumentam o estoque de pomadas e remédios para combater o bicho geográfico.

De qualquer forma as pessoas ficam felizes. Como já disse alguém, não é água com açúcar que acalma, é água salgada. O mar faz bem, desde o murmúrio das ondas, mas principalmente porque “o mar quando quebra na praia, é bonito” (Caymmi) e desprende aerossóis, chamados de maresia, que exala um ar úmido e saudável trazido pela brisa.

Prefeitos de cidades sem mar deveriam ao final do ano letivo, fretar alguns ônibus para levar as crianças de escolas públicas para conhecerem o mar (ou Bonito, ou o Pantanal). Ficariam felizes e irradiariam alegria aos colegas que criariam a expectativa de um dia poderem ir também.

Mas feliz mesmo em ir à praia ficaria o presidente Temer. Com certeza ele não daria a mínima importância para a maresia, ou para as garotas do tipo da de Ipanema (ainda existem muitas), mas ficaria entusiasmado com a geração de emprego que o seu governo proporciona. Gente vendendo de tudo, espetinho de camarão, queijo assado, bijuterias, rosas artesanais, mega sena, castanha de caju, bombons, sorvetes, batatas, óculos achados na praia. Gente catando latinhas para vender a dois reais o quilo. Temer entusiasmado ligaria para Meirelles convidando-o para comparecer urgente na mais espetacular mostra de geração de empregos de seu governo. Chamaria também a Globo para mostrar ao Brasil inteiro o seu êxito governamental. Hehe, e se as câmeras conseguissem focar vendedores bem velhinhos, seria uma ótima imagem para alavancar a reforma da previdência.  Os marqueteiros do presidente estão falhando, queriam mandá-lo para uma praia reservada, ora vejam. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

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