Somente o amor dissipa o ódio

A frase título dessa crônica é de Buda. Não professo o budismo, no entanto reconheço a sabedoria de seus ensinamentos: “Neste mundo o ódio jamais dissipou o ódio. Somente o amor dissipa o ódio. Essa é a lei, ancestral e inexaurível” (Buda).

É isso. Do ódio não nasce um sorriso, um abraço ou qualquer coisa de bom. Não somente no budismo, mas outras religiões, especialmente o cristianismo, pregam o amor, não o ódio. Para “Construir o Homem e o Mundo” (Michel Quoist) é preciso não nos esquecermos de que somente o amor constrói.

No entanto é inevitável percebermos que o mundo está cada vez mais alimentando o ódio. Senão como explicarmos o ataque de Las Vegas, os atentados terroristas? Como entender as manifestações de rua na Venezuela? Grupos armados no Paraguai e na Colômbia?

E sobre o Brasil, o que pensar? O que estamos vivendo? O que estamos plantando para o futuro próximo? Collinwood em 1946, em seu imortal livro “A Ideia da História” nos ensinou que a história é o estudo do passado para compreendermos melhor o presente e termos uma visão do futuro. E eu, estudioso da história, ainda acredito nisso, mas as coisas estão se tornando cada vez mais difíceis, o futuro nos parece incerto. O que será amanhã? João Sérgio, na voz de Simone deixa nas mãos de Deus: Como será amanhã? / Responda quem puder / O que irá me acontecer? / O meu destino será Como Deus quiser / Como será? ...

Uma amiga ideologicamente ligada à direita não escondeu a sua admiração por ler minhas postagens defendendo que a UFGD deveria conceder o título de Doutor Honoris Causa para Lula. Ela odeia Lula, assim com milhares de outros brasileiros. E quem plantou esse ódio em sua mente? Disse-lhe que não odiava Bolsonaro, o seu candidato, mas que temia as consequências de uma eventual eleição dele.

Lembrei-me da disputa entre Lula e Collor em 1989. Nos carros que transitavam pelas ruas de Dourados só se via COLLOR, com letras coloridas. Deu no que deu, mas não me parece ter servido de lição, já vislumbro os carros desfilando com adesivos de Bolsonaro. Collor não pregava o ódio assim como Bolsonaro, mas era também uma ilusão criada pela Globo.

Ora, a Globo, e não é que um jovem me afirmou que a Globo é de esquerda. Apenas sorri. Será ignorância ou safadeza? Justamente a Globo, que planta o ódio pelo Brasil afora?

Não adianta me dizerem que as redes sociais trazem um equilíbrio para a divulgação das coisas que acontecem. A grande mídia tem a hegemonia da narrativa, por mais que as mídias alternativas se esforcem, não conseguem superá-la. Um exemplo: Lula levou oitenta testemunhas em seu favor diante de Moro, mas o que passou pela grande mídia foi que Palocci estraçalhou com Lula e com a sua candidatura.

É um tal de prender sem provas, condenar por convicção, torturar psicologicamente que pode até levar ao suicídio, como no caso do Reitor da UFSC. Preso, humilhado, impedido de entrar em sua universidade matou-se. A grande mídia simplesmente escondeu o seu cadáver.

Mas não são apenas cadáveres que são escondidos. A verdade está se tornando algo sem a menor importância, escondida às vezes, ignorada em outras. E de repente, não mais que de repente, observa-se uma mudança no discurso. Enquanto interessava à plutocracia brasileira e aos movimentos do naipe do MBL, o discurso era político, culminando com o “fora Dilma”. Agora, com o golpe de 2016 escancarado, quando está claro que os novos donos do poder se constituem em uma cleptocracia (estado governado por ladrões), o discurso passa a ser moralista. A arte torna-se a vilã.

Essas coisas desencontradas, essa deduragem do salve-se quem puder, esse descontrole governamental, a parcialidade da mídia, que se percebe também em certos juízes, em parte do Ministério Público e em parcela da polícia, alimentam ódio.

No Brasil, como diria a minha avó, estão acontecendo coisas do arco da velha. Não é que o Supremo determinou que a Lei pode retroagir? Não bastavam as decisões monocráticas, os pedidos de vistas oportunistas, as incertezas que tem gerado com as suas decisões recentes?

Não são somente os terroristas, portanto, que alimentam o ódio. Existem formas mais sutis do que a espingarda. De qualquer forma, acho melhor não entrarmos nesse jogo do ódio, porque ao contrário do amor, ele poderá nos destruir.

Publicado em “O Progresso” em 07/10/2017

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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