Novo deus, novo Noé, nova esperança

Pairando no ar em forma de um smartphone flamejante, um novo deus apareceu para um novo Noé, e com voz firme, ainda mais retumbante que a do falecido radialista de Dourados, Cloe Fazano, anunciou que lhe daria superpoderes.

O novo Noé apavorou-se. Um smartphone falante, tudo bem, mas levitando era coisa que jamais vira, não obstante existirem na atualidade meios que possibilitam a divulgação instantânea de coisas incríveis. Perplexo, Noé, parecendo-se com uma estátua, não imaginava que estava à frente de um novo deus, o que só veio a compreender muito tempo depois. De qualquer forma continuou ouvindo.

— Com os superpoderes que lhe estou concedendo, você escavará um buraco enorme, em declive, até atingir uma caverna subterrânea por onde passa um rio com águas tão límpidas quanto as que se encontram em Bonito, no Mato Grosso do Sul. Cavado o bunker, você o revestirá com concreto armado com a espessura de um metro. E antes que me pergunte, toda a refrigeração e iluminação desse bunker será fornecida pela caverna que mencionei.

O novo Noé, tremendo como uma varinha verde, tentou falar, mas balbuciou apenas alguns ruídos ininteligíveis, logo interrompido pela voz do novo deus que ditava outras ordens.

— Para esse grande bunker você levará sementes de todas as plantas e um casal de cada espécie, exceto dos peixes que, menos tubarões e piranhas, já estão salvaguardados no rio ao fim do bunker. No caso das aves, não levará urubus, abutres, águias e gaviões; em relação aos bichos, deixará de fora serpentes, leões, onças, leopardos, lobos e outros carnívoros. Isso para não darem mal exemplo ao bicho homem, de cuja espécie levará um casal de negros, outro de brancos, um de índios e um de asiáticos. Não se esqueça de levar também casais do grupo LGBT. Você ensinará a todos uma nova Língua, uma nova Ética, uma nova forma de convivência.

O novo Noé começou a perceber que aquela granada flamejante não estava com brincadeiras e conseguiu reunir forças para perguntar.

— Para que haverei de realizar tão hercúleo trabalho?

— Eu, o novo deus, que tudo sabe do passado e do futuro, lhe direi: em breve, assim que a sua missão estiver concluída, haverá uma guerra demolidora entre os povos. Tudo começara com ataques cibernéticos capazes de paralisar as atividades humanas, seja o colapso da distribuição de eletricidade, seja o comércio, a indústria, os bancos e, inclusive, as ações burocráticas dos governos. Então os governantes dos países que detém tecnologia nuclear se enfurecerão, se acusarão mutuamente e desencadearão a guerra atômica que porá fim a todos os seres vivos que andem, voem, nadem ou rastejam.

— Ó smartphone flamejante, se você é um novo deus, por que não evita isso tudo?

— Porque para o que não tem remédio, remediado está. Você, sua esposa e os seres escolhidos para ficarem no bunker estarão protegidos. Os bons ares que enviarei pela gruta os protegerá ainda mais que a camada de concreto. Tudo será muito rápido e a morte, tão temida, sequer será sentida.

— Mas senhor (o novo Noé já começara a tratar aquela granada como um novo deus), como será tudo rápido se sabemos que a radiação das bombas tem efeito duradouro?

— Para que não mais duvide, lhe direi. O calor será tão intenso que os mares e oceanos ferverão e suas águas, sugadas por furacões enormes, lavarão toda imundície da Terra, de Norte a Sul e de Leste a Oeste. Essa “lava a jato” verdadeira dissipará inclusive a radioatividade. À medida em que as águas forem esfriando, os furacões se extinguirão e os mares e oceanos voltarão a se encher de água purificada e a Terra toda verdejará.

Por fim, o novo deus, em forma de smartphone flamejante, tendo mil outras atribuições pelo Universo afora, concluiu:

— Passados três dias completos, na manhã do quarto dia, você, novo Noé, poderá abrir a porta do bunker e a sua turma repovoará a Terra.

— Perdoe-me, novo deus em forma de smartphone flamejante, mas haveremos de começar do nada, sem eira ou beira?

— Claro que não, ó incrédulo novo Noé. Não deixarei desperdiçada toda a tecnologia criada até então. Vocês não partirão do nada. E tem ainda mais, deixarei no coração de todos os humanos, sobreviventes do bunker, algo que jamais deverá ser perdido novamente, deixarei em vocês o amor e a esperança na construção de um mundo mais justo e fraterno.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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