Simbolismo de uma ponte de arcos

“Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.

- Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? – Pergunta Kublai Khan.

- A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra – responde Marco -, mas pela curva do arco que estas formam.

Kublai Khan permanece em silencio, refletindo. Depois acrescenta:

- Por que falar das pedras? Só o arco me interessa.

Polo responde.

- Sem pedras o arco não existe”.

Esse diálogo entre as duas personagens de Ítalo Calvino para compor o seu magistral livro “Cidades Invisíveis”, pode despertar variadas maneiras de o interpretarem. O leitor desatento, provavelmente, deixara de perceber o seu valor simbólico. O historiador poderá escrever sobre a evolução na construção de pontes. Um pintor será tentado a reproduzi-la com os seus pincéis. O fotógrafo não deixara de eternizá-la com um clique. O engenheiro e o arquiteto observarão, não só a beleza, mas a extensão do vão entre uma e outra coluna e comparara as condições de trabalho dos tempos Antigos com os Contemporâneos, podendo concluir que atualmente os materiais e os conhecimentos técnicos disponíveis permitem a construção mais rápida e com vãos bem maiores do que os de outrora.

 Com certeza a intenção de Ítalo Calvino foi instigar a imaginação dos leitores, levando-os a produzir várias interpretações, além de constatarem que é preciso construir pontes para as cidades (e para o país). As pontes não  serviriam somente para que usuários pudessem transpor rios ou desfiladeiros.  

As “Cidades Invisíveis” é uma obra repleta de símbolos, assim, no diálogo acima, não poderia faltar também o simbólico. Sem desprezar a utilidade das pontes reais, penso que o autor desejou dizer que necessitamos em nossas cidades, em nosso país, muitas outras pontes, edificadas com “pedras” sólidas, para constituírem um arco que proporcione segurança, estabilidade e soberania.

Nos países democráticos contemporâneos a organização administrativa tem três “pedras” principais que constituem um sólido arco: são representadas pelos três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário. Cada qual com a sua independência, cada um deles com as suas prerrogativas, mas todos visando dar segurança e estabilidade à nação. Subordinadas a essas três, outras “pedras” contribuem na formação desse arco, a exemplo das várias corporações policiais, do exército, da marinha e da aeronáutica.

“Pedras” sólidas também podem ser consideradas, os códigos de leis garantindo direitos e estabelecendo deveres para os cidadãos. São as constituições, as leis, decretos e normas diversas que formam o arco que garante as prerrogativas legais para a governança dos países.

Para que os povos tenham acesso às informações, geradas na ponte dos poderes constituídos, não bastam os meios de comunicação privados, então foram criadas “pedras” midiáticas que formam uma ponte transmissora das atividades desses poderes. TVs da Câmara, Senado, Justiça e do Executivo disponibilizam aos interessados aquilo que fazem.

Outros arcos de “pedras”, no entanto, são necessários para que as nações se mantenham soberanas. As nações precisam de “pontes” firmes para protegerem-se, por exemplo, das corporações multinacionais, sejam elas financeiras, industriais ou que atuam na prestação de serviços. Leis, exércitos e órgãos reguladores podem frear com certa firmeza a ganância dessas empresas, mas os governos soberanos há muito se preveniram com outras ferramentas. Uma delas são os bancos públicos, a exemplo, no Brasil, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do Banco Nacional de Desenvolvimento Social. Essas três gigantescas e sólidas “pedras” garantem a realização de projetos sociais e de desenvolvimento industrial, agrícola e social que não seriam levados à frente por intermédio de bancos privados.

Os governos também necessitavam de “pedras” sólidas para construírem o arco que lhes possibilite manter a economia estável. São as empresas estatais que garantem soberania em vários campos da economia, a exemplo das que produzem petróleo, minérios e energia.

Embora seja o arco o que sustenta a ponte, não se pode retirar dele nenhuma pedra. Quanto às pontes para o futuro, são extremamente necessárias, só não podem ser transformadas em pinguelas feitas com madeira apodrecida. 

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