Francesco, p�o com banana

Até pouco tempo a tradição oral prestava-se muito mais para a educação de novas gerações do que a escola e os livros. Meus ascendentes italianos não eram diferentes de outros povos e usavam fábulas e ditados populares para orientar as gerações mais novas. Um mentiroso é um ladrão, pregavam para evitar descaminhos. Ensinavam também que para quem rouba tanto faz um milhão como um tostão, é ladrão. Mentira tem perna curta, e ia por aí afora. Além dos ditados, tinham as fábulas e, algumas vezes, relatos de experiências, nem sempre verdadeiras, mas que eram exemplares.

Dizia-se, por exemplo, que o conde Francisco Matarazzo constituiu o imenso império industrial da família porque ele era muito econômico, passava a pão com banana para poder poupar. Os mais jovens acreditavam nessa história e não só se conformavam com o que tinham, como até mesmo louvavam o arroz, feijão, ovo frito ou batido e queijo frito. Sem contar o franguinho caipira, a carne do porco conservada na banha e até mesmo a leitoa assada nos dias festivos, como no Natal e a passagem de ano. Não se estranhava a contenção de despesas, mas o enriquecimento não era almejado se para obtê-lo fosse necessário passar a pão e banana. Contava o meu pai que uma caixa de fósforos durava tanto quanto o número de palitos que continha, ou seja, cerca de quarenta a quarenta e cinco dias, pois o patriarca, logo pela manhã acendia um fogo dentro do rancho no meio do cafezal e, quem quisesse acender seus cigarros de palha, fossem filhos, netos, irmãos ou agregados, tinham que recorrer a um tição em brasa.

Em relação ao conde Francisco Matarazzo, contava-se também, não por sugerir economia, mas como uma crítica aos políticos corruptos daquela época, que quando ele participava dos eventos da sociedade paulistana todos criticavam os seus mordomos e ele jamais censurava o seu. Verdade que o próprio conde ficara admirado por seus gastos com a sua casa serem diminutos em proporção à casa de outros industriais da época, mas, esperto que era, certa vez colocou o seu mordomo contra a parede. Quis saber qual a mágica que fazia para ter as despesas da casa muito menores do que a dos outros magnatas. Depois de prévio acordo de que não haveria nenhuma retaliação caso o mordomo contasse a sua proeza ele confessou: “conde, as despesas de sua casa são reduzidas porque eu não permito que ninguém roube nada, o único que tem esse direito sou eu”.

Ao que tudo indica o mundo capitalista contemporâneo estaria necessitado de governantes que agissem ao menos como o mordomo do conde Francisco, roubassem sozinhos, sem formar quadrilhas que assaltam o patrimônio público, seria uma espécie do “rouba mas faz”. Condenável, mas demonstrativo de que alguns governantes mundo afora não são capazes sequer de controlar os seus auxiliares diretos, que dirá governar uma nação?

Para muitos a corrupção reduz-se a apropriação de bens financeiros por governantes em troca de benefícios às empreiteiras de obras públicas. Nesse sentido a corrupção não atingiria o mundo privado. Mas não é bem assim, a corrupção, alastrou-se de tal forma, tornou-se tão corriqueira, que muitos entendem que alguns atos condenáveis são absolutamente normais, como, por exemplo safar-se de uma multa com uma “gorjeta”.

Pesquisa realizada pela UFMG e Vox Populi, publicado no UOL em 4/11/2012, revela dez casos de corrupção que, via de regra, são aceitos pela sociedade. Vejamos se não nos enquadramos em pelo menos um desses itens: 1) não dar nota fiscal, 2) não declarar Imposto de Renda, 3) tentar subornar o guarda para evitar multas, 4) falsificar carteirinha de estudante, 5) dar/aceitar troco errado, 6) roubar TV a cabo, 7) furar fila, 8) comprar produtos falsificados, 9) no trabalho bater ponto para o colega, 10) falsificar assinatura. E ainda daria para acrescentar outros itens, como a taxação de juros abusivos, a contratação de trabalhadores sem o devido registro, a abertura de escolas e hospitais como se fossem instituições beneméritas, sem o serem de fato, utilizar antenas piratas, etc.

Mas, como o exemplo vem do alto, vamos reformar nossas instituições, com eleições diretas e constituinte e, na sequência, reformar a nós mesmos, porém sem pão e banana ou mordomo que roube sozinho. 

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
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