Corrupção: uma realidade brasileira

Corrupção: uma realidade brasileira

Semana de limpeza no que chamamos carinhosamente em casa de “quartinho de estudos”. Removo a poeirinha produzida por nossa abençoada terra vermelha (latossolo vermelho), limpo livros, estantes e gavetas e eis que encontro três fichas amareladas pelo tempo, com data de 31 de agosto de 1992. Trata-se do elenco de itens que abordei em palestra proferida em uma quadra de esportes completamente lotada na cidade de Angélica MS. Digo quadra lotada sem vaidade, mas para acentuar o interesse em torno do assunto, ainda inédito no Brasil. Tema: “A conjuntura política brasileira às vésperas do pedido de impeachment” do ex-presidente Collor de Mello.

Disse àquela ocasião: “a denúncia do irmão (Pedro Collor de Mello) foi o estopim, mas no Brasil a corrupção havia extrapolado os limites tolerados”. Limites, porque já se dizia que tanto no âmbito municipal, quanto no estadual e federal, os 10% sobre as obras realizadas eram rotineiras.

Mais adiante, na referida palestra, afirmo que “o povo brasileiro está a exigir mudanças profundas na condução da política brasileira. Temos notado que a ‘classe política’, entretanto, é conservadora. Temos alcançado apenas reformas e nos contentado”.

Alguma mudança em relação aos tempos atuais, quando um governo ilegítimo coloca o país à beira do abismo?  Em 6 de outubro de 2016 o jornal El País do México, noticiou que o “Brasil ocupa o quarto lugar no índice mundial de corrupção. Fica apenas atrás do Chade, da Bolívia e da Venezuela”.

Propaga-se que nunca houve corrupção como as de nossos dias, mas isso não passa de “falácia mole para acalentar bovino”, como consta em petição antiga. (Conversa mole para boi dormir). A corrupção brasileira é crônica. O que nunca houve, na realidade, foi uma tamanha crise econômico-financeira. Mesmo quando D. João voltou para Portugal levando as burras (cofres) do Brasil, houve tamanho desastre. Nem a grande depressão de 1929/30, provocada pela quebra da bolsa de Nova York, levando os cafeicultores brasileiros à falência, muitos deles ao extremo do suicídio, foi tão ampla.

            Pouco conheço sobre a história da corrupção, no entanto, quando menino, já em busca da adolescência, acompanhava as calorosas disputas políticas, principalmente entre partidários de Ademar de Barros e Jânio Quadros. Com certeza meus avós e tios maternos eram janistas. Dizia-se que do lado paterno votava-se em Ademar. Só sei que a população da zona rural predominava e que, quando das eleições, se vencesse Jânio os seus eleitores soltavam roxões defronte as porteiras dos sitiantes ademaristas e vice-versa.

            Corria àquela época uma piada, se isso for piada, sobre essas duas personagens. No Céu havia dois relógios, um para medir o nível de corrupção janista e outro para o ademarista. Quanto maior fosse a velocidade dos ponteiros maior a corrupção praticada. Um anjo que passava pelo local verificou que no relógio de Jânio os ponteiros giravam velozmente e admirou-se por não ver os ponteiros do relógio de Ademar girando. Ademar deve ser honesto, os ponteiros de seu relógio nem giram, disse o anjo. Na resposta, dada por outro anjo, foi esclarecido que os ponteiros giravam com tamanha velocidade que nem dava para vê-los. Essa história pode ser invertida, ambos eram corruptos. O enterro de Jânio foi pago pela Camargo Correa, sua filha Tutu, eleita deputada federal, afirmou certa feita que o pai tinha conta na Suíça. Sobre Ademar não tenho informações mais precisas, mas eram da mesma laia, inclusive alcoólatras. Jânio foi um histrião, um ator da trágica comédia que conduziu o Brasil à ditadura militar. Ademar, ex-governador de São Paulo, frequentador do cassino então existente nas Termas de Ibirá, bebia muito, mas talvez nem tanto quanto Jânio, que ficou com a fama.

            Quanto a diferença existente entre os tempos do Brasil, colônia portuguesa e os atuais diz respeito apenas e simplesmente à amplitude. Nos tempos coloniais, exceto o cultivo da cana-de-açúcar, a agricultura de subsistência minimizava a pobreza e a fome. Hoje nosso país tem 14 milhões de desempregados, a “classe média” recua para a “classe C”. Em Dourados muitos índios deixam a reserva para vender um pacotinho de mandioca e, pior, para pedir o pão velho eternizado por Emmanuel Marinho no poema “Genocídio”: “tem pão velho/ não criança...”

                                                                                                                                                                    Publicada em “O Progresso” em 11/03/2016

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