Subliminarmente afetados

Nos anos 60 assisti a um filme nacional em que os vilões, desejando dominar o Mundo, instalaram uma torre no alto de um morro e nela implantaram um sistema que transmitia por ondas de rádio mensagens que, embora inaudíveis, eram captadas pelo cérebro humano, fazendo com que as pessoas passassem a acreditar e a obedecer às determinações contidas naquelas mensagens.

Claro que a turma do bem descobriu tudo e acabou com aquela tentativa. Desconheço se existe alguma experiência que poderia levar à realidade o conteúdo daquele filme que me fez apreender o que era a propaganda subliminar. Mas, em todo caso, se não por ondas inaudíveis, a verdade é que somos bombardeados todos os dias pela propaganda subliminar.

Quando Fernando Henrique Cardoso promoveu a reforma da previdência, governo e a mídia que apoiava as suas reformas neoliberais, foram utilizadas três frentes para que o povo aceitasse a reforma ou, ao menos, se conformasse com ela: a propaganda governamental direta, a propaganda explicita feita pelos telejornais e pelos comentaristas e a propaganda subliminar. Uma delas aconteceu em uma novela da Globo em que um senhor com mais ou menos sessenta anos chegava em casa no final da tarde reclamando com a família de que havia andado o dia todo e não conseguido emprego. Lamentava-se dizendo que queria trabalhar, que ainda era novo, etecetera e tal. Pura propaganda subliminar repetida não somente nesse episódio, mas à exaustão.

Agora pretende-se uma reforma da previdência ainda mais ampla que a realizada no governo de FHC. Não importa que o operariado brasileiro tenha o salário ainda mais baixo do que o dos chineses, como divulgou a Folha de São Paulo nessa semana, o que se almeja é aumentar o tempo em que o trabalhador permanece na ativa, impedindo o ingresso dos jovens no mercado. Cria-se assim um verdadeiro exército de reserva, pronto a aceitar condições precárias de trabalho, com salários baixos e a extinção das garantias que a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) oferece atualmente aos trabalhadores e também as contidas nos Estatutos do funcionalismo público. 

Essa reforma está na contramão da história, porque na Europa a tendência é pela diminuição da carga horária semanal, sendo que, na Holanda, por exemplo, trabalha-se entre 29 a 35 horas semanais. Resultado, a produção aumentou e os trabalhadores, muito mais felizes, não precisam tanto de licenças médicas e nem trabalham estressados.

Mas estamos no Brasil, país onde ocorreu um golpe parlamentar e midiático (com participação de parte do judiciário), para tirar do poder um programa de governo de bem-estar social para implantar o já ultrapassado neoliberalismo delineado no chamado Consenso de Washington e implantado por Margareth Thatcher, na Inglaterra, Pinochet no Chile, FHC no Brasil, só para citar alguns exemplos. 

Significa dizer que a ponte para o futuro já não é sequer uma pinguela, mas uma trilha de volta a um passado que pouca coisa deixou além da mudança na moeda brasileira, que se transformou em real.

E, não diferentemente da política econômica, que retrocede aos tempos de FHC, também a propaganda é mais que merchandising, é subliminal. Um amigo, para animar minha sogra, que está para completar 86 anos, contou-lhe sobre uma reportagem que assistiu recentemente: um senhor cearense, com 100 anos, trabalhando com desenvoltura e alegria, pai de 36 filhos, e ainda dizendo que se não fosse casado casaria com a repórter à qual desafiou para uma carreira. Quantos brasileiros atingem 100 anos?

Embora os vazamentos seletivos dos delatores continuem, nem a poderosa Globo consegue jogar tudinho debaixo do seu tapete mágico, que voa por cima de tudo e todos, para proteger a política neoliberal. Na terceira-feira de carnaval rendeu-se às manifestações populares do “fora Temer”, gritado em todo nosso Brasil. Repórteres corriam , em vão, entre os blocos carnavalescos para evitar o grito ao vivo. Globo News e o próprio Jornal Nacional, tiveram que noticiar aquilo que tentaram esconder. Abandonaram Temer. Era de se esperar, eles querem é um tucanato.

A Folha também sucumbiu, mas a caça a Lula continua, embora as testemunhas, tanto de acusação quanto de defesa (inclusive FHC), o tenham inocentado diante de Moro. A esperança vive.  

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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